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Postado às 18h30 | 02 Jul 2017 | Benedito Ferreira Neto Proposta de criminalização do funk já está em tramitação no Congresso

Crédito da foto: Foto cedida (Web)

Não há o que negar: o advento da internet deu ainda mais expressividade à opinião pública, mas perdeu-se nesse percurso, quando também deu voz a uma legião de pessoas despreparadas, que antes falavam apenas em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade, como bem disse certa vez o filósofo italiano Umberto Eco.

É o caso da sugestão legislativa nº 17/2017, do empresário brasileiro Marcelo Alonso, que apesar de absurda e inconstitucional, já tem mais de 27 mil apoiadores e está em tramitação no congresso. A perseguição do empresário pelo gênero musical já rendeu até a página "Funk é um lixo" no Facebook, que atualmente conta com mais de 238mil curtidas.

Criticado por muitos famosos, o projeto de lei já elucidava suas incoerências argumentativas desde o seu princípio, no ano passado. Para o empresário, o funk faz apologia ao sexo e ao consumo de drogas, comete um crime de saúde pública e uma "falsa cultura", o que do ponto de vista acadêmico, já é um absurdo. 

Não é por ter se originado nas periferias que os movimentos perdem a legitimidade cultural. Deve ser lembrado que cultura não é uma propriedade de poderes aquisitivos mais altos, nem tampouco se resume a conhecimento, quantidade de páginas folheadas ou nível de instrução. A cultura tem um viés muito mais abrangente do que o nível educacional contemporâneo. Deve-se pensar no caso da cultura indígena, que naturalmente não é letrada para escrever livros nem dotada de arranha-céus luxuosos, mas mesmo assim possui sua própria racionalidade cultural.

O funk não é, portanto, um gênero músical desprovido de cultura ou uma "cultura falsa". Ele tem um monólogo próprio com sua realidade e, embora muitos hits "proibidões" façam, de fato, apologia ao sexo infantil e ao tráfico de drogas, não se devem haver generalizações. Boa parte da nova e da velha geração tem quebrado esse tabu, mostrando o potencial da música no combate e na denúncia às assimetrias sociais vinvenciadas nas áreas marginalizadas do país.

O projeto ainda não possui data para começar a ser discutido, mas vem causando polêmicas discussões na rede. A expectativa sobre a sugestão legislativa, ainda bem, é de ser recusada, pois fere o direito à liberdade de expressão, assegurado na Constgituição. Além disso, há de se convir, o país carece de discussões bem mais urgentes em 2017. 

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