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Postado às 10h00 | 01 Jan 2017 | Prefeita Rosalba Ciarlini: 'Agora será o maior desafio da minha vida pública'

Neste domingo, 1.º de janeiro de 2017, Rosalba Ciarlini (PP) será empossada pela quarta vez no cargo de prefeita de Mossoró. O seu sexto mandato eletivo. Ela já foi senadora da República (2007/2010) e governadora do Rio Grande do Norte (2011/2014). Seis mandatos chancelados pelo voto popular. O primeiro, em 1988, conquistado nas urnas quando poucos acreditavam, pois o favorito da disputa era o seu adversário, ex-deputado federal Laíre Rosado. O segundo, seis anos depois, em 1996, voltando pelos braços dos mossoroenses. Naquele ano, a cidade estava arrasada e, como havia feito uma gestão estruturante, o eleitor pediu o seu retorno. Rosalba foi eleita com mais de 33 mil votos de maioria sobre a segunda colocada, a ex-deputada federal e atual vereadora eleita Sandra Rosado (PSB). O governo da reconstrução credenciou Rosalba a renovar o mandato em 2000, derrotando nas urnas a ex-prefeita Fafá Rosado (PMDB). A terceira gestão na Prefeitura de Mossoró foi, sem dúvida, a maior de toda a história. Rosalba transformou a cidade, colocando o seu DNA no acelerado processo de desenvolvimento. O sucesso administrativo na segunda maior cidade do Rio Grande do Norte elevou a carreira política de Rosalba ao plano estadual. Em 2006, dois anos após ter elegido Fafá à sucessão municipal, ela foi eleita a primeira mulher potiguar senadora da República. Superou nas urnas o senador e candidato à reeleição Fernando Freire, que tinha o apoio do presidente Lula. A quinta vitória consecutiva veio quatro anos depois, em 2010, com a eleição para governar o Estado do Rio Grande do Norte, superando o governador Iberê Ferreira de Souza ainda no primeiro turno. Rosalba pegou o Rio Grande do Norte quebrado e enfrentou dificuldades, de ordem administrativa e política. Por consequência, não disputou a reeleição, até porque o presidente do seu partido na época, o DEM, senador José Agripino, não lhe permitiu a legenda. Quando alguns entendiam e comentavam que a carreira política de Rosalba havia chegado ao fim, ela volta por cima, conquistando a sua sexta vitória. Foi eleita para governar Mossoró pela quarta vez, numa campanha contra tudo e todos, porém com respaldo do eleitor. Agora, Rosalba tem pela frente, segundo ela afirma, o maior desafio de sua vida pública. Receberá a Prefeitura quebrada, com salários atrasados, dívidas que sugerem um “rombo” de mais de 100 milhões de reais, serviços paralisados e o caos em todos os setores. No “Cafezinho com César Santos”, gravado na última terça-feira, 26, a prefeita Rosalba Ciarlini fala do seu novo desafio, diz que é o maior de toda a sua carreira política, mas garante que está preparada para tirar Mossoró do “buraco”. A senhora teve grande desafio na segunda administração e a situação era muito delicada. Depois, teve um segundo desafio, que foi com o Governo do Estado, cuja situação também era muito delicada. A senhora considera que agora o desafio é maior? Considero. Como já passei por momentos assim no segundo mandato, que foi o Governo da Reconstrução e encontramos uma Prefeitura com uma série de dívidas e problemas, mas não com uma desorganização e má administração como a que vamos encontrar agora. Além da crise, que todo mundo sabe, tivemos uma administração que foi um verdadeiro descalabro. Uma administração que realmente esqueceu o cidadão, não teve prioridade com aquilo que é mais importante para o cidadão e tudo isso fez que a cidade passasse por esse momento tão grave e difícil de enfrentar. Mas, vamos enfrentar com ideias inovadoras, criatividade, ao mesmo tempo em que vamos arrumando as finanças... Mas existem questões que não podem esperar. A solução não é fazer grandes obras, e isso não está previsto no meu planejamento agora neste primeiro ano, e sim retomar o serviço básico. A cidade tem que ser limpa, bem cuidada e isso é obrigação. A UBS tem que ter o mínimo necessário. É inaceitável você chegar à Unidade Básica e não ser atendido porque falta uma seringa. E não tem uma pessoa para aplicar. Se isso acontece, isso é uma prova total de uma administração que não tem critério.   A SENHORA tem informações precisas sobre o volume dessas dificuldades? AINDA não. Infelizmente, não temos hoje, véspera de começar o governo, a dimensão das dívidas. Na transição, as informações que precisávamos e que nos dariam essa condição, de ter a clareza da situação calamitosa em que está o nosso Município para podermos até planejar, isso não nos foi repassado. A questão financeira não nos foi passada. Você precisa saber exatamente... Vou dar um exemplo bem simples: é preciso saber quantos carros estão alocados para o Município, a quem estão alocados e o custo disso. Nós não sabemos. Vou ter que fazer medidas saneadoras, responsáveis, todas que forem necessárias para que a gente possa caminhar, seguir em frente, dando soluções para Mossoró. Estimamos, pelo que conseguimos coletar de internet, que só as dívidas que existem com o funcionalismo público... Por exemplo, a folha de novembro não terminou de ser paga, mas tem informação de se ter pendências ainda de outubro, de algumas questões que funcionários têm direito e não foram pagas. Tem a questão dos terceirizados e também não tenho ideia do tamanho dessa dívida. Mas, o que se pega de informação, aqui e ali, estamos estimando que não é menos de R$ 150 milhões. Isso significa 25% do orçamento do próximo ano.   PROVAVELMENTE, a senhora vai assumir a Prefeitura com as contas bloqueadas. Há esse risco? BOM, se isso acontecer, vamos ter que ir em busca de um caminho para desbloquear, primando aquilo que realmente é mais importante. Houve bloqueio em função de quê? Do não pagamento. De medidas judiciais, pelo não pagamento, principalmente, ao funcionalismo, que não foi prioridade.   DIANTE desse volume de problemas e da falta de transparência, a senhora julga necessário uma auditoria nas contas do Município? NÓS vamos fazer o relatório da transição com base em todas as recomendações que o Tribunal (de Contas do Estado) nos repassou e, dentro desse relatório, com certeza haverá várias questões que precisarão ser auditadas. Vamos solicitar aos órgãos de fiscalização oficiais, como o Tribunal de Contas. Vamos apresentar a real situação que nós vamos encontrar. Isso são medidas que temos que tomar e quero repetir: com a certeza de que, por maior que seja o desafio, trabalho e obstáculo, nós estamos preparados... Até porque temos experiência de outras administrações, nas quais passei dificuldades e isso vai ajudar muito para que possamos superar esse desafio maior.   A SENHORA entende que se torna irreversível uma reforma administrativa já no primeiro momento? VAMOS ter que fazer essa reforma, mas isso só será feito depois de assumirmos, de fazermos uma análise em cada área, de onde será necessário cortar, porque temos que reduzir os custos, mas a máquina tem que ser eficiente com menos. É preciso recurso para cuidar do cidadão.   NA CAMPANHA recente, da qual a senhora foi vitoriosa, um programa de governo foi apresentado. Dentro desse programa, o que é possível executar a partir do primeiro momento? OLHE, o programa de governo era praticamente algumas ideias inovadoras para dar melhor andamento em algumas áreas, como a mobilidade (urbana) e a saúde. Mas, no primeiro momento, eu coloquei que seria retomar e estabelecer o equilíbrio financeiro com a retomada das ações básicas essenciais, as quais o cidadão tem direito: saúde, educação, na área social. Questões essas que são direitos que estão sendo negados: o remédio no posto de saúde, por exemplo. Claro que se não tiver uma assistência básica eficiente... O programa Saúde da Família vai ser valorizado, vamos chamar todos para que nos deem as mãos. Desde o agente de saúde ao médico. Entendemos que se a unidade de saúde funcionar, tiver atendimento naquela área, você vai reduzir muito os custos com tratamentos de saúde. Estamos pensando em mutirões nas áreas que têm maior demanda reprimida, e isso já está sendo estudado. Estamos conversando e vou buscar apoio do Ministério (da Saúde). Vou bater à porta do Governo do Estado. Para onde eu puder ter apoio nessas ações, todas são importante, mas saúde é vida e a gente tem que correr atrás.   A SENHORA falou em saúde e temos uma situação hoje em Mossoró, segundo a qual, transfere-se, em média, R$ 2 milhões para a Apamim. Em um passado recente, transferia-se R$ 400 mil. Isso sugere que esse dinheiro está saindo da saúde básica, das UBSs, que não tem dado bom tratamento a quem procura. É preciso rever isso e tratar melhor o dinheiro da saúde? EM PRIMEIRO lugar, a Apamim está sob intervenção. Queremos conhecer, e detalhadamente, como os serviços estão sendo prestados, os resultados, e não podemos, de certa forma, atender só uma unidade, um hospital, em detrimento de dezenas de unidades básicas. Acredito que, funcionando bem a assistência básica, também a demanda aos hospitais, UPAs será reduzida. Mas essa questão do hospital precisa ser reavaliada. E vai ter que ser por uma equipe, que vai analisar como utilizar os recursos de maneira mais transparente e que dê mais resolutividade. NA SEGUNDA administração e na terceira, valorizou-se muito a cultura da cidade. E nesse período, criou-se a Secretaria Municipal de Cultura, que antes era Gerência de Cultura. A secretaria deixou de existir e hoje está na estrutura da Educação. A senhora vai recriar a secretaria? É UM compromisso que tenho com os artistas da cidade. Você pode perguntar: mas vai recriar para aumentar custos? Não. Vamos recriar dentro de um critério de redução de cargos comissionados. Temos outros pontos que vão resultar em economia. A Secretaria de Cultura é importante porque não é apenas, e é importante, pois é fundamental cuidar da cultura, que é a alma do povo, é também porque tínhamos como meta (na Cultura) eventos fundamentais para impulsionar o turismo na cidade, seja de eventos... Todo tipo de atrativo para Mossoró, que é uma cidade polo, que tem no comércio uma das atividades que mais emprega, que gera renda e receita para o Município e que nós temos condições de, divulgando Mossoró, de certa forma atrair pessoas que são de outros municípios para que não possam apenas vir aos eventos, e sim gerar emprego e renda através do aquecimento do comércio.   A SENHORA pretende instituir calendário de eventos? O CALENDÁRIO de eventos é fundamental para a cidade. Não só cultural, porque você pode ter o evento educacional, congressos... Atrair mais feiras de negócios, fazer tudo isso, e vamos em busca. Temos que movimentar a cidade para que ela possa, também, continuar com essa característica própria de cidade polo, seja na área de comércio, saúde, educação, pois isso traz dividendos para a cidade.   DENTRO desse contexto, temos um corredor cultural que está sucateado e invadido pela iniciativa privada... E PRECISA ser bem cuidado, porque é do povo de Mossoró. COMO a senhora pretende cuidar desse corredor? TENHO compromisso com minha cidade, e não é por ser prefeita. É por ser cidadã. E falo aqui pelos cidadãos, que ficam indignados quando algo que é seu, que foi cultuado para ser um espaço destinado à cultura, ao esporte e ao lazer no coração da cidade, não é respeitado.   RECENTEMENTE, houve uma política de desvalorização de pessoas que vinham de fora, especificamente os taxistas. Mossoró recebe cerca de 1 milhão de pessoas que buscam Mossoró para diversos fins. Houve choque entre a Prefeitura e taxistas e a evasão de consumidores foi grande... NÓS vamos encontrar o caminho para fazer o inverso: valorizar as pessoas que chegam de fora, porque essas pessoas (taxistas) trazem consumidores para a nossa terra. E isso era algo que eu ouvia no comércio: além de já estar se passando por uma crise de retração, ainda houve esse grande prejuízo em Mossoró. E as pessoas que vêm de fora começaram a ser cortejadas por outros municípios. Não recebemos apenas do Oeste. Recebemos de estados vizinhos, do Ceará, Paraíba... Então, é preciso que a gente lute para retomar isso.   A SENHORA vai precisar do apoio do Legislativo para promover essas mudanças, principalmente quando se trata da reforma administrativa, que precisa passar pela Câmara Municipal. No palanque da senhora foram eleitos sete vereadores. Na Câmara existem 21. Como a sua administração vai se relacionar para viabilizar projetos que são de interesse da coletividade? NÓS vamos manter diálogo permanente, respeitando a independência dos poderes e, ao mesmo tempo, eles (vereadores), com o espírito público que têm, porque foram eleitos para ajudar o povo no momento em que Mossoró clamava por soluções e pede que Mossoró retome o caminho seguro, é necessário que ajudem e participem. Tudo isso será dialogado, de forma transparente, com a população tomando conhecimento para que possa ter a união de esforços. Quando convido à união de esforços, começa pelo Legislativo e os poderes constituídos.   MAS, prefeita, a oposição tem maioria, e não é comum a oposição se unir ao governo, mesmo em situação como esta vivida por Mossoró. Como a senhora pretende conduzir esse processo? VAMOS convocar aquele que não votou em mim. Quem não votou não significa dizer que seja indigno de Mossoró. Pelo contrário: quer tanto bem a Mossoró quanto eu. Se conseguirmos superar essas dificuldades e der certo, se a administração for dando certo, quem ganha, as pessoas têm que entender, é o cidadão. Não é Rosalba. Sou a representante do povo, que me escolheu pelo voto, vitoriosa na eleição de 2 de outubro. Mas será a opinião do povo. Rosalba e Nayara vão trabalhar para colocar a cidade nesse circuito, de renascer para realizações importantes. Essa fé eu tenho e esperança de que é possível. Fácil não vai ser, mas não temo dificuldades. Vamos dialogar, conversar, dar as mãos e nos respeitarmos. Digo muito que podem fazer a crítica, e muitas vezes a crítica chega antes do que a gente possa realizar. É preciso uma trégua para que tenhamos tempo para essa reestruturação. Vou correr contra o tempo, fazer o máximo que puder para que a gente possa ter respostas rápidas. Mas não tenho varinha de condão e não vai acontecer de imediato, de em janeiro todos os problemas serem solucionados. Mas, vou perseverar para que o que eu não conseguir resolver em janeiro, vou resolver em fevereiro, e tem que colocar Mossoró no rumo certo. Para isso, é preciso que todos me ajudem. NAS suas três administrações anteriores, a senhora teve companheiros experientes. Na primeira foi um empresário, Luiz Pinto, experiente. Nas duas outras, um político experiente, que foi Antônio Capistrano. E a senhora mudou o perfil da chapa neste ano, trazendo uma jovem e com discurso inovador, mais jovem. Como o discurso do palanque, com a jovem vice, vai firmar na prática a senhora na Prefeitura? EU JÁ estou no sexto mandato eletivo, quarta vez prefeita. Já tive oportunidade de conhecer um pouco lá fora, no Senado. O Governo do Estado também foi um grande aprendizado. Tenho experiência. Mas essa experiência precisa da força da juventude, que tem ideias inovadoras e que vai nos colocar em sintonia com a nova geração, com as novas gerações. Nayara Gadelha é uma jovem profissional, trabalhadora e que vai trazer a sua colaboração a esse grande desafio, que vai ser administrar Mossoró agora.   QUAL a mensagem que a senhora deixa? A MENSAGEM é a de que não faltará vontade, disposição, garra e muita fé... Fé em Deus e a fé que nos move, e esperança. Não deixar jamais a esperança fora do coração do povo. De que é possível, mesmo com as dificuldades e com pouco, se fazer mais. Vamos procurar fazer, de forma honesta e transparente, cuidar dos recursos do povo. Peço que todos nos ajudem, cada um com seu pensamento: a cidade é de todos nós e precisamos fazer que Mossoró volte a ser o orgulho maior de todo mossoroense. FOTOS: Carlos Costa/Jornal de Fato

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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