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Postado às 03h20 | 13 Ago 2017 | O vácuo do ciclo PSDB-PT

Crédito da foto: Arte/UOL Partidos dos Trabalhadores X Partido Socialista Democrático Brasileiro

(*)  João Paulo Jales dos Santos

Os 263 votos computados a favor de Temer na votação da Câmara dos Deputados que arquivou a denúncia de corrupção passiva encaminha ao STF no dia 26 de junho pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mostrou que o cobertor do presidente anda curto. Mesmo seus emissários fazendo barganha no plenário enquanto ocorria a votação, o presidente não conseguiu o tão almejado número de votos que queria, em torno de 280 e 300.

Quando aplicado os 263 suados votos ao total de deputados do legislativo, 513, a numeração configura uma pequena minoria pró-Temer. Se voltarmos no tempo, mais precisamente no dia 17 de abril do ano passado, e comparar os 367 votos dados a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma com os 263 votos dados a favor de Temer no arquivamento de seu processo, há uma redução de 104 votos que entra na conta de déficit do presidente.

Importante lembrar que os 367 votos facultados contra a presidente Dilma na época tiveram árdua e espúria articulação de Temer e sua máfia política.

A sessão de quarta (02/08) não lembrou muito a deprimente e indecente sessão de um ano e três meses atrás que os deputados protagonizaram quando autorizaram a abertura do impeachment de Dilma. Mas nem por isso a sessão que livrou Temer deixou de ser escabrosa. Mais uma vez assistimos um show de horrores digno de um filme de terror de muito mau gosto. Os brasileiros puderam degustar, num espaço de pouco mais de um ano, da Câmara que escolheram no pleito de 2014. Refletindo sob medida a população que os elegeu, os deputados só espelharam que a classe, ou quadrilha se assim quiserem chamar, política do país é a moldura exata do tecido social brasileiro.

Junho de 2013 marcou um ineditismo que desde o movimento das Diretas Já o Brasil não presenciava. Mas há consideráveis diferenças entre um e outro. As Diretas Já não obtiveram o objetivo que almejavam, no entanto se concretizaram em um movimento civil denso e de importante expressão pelo momento histórico que vivia o país nos idos de 1983 e 1984, embaladas por políticos do núcleo duro da oposição ao regime militar, as Diretas Já envolveram entre seus organizadores atores políticos que iam do centro ideológico até o extremo da esquerda do espectro político.

O Brasil vivia com o movimento um momento genuíno em sua história. Junho de 2013 foi embalado por R$ 0,20 de aumento na tarifa do transporte público na cidade de São Paulo, puxadas pelo Movimento Passe Livre (MPL), as manifestações restritas a São Paulo ganharam volume em todo país. Sem ser comandadas por tradicionais lideranças políticas, as manifestações de junho trouxeram arrepios a classe política, tão acostumada a manter sob seu controle protestos de grandes proporções.

Seguiram-se algumas semanas e as ruas brasileiras tão logo silenciaram, se junho trouxe o barulho que se fez doer nos ouvidos das lideranças políticas, o mês seguinte foi de esfriamento social. As manifestações de junho não conseguiram ser um movimento civil-político como as Diretas Já.

Junho de 2013 começou com manifestações de cariz de esquerda, e foi diluindo-se para assumir nos dias de hoje um perfil extremista de direita. Faz-se fundamental entender que junho de 2013, que parece assumir-se como ente abstrato, causou fissuras em nossa ordem política-institucional mantida desde a chamada redemocratização. Mais também faz-se fundamental entender que junho de 2013 não é um vilão da história, o malvado favorito que alguns analistas e intelectuais querem transformar.

Longe dessa velha dicotomia entre bom e mau, junho de 2013 apenas deu um passo para surgir em nossa sociedade uma pequena modificação de arranjo de organizações civis. É imprescindível que tenhamos em mente que os desdobramentos daquelas manifestações de junho são incrivelmente complexos, pouco ainda se estudou sobre essas manifestações, e os poucos da maioria que dessas manifestações falaram quiseram transformá-la na vilã pela deposição de Dilma Rousseff da presidência, um argumento que está envolto num erro crasso de análise ao recair o rótulo meramente simplista de vilão àqueles protestos.

Acostumados com resultados eleitorais presidenciais vencidos com margens superiores a 10% dos votos desde o confronto entre Collor e Lula em 1989, muitos estranharam a estreita margem com que Dilma derrotou Aécio em 2014. A nossa tradição governista não conseguiu compreender que apesar da margem atípica a vitória de Dilma não representava uma fragilidade política no país.

A derrota da oposição somente fazia parte de uma eleição com traços extremamente peculiares que já entrou para a história político-eleitoral do país. De sua posse adiante as ruas foram elemento fundamental para derrubar Dilma, se foram preponderante para defenestrar a presidente, as ruas foram ponto-chave para a manutenção, até agora, de Michel Temer no poder.

Caminhamos para uma crise política e econômica que adentrará 2018 completando 4 anos. Os três polos políticos, o PT à esquerda; o PSDB à direita; e o PMDB como a força do centro, que sustentavam o equilíbrio do nosso cenário político há 20 anos estão mergulhados em suas próprias incapacidades de produzirem soluções para os diversos problemas enraizados em nossa estrutura societal; bem como se encontraram incapazes, e sob esse aspecto excluamos o PMDB, e só deixemos no tabuleiro PT e PSDB, de ter líderes capazes de guiar nosso país nos dias que seguem e nos que ainda nos aguardam.

Quando o denominado ‘centrão’ da Câmara dos Deputados se tornou influente no jogo político, começamos a experimentar o vácuo do poder que foi sendo deixado por PT e PSDB; é desse vácuo que emergiu Cunha, até a sua prisão, e Bolsonaro, que segue no cenário até hoje, como figuras políticas capazes de gerar mobilizações dos seus respectivos modos. PT e PSDB foram os únicos partidos, que a despeito de qualquer coisa, formularam e executaram planos econômicos e sociais que fizeram a engrenagem do Brasil girar nas últimas décadas.

Michel Temer foi a solução torta e tosca encontrada para ser uma ponte até o próximo pleito presidencial, que decidirá se o país sairá dessa situação desajustada e reencontrará o ciclo de equilíbrio que vivenciou de 1994 à 2014.

A partir de 2018, com o andamento das eleições presidenciais, o veredito eleitoral, a posse em 2019 de quem ocupará o Palácio da Alvorada bem como os desdobramentos nos meses seguintes das decisões governamentais da Presidência, teremos duas definições: a permanência da Lava Jato como protagonista do ambiente político e jurídico; e se a economia, fator basilar, fará com que o país reencontre seu ciclo político de equilíbrio perdido há três anos.

(*)  João Paulo Jales dos Santos - Graduando do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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