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Postado às 03h00 | 08 Out 2017 | O velho espírito da América

Crédito da foto: Internet Donald Trump é presidente dos Estados Unidos da América

(*) João Paulo Jales dos Santos

Faltam poucos dias para se voltar 1 ano no calendário, 8 de novembro de 2016, é essa a data, dia em que o mundo abismado assistiu à vitória dada como certa de Hillary Clinton cair no colo de Donald Trump. E faltam poucos meses para que o mandato do republicano complete a data simbólica de 1 ano. O que se viu nesses 8 meses do mandato de Trump foi um festival de pânico, suspense e aflição, misturado com um prazer extremo gozado pelos apoiadores do presidente.

Numa quarta-feira (27/09) o presidente-magnata anunciou no estado de Indiana um ambicioso plano tributário. Ambicioso porque, caso aprovado, além de fazer profundas mudanças nas regras de tributação americana, é uma reforma de tributos que há décadas nenhum presidente levou a cabo, uma mudança estrutural com capacidade de tirar trilhões de dólares dos cofres do governo americano já na próxima década.

O plano de reforma do código tributário de Trump além de um desejo antigo que alegra a velha ala republicana, é antes de mais nada uma tentativa salvadora do presidente de chegar ao seu primeiro ano de mandato com aprovação de alguma grande medida, porque até aqui ‘The Donald’ não conseguiu absolutamente nenhuma vitória legislativa para apresentar a sua base eleitoral.

É aguardar o desenrolar de como Trump e o establishment republicano vão encaminhar essa reforma. Se tiver o mesmo andamento rápido das outras medidas que a Casa Branca tentou aprovar neste ano, há grandes chances que a audaciosa e pretensiosa reforma tributária venha a ser derrotada.

Assessores próximos ao presidente comentam que há meses Trump anda frustrado, pensou que chegaria à Casa Branca e no mesmo instante aprovaria o que quisesse. É uma mostra de como o presidente de fato nada entende de trâmites legislativos.

Como disse certa vez o líder republicano do Senado, Mitch McConnell, senador pelo estado do Kentucky, Trump tem muita pressa em aprovar medidas. McConnell com isso disse que o presidente desconhece os delicados caminhos de bastidores que levam uma lei, ‘Bill’ no jargão técnico-político americano, chegar até o plenário de uma ou das duas casas do Congresso, e conseguir ser aprovada.

A fala do líder da maioria do Senado não surpreende, assim como também não surpreende as falas dos assessores próximos a Trump. Não surpreende porque ao longo de toda pré-campanha, as primárias partidárias, e campanha para Presidência, Donald Trump mostrou ter uma sacrossanta ignorância acerca de jogo político e dinâmica legislativa. Em seus discursos durante a campanha o então candidato pelo GOP (Partido Republicano) preferia jogar para a plateia inverdades e culpar o ‘Politicamente correto’ por todos os males do país. Com falas improvisadas e sem nexo ficava visível que Trump não tinha uma mínima compreensão de como funcionava o minado campo político de Washington-DC.

Além disso ficou evidenciado durante toda sua campanha que o candidato republicano não tinha um plano de governo. Em discursos ensandecidos e vazios, Trump flertou com uma dura realidade socioeconômica e com os latentes vetustos medos que ainda estão marcadamente presentes no imaginário da população branca americana, aqueles pejorativamente nomeados como ‘White Trash’, os brancos das baixas classes sociais.

O ‘Trumpismo’, encarado pelos liberais (progressistas) americanos como um movimento racista com alto poder de lesar a América, nada mais é que a exacerbação do espírito presente desde a América de George Washington. Com Trump assiste-se as tão contumazes ignorâncias e arrogâncias que marcaram toda a trajetória do país e que de certo modo são elementos fundadores dos Estados Unidos.

Da escravidão, passando pela doutrina do ‘Destino Manifesto’, a Ku Klux Klan (KKK), chegando a Trump e na manifestação fascista em Charlottesville, a América sempre foi um terreno fértil para as mais abomináveis filosofias e condutas humanas. Como bem lembrou o escritor Tariq Ali em entrevista à Folha de São Paulo há poucos dias, Trump apenas verbaliza uma ideologia que está presente desde a fundação dos Estados Unidos.

O escritor paquistanês ainda fez questão de pontuar que a KKK, que até a década de 70 ainda perseguia, torturava e matava negros, é a organização política com maior número de filiados da história do país. No auge da supremacia branca, a KKK alcançou a marca de 4 milhões de integrantes. Contingente que ganha contornos ainda mais grandiosos se lembrarmos que este número foi alcançado ainda na já longínqua década de 20. O ‘Trumpismo’, apesar de características bastante peculiares, não inova em nada nos males dos Estados Unidos.

Donald Trump não é e não pode ser visto apenas como um fantoche da boçalidade de seu país, seu jeito e suas ideias pertencem a uma ‘antiga América’ que ainda teima em viver.

(*) João Paulo Jales dos Santos - Estudante do curso de Ciências Sociais da UERN

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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