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Postado às 03h00 | 15 Out 2017 | A importância da carnaubeira na visão do poeta Luiz Cândido

(*) José Romero Araújo Cardoso

Em outubro de 2008, a coleção Queima-Bucha de Cordel incorporava ao acervo produção cordelista do poeta assuense Luiz Cândido Neto de cujo destaque ficou a cargo de discorrer em versos sobre a importância da carnaubeira para a economia local, vantagens da utilização dessa planta nativa do semiárido para a população menos favorecida e a necessidade presente de protegê-la das constantes agressões antrópicas.

Assú, terra natal do poeta popular Luiz Cândido Neto, integra o percurso da bacia hidrográfica do Piranhas-Assu, a qual, principalmente em sua porção norte-riograndense, destaca-se pela proeminência de imensos carnaubais em suas várzeas a ponto de assinalar toponimicamente um dos municípios polarizados pelo antigo termo de Vila Nova da Princesa.

Embora encontrada naturalmente em maior ou menor quantidade principalmente na maioria dos cursos d´água do sertão setentrional, a carnaúba em épocas passadas foi bastante valorizada em razão que o pó retirado de suas folhas e do olho da planta, sendo este bastante procurado devido a qualidade, a população local fazia velas para iluminar a escuridão de um sertão esquecido e os mais abastados ganharam muito dinheiro, exportando a cera obtida para o exterior, pois era matéria-prima para diversos fins industriais.

Com o advento dos derivados do petróleo, a cera de carnaúba passou a perder importância, embora diversos momentos de crise tenham suscitado a revalorização do produto obtido com essa espécie vegetal, verdadeiro símbolo do semiárido, a qual está presente na bandeira do Estado do Rio Grande do Norte devido a importância auferida no passado.

Assim como os animais de grande porte, o gado bovino, razão econômica da ocupação territorial sertaneja, em tudo a carnaúba tinha seu aproveitamento, pois faziam-se linhas, caibros e ripas da madeira, portas com os talos, usando-se a palha para cobrir as casas, bem como tendo serventia para mourões e cercas.

A evolução técnica, quando as antigas trinchas foram substituídas por possantes maquinários industriais que alavancaram a produção extraordinariamente, fazendo surgir novos atores no cenário socioeconômico sertanejo, os donos de carnaubais, em verdade, na grande maioria, herdeiros de antigos beneficiados com a doação de sesmaria, quando da fase de colonização, pois margens de rios no semiárido estavam inclusas de forma indissociável à concessão de terras para levar avante a proposta de ocupação territorial da região sob a égide da importância da pecuária.

A safra do carnaubal tinha inicio em agosto, sendo finalizada apenas entre os meses de dezembro e janeiro, caracterizando-se pela expressiva geração de emprego e renda, ocupando muita gente no interessante processo de divisão do trabalho.

O artesanato local também beneficiou-se bastante da carnaúba, pois diversos produtos de uso cotidiano passaram a ser feitos manualmente, a exemplo de chapéus, vassouras, esteiras cinto, cestos e surrões, sendo confeccionado ainda, a partir do que a carnaúba oferece, inúmeros outros utensílios, a exemplo de uru e armadilhas para pescar.

Com a desvalorização do principal produto obtido a partir da carnaúba, muitos chegaram a cortar carnaubais inteiros, passando a utilizar a área de várzea para fins agrícolas e pastoris, razão pela qual geraram-se impactos ambientais observados através do contínuo assoreamentos dos rios de carnaúba, a título de exemplo.

Apelo ecológico para que a preservação dos carnaubais garanta o equilíbrio ambiental de margens de rios do semiárido, finaliza a proposta contida no interessante cordel de autoria do poeta popular assuense radicado na Terra e Santa Luzia do Mossoró.

(*) José Romero Araújo Cardoso - Geógrafo (UFPB). Escritor. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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