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Postado às 03h30 | 12 Nov 2017 | Uma noite de glória

(*) João Paulo Jales dos Santos

Nesta primeira terça-feira de novembro como é comumente no calendário eleitoral americano, houve eleições estaduais e municipais no país. Se no dia 8 de novembro do ano passado a glória da vitória foi vermelha, neste 7 de novembro de 2017 a glória coube aos democratas, o partido saiu com uma vitória para lavar à alma de seus líderes e sua militância. Dois estados realizaram eleições para governador, Virginia e Nova Jersey.

Neste a expectativa de vitória democrata já era certa, e as urnas só confirmaram aquilo que as pesquisas e os analistas já previam. Naquele, no entanto, apesar de um certo favoritismo por parte do candidato democrata, ainda pairava uma dúvida sobre sua vitória, sobretudo porque nos últimos dias de campanha a diferença entre o democrata, Ralph Northam, e o republicano, Ed Gillespie, havia se estreitado nas pesquisas. O leve favoritismo de Ralph Northam se tornou na noite de terça numa vitória acima de todas as expectativas.

Impondo uma diferença de quase 9% dos votos, Northam derrotou seu adversário republicano e fez da Virginia um teste para as eleições do próximo ano, quando estarão em jogo as 435 cadeiras da Câmara dos Deputados, 33 assentos do Senado Federal, além de 36 corridas para Governos de Estado, e outras centenas de disputas para assembleias e senados estaduais, e outros tantos cargos eletivos locais.

Em Nova Jersey os democratas reassumem o poder do Governo após dois mandatos do impopularíssimo governador republicano Chris Christie. Philip D. Murphy, um ex-banqueiro de Wall Street, foi eleito com uma forte agenda progressista, prometendo transformar Nova Jersey num estado de resistência contra as políticas de Donald Trump.

Nova Jersey é um sólido estado democrata, localizado no nordeste americano, e sempre teve uma tradição de eleger para o governo políticos de caráter moderado. Chris Christie foi reeleito em 2013 com 3/5 dos votos, alçado rapidamente a uma figura em ascensão no partido republicano, o governador colecionou no seu segundo mandato uma série de realizações que o fazem agora sair com uma rejeição na casa dos 80%.

Christie foi ao lado do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Newt Gingrich, uma figura central do establishment republicano no apoio à candidatura de Donald Trump, partiu de ambos o primeiro apoio recebido por Trump de políticos tradicionais do partido. A vitória de Philip D. Murphy juntamente com a desgraça de Christie, muitas vezes num passado recente considerado forte candidato republicano à presidência, é uma resposta que os democratas esperavam ansiosamente.

Um neófito na política, Murphy agora tem ao seu lado uma maioria na Assembleia e Senado de Nova Jersey, o que torna mais propicia a aprovação da sua forte agenda progressista. O contrário disto poderá levar Murphy a mesma desgraça que hoje recai sobre Christie.

Mas o resultado mais aguardado da noite era a eleição na Virginia, ex-bastião republicano, o estado sulista agora caminha progressivamente para se tornar uma fortaleza democrata. A Virginia foi um dos poucos estados indecisos onde Hillary Clinton derrotou Donald Trump. A vitória do democrata Ralph Northam, atual vice-governador, ganhou contornos que extrapolaram a fronteira estadual.

A campanha para governador contou com os mesmos temas presentes da campanha que elegeu Trump. Imigração, componentes raciais e um clima cultural efervescente, foram temas que dominaram o debate na disputa estadual. O republicano Ed Gillespie, ex-presidente nacional do partido, botou em prática uma estratégia que se fosse vitoriosa abriria caminho para as eleições do ano vindouro, tratar de questões delicadas mas sem o mesmo temperamento de Donald Trump, ao invés de adotar uma retórica virulenta, Gillespie adotou uma retórica menos radical, tentando se distanciar do presidente.

Esta estratégia se desse frutos na Virginia seria adotada por outros futuros candidatos republicanos em estados de inclinação partidária centrista. Só que a amarga derrota de Gillespie levou os republicanos a ficarem atônitos. O partido não perdeu somente o governo, perdeu também a eleição para vice-governador e procurador-geral do estado, disputas de caráter majoritário. E ainda viu sua maioria na Assembleia estadual declinar vertiginosamente. Faz-se necessário registrar que um negro foi eleito vice-governador, Justin Fairfax, fato de suma importância porque a Virginia foi recentemente palco de manifestações de supremacistas brancos.

Além das eleições para Governos de Estado, os americanos elegeram prefeitos de importantes cidades, bem como votaram para diversos cargos locais e referendos. Os democratas conseguiram manter o controle da prefeitura de Nova York, e consolidaram ainda mais sua fortaleza eleitoral nas grandes cidades do país ao conquistar prefeituras de grandes metrópoles. A noite da terça-feira deu os resultados que os democratas tanto queriam, a capacidade de mobilização de sua base eleitoral bem como o apoio de eleitores suburbanos. Agora fica a espera para as eleições de meio de mandato presidencial do próximo ano, com uma base democrata energizada.

Os Estados Unidos, mesmo com sua dúbia eleição presidencial, tem lições para dar àqueles que pedem tanto no Brasil por democracia direta. Os eleitores americanos votam para uma infinidade de questões e infinidade de cargos públicos. Votam para decidir desde direcionamento de orçamento público até para vaga de juízes nas supremas cortes estaduais.

Ao invés de um comitê central no estilo daquele pregado pelo leninismo, os que proclamam com ardor por uma democracia direta poderiam estudar o modelo eleitoral americano de participação popular. Isso se quiserem, claro.

(*) João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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