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Postado às 03h15 | 10 Dez 2017 | Machismo: parte instituída da cultura brasileira

Crédito da foto: Reprodução No Rio de Janeiro, a “proposta” da Belle Époque era vivida pelos homens, enquanto a população feminina vivia condições precárias

(*) Aliel Paione

Há pouco mais de 100 anos, o Brasil vivia sob a influência da Belle Époque, expressão francesa que denomina o período entre o final do século XIX e início do XX. Nesse tempo, ocorreram profundas transformações culturais, principalmente nos países europeus (ou os que eram ligados a eles), como a efervescência dos cabarés, o cancan e novos modelos de cinema e arte. O clima era divertido e inovador nas cidades cosmopolitas, e o Rio de Janeiro, capital do Brasil na época, não ficou fora dessa. Mas, afinal, era uma atmosfera alegre e intelectual para quem?

No Rio de Janeiro, a “proposta” da Belle Époque era vivida pelos homens, enquanto a população feminina vivia condições precárias devido aos preconceitos do gênero, o que as restringia de trabalhar em variadas ocupações. Com isso, a prostituição era uma saída para muitas. De escravas a mulheres libertas, de brasileiras a estrangeiras, de situação econômica vulnerável a aristocratas, o meretrício ganhava espaço na sociedade. O governo não lutava vigorosamente pelo combate à prostituição, apenas encobria.

Os bordéis eram um ambiente de socialização e funcionava, para os homens, como uma fuga do dia a dia, além de conferir-lhes status. Um dos fatores que estimulavam o homem a buscar a prostituição eram os valores morais da sociedade patriarcal, que enaltecia a esposa “casta”. Ou seja, justificava-se que o indivíduo do sexo masculino frequentasse esses espaços para libertar-se do seu “instinto natural”, que não seria satisfeito dentro de seu casamento.

A Belle Époque legitimou a objetificação sexual da mulher com o culto aos cabarés, além de valorizar o ideal da “dama” em relação às esposas. A sociedade subestimava a capacidade intelectual feminina e estimulava a sexualização de seus corpos, como se fosse um dos únicos trabalhos possíveis às mulheres. E tais padrões, por serem tão recentes na história brasileira, ainda se fazem presentes em comportamentos que inferiorizam o sexo feminino.

Aliel Paione retrata o ambiente e a época dos cabarés em sua obra “Sol e Sonhos em Copacabana”, cuja trama se passa no auge da Belle Époque, no Rio de Janeiro de 1900. Rico em detalhes deste período, o livro traz reflexões sobre esta cultura, que fazia girar também a economia e a política, além dos resquícios que deixou até hoje.

(*) Aliel Paione nasceu em Varginha, Minas Gerais. É engenheiro, Mestre em Ciências e Técnicas Nucleares pela UFMG, onde trabalhou no departamento. Atualmente é professor de Física na PUC. Porém, são atividades secundárias perante o seu amor e vocação literários.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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