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Postado às 10h45 | 10 Dez 2017 | Marcelo Queiroz sobre as eleições 2018: 'Não vou dizer que não sou candidato'

Crédito da foto: Marcos Garcia Empresário Marcelo Queiroz é presidente da Fecomercio do Rio Grande do Norte

O presidente da Federação do Comércio do Rio Grande do Norte (FECOMÉRCIO/RN), empresário Marcelo Queiroz, tomou o “Cafezinho com César Santos”, quando falou de economia e política. Sem tergiversar, respondeu a todas as perguntas, inclusive, quando foi perguntado se o seu nome está à disposição da sucessão estadual de 2018.

“Hoje, eu não tenho pretensão de ser candidato, mas não sei no próximo ano”, disse.

A longa conversa ocorreu na tarde de quarta-feira, 29, antes da solenidade de inauguração das novas instalações do Sesc em Mossoró. “Fizemos um investimento de R$ 30 milhões. A unidade de Mossoró é a maior do estado, teve toda a estrutura física e de serviços duplicada”, destacou.

Marcelo Queiroz falou sobre a crise política e econômica por que o RN atravessa, identificando que o quadro foi formado por erros não apenas da atual gestão, mas também de governos passados. Ele defende um nome novo para o Estado, seja extraído da classe empresarial ou não, mas que tenha o perfil de grande administrador.

A REFORMA Trabalhista entrou em vigor no dia 11 de novembro, com muitos questionamentos feitos e dois pontos polêmicos: a terceirização e o trabalho intermitente. Os contrários afirmam que esses dois pontos fragilizam o trabalhador. O que senhor pensa?

ESSES dois tipos de contratos já existiam antes da terceirização; apenas a partir de agora, com a reforma, é que foram legalizados. A terceirização já existia; o trabalho intermitente já existia; e as pessoas trabalhavam sem ter os direitos recolhidos. A partir de agora, os trabalhadores vão ter esses direitos preservados. Então, não vejo nenhuma dificuldade nisso. Não vejo a precarização do trabalho. Muito pelo contrário; os trabalhadores estão sendo beneficiados.

 

É POSSÍVEL afirmar que já o Natal deste ano possa sentir algum efeito da reforma trabalhista?

O EFEITO da lei trabalhista, de modo geral, vai demorar alguns anos para que ela se consolide e para que a gente possa fazer uma avaliação mais profunda. Mas, penso que, de alguma forma, os efeitos na economia já podem ser sentidos. Eu li uma reportagem nos jornais nesta semana dizendo que as grandes empresas iriam contratar 100 mil novos funcionários agora em dezembro. Isso mostra que nós já teremos números bastante consideráveis agora em dezembro, isso consequência dos efeitos da nova legislação, porque as empresas passaram a ter mais segurança para contratar e efetivar esses contratos com a segurança jurídica que não tinham antes.

 

EM ENTREVISTA recente, para dizer que não será candidato a presidente do Brasil, o empresário Flávio Rocha disse que o instrumento das mudanças são o indivíduo e a empresa e que o empresário tem um papel político a desempenhar, mas sem sair dessa função empresarial. O que o senhor pensa?

QUANDO Flávio Rocha deu essa declaração, ele quis dizer que ia fazer a política, mas sem sair de sua função empresarial. Eu acho que o empresário tem um trabalho desenvolvido na sociedade muito importante, como gerador de emprego, gerador de renda; e se tiver feito um trabalho social, sendo uma referência, pode perfeitamente ampliar a sua ação com atuação na política. É o caso de Flávio Rocha, por exemplo. Ele tem um trabalho não apenas no Rio Grande do Norte, mas ele é referência no Brasil e no mundo. Flávio é o segundo maior empregador do Brasil e já está empregando em outros países. Eu acho que ele tem plenas condições de ser candidato e, certamente, teria o reconhecimento da população.

 

DIANTE da profunda crise que a classe política enfrenta no país e no Rio Grande do Norte, com o descrédito junto à população, sem referência, chegou a hora de o segmento produtivo, da classe empresarial, oferecer o novo gestor público?

REALMENTE, nós passamos por uma crise institucional sem precedente, e não existe, por exemplo, um nome que se desponte como uma grande liderança em nível nacional capaz de conduzir o processo de mudança. Acho, sim, que a gente deve procurar um grande nome que possa conduzir, com competência, os destinos do país. Que seja um empresário ou um próprio político, mas é preciso que seja um nome novo, capaz de mudar o cenário da gestão pública do país. Independentemente que seja um empresário, acho que a população espera um representante que seja ilibado, que tenha pautado a sua vida na ética, nos bons costumes e que tenha a capacidade de gerenciamento.

 

O RIO Grande do Norte se encaixa nesse contexto?

O NOSSO estado não está separado do Brasil. Temos bons nomes na política, mas estamos passando por uma grande crise, principalmente do ponto de vista financeiro. O Governo está com os salários dos servidores atrasados; alguns Municípios também não estão honrando com esse compromisso e com outras obrigações sociais e econômicas. Acho que o Rio Grande do Norte se encaixa no contexto. Pode perfeitamente abrigar um novo projeto, independentemente que seja do segmento empresarial. Aliás, alguns nomes têm surgido, inclusive, nomes novos que estão colocando o seu nome pela primeira vez na política.

 

A CLASSE empresarial vai ter uma presença mais incisiva nas eleições de 2018 no Rio Grande do Norte?

ALGUMAS pessoas já despontaram na política, inclusive aqui mesmo em Mossoró, quando tivemos uma chapa formada por empresários (Tião da Prest/Jorge Rosário) a Prefeituras em 2016. Ele (Tião) mesmo está colocando o seu nome para cargos maiores. Mas, não vejo que tenha alguma decisão tomada hoje; na verdade, não tem nada certo. Penso que no momento está todo mundo observando o cenário, vendo o que vai acontecer, para tomar as decisões só no próximo ano.

 

O SEU nome foi colocado na agenda político-eleitoral em 2016 na capital do estado, mas o senhor acabou não sendo candidato. Porém, atuou bastante nesse sentido, chegando a se afastar do cargo de presidente da Fecomércio para cumprir o calendário eleitoral. O projeto se limitou a 2016 ou o seu nome pode despontar no tabuleiro da sucessão estadual de 2018?

EU SOU filiado a um partido político (PMDB). Não vou dizer que não sou, mas minha pretensão hoje é de continuar sendo o empresário que sou, de continuar contribuindo para o desenvolvimento do nosso estado. Não tenho nenhuma pretensão política hoje, não sou candidato no momento, mas não sei no próximo ano.

 

QUAL avaliação o senhor faz do governo Robinson Faria?

NÃO vou discutir aqui se o governo Robinson deu certo ou se não deu certo, mas é fato que nós vivemos uma crise política financeira muito grave, embora devemos reconhecer que não é só o Rio Grande do Norte que está passando por isso. Tem várias nuances que poderiam ser discutidas nesse sentido. Nós realizamos várias palestras para discutir a crise em nível nacional e em nível de estado e as razões foram mostradas por especialistas. Dentro dessas exposições, podemos citar que os governos, não só o atual, deram altos aumentos ao funcionalismo público, cedendo coisas que não poderiam ceder diante das pressões dos sindicatos e tomando decisões equivocadas. Fizeram um plano de cargos e salários que não poderia ter sido feito, porque o Estado não tinha condições de cumprir. Para piorar, tem a crise nacional, a crise em setores importantes, como do petróleo, do sal, tem a seca prolongada, entre outros fatores que contribuíram para o quadro que temos hoje. É preciso observar que esses problemas não são apenas do atual governo, mas se acumularam a partir de governos anteriores.

 

MAS, o senhor não acha que é preciso um governo assumir a responsabilidade para enfrentar a situação com medidas consistentes, para acabar com erros praticados ao longo do tempo?

OS GOVERNOS têm que ter responsabilidade de administrar a coisa pública. Numa palestra recente, o economista Cláudio Porto mostrou que os repasses que o Governo do Rio Grande faz para os poderes estão bem acima dos outros Estados. Então, é uma somatória de coisas que contribuem para agravar a crise e que só com enfrentamento será possível encontrar a melhor solução.

 

O FISCO estadual tem afirmado que a máquina arrecadadora do Estado continua “azeitada”, o que passa a ideia que o Governo recolhe bem, mas gasta mal. É isso mesmo?

O GOVERNO recolhe bem, mas acho que poderia arrecadar mais. Existe uma reclamação do empresariado potiguar pela falta de competitividade. Os estados da Paraíba, Ceará e Pernambuco, por exemplo, têm uma competitividade maior do que o Rio Grande do Norte. Os empresários dos outros estados estão vendendo aqui em detrimento dos empresários daqui, que não têm condições de competir com eles. Não sei dizer se o Governo arrecada bem, mas gasta mal, ou se os recursos que está recebendo estão aquém das despesas que ele tem.

 

RECENTEMENTE, o grupo Guararapes/Riachuelo, do empresário Flávio Rocha, e o Ministério do Trabalho travaram confronto, passando a ideia de que ainda resiste a tese de que empresário é inimigo de trabalhador. Essa tese procede?

O CASO de Flávio Rocha, segundo as palavras dele, ocorreu porque o seu grupo tomou a frente de um processo que era levar as facções (unidades de confecções) para o interior do estado, principalmente para a região do Seridó, onde a seca castiga e tira as oportunidades da população. Como não tem água, não tem como instalar indústrias; a pecuária sofre; a agricultura também. Então, essas fábricas instaladas por Flávio Rocha não precisam de água; são máquinas e equipamentos que iriam gerar 30 mil empregos e que infelizmente ficou em 5 mil empregos pelas dificuldades. Eu não tenho conhecimento profundo da ação, mas o que nós sabemos, pela imprensa, é que o Ministério Público queria que a Guararapes assumisse os empregados, assinasse as suas carteiras, sendo que essa responsabilidade seria das pequenas facções; de modo que isso é inviável. Inclusive, os próprios donos das pequenas unidades não querem seus funcionários sendo tutelados pela Guararapes ou qualquer outra empresa.

 

MAS, ainda há essa cultura de que empregador é “inimigo” de empregado?

DE UM modo geral, não. O empregador tem bom relacionamento com a maioria dos empregados, e assim deve ser porque um depende do outro. Agora, existem grupos isolados, com radicalismo, que fazem essas pregações.

 

A ECONOMIA do país saiu da recessão. Segundo o IBGE, o PIB cresceu 1,4% nos últimos dois meses. É uma recuperação lenta, mas começa a andar. Qual a perspectiva que o segmento empresarial potiguar tem para o futuro próximo?

O RIO Grande do Norte passou dois anos com retração nas vendas, de junho de 2015 até junto de 2017. A partir de julho, nós passamos a ter uma recuperação lenta, mas as vendas começaram a reagir. Temos uma recuperação na geração de emprego bastante significativa. A nossa esperança é que fechemos o ano com um crescimento nas vendas de dois a três por cento. É um crescimento pequeno, mas se comparar com 9,7% que nós perdemos no ano passado, é motivo para comemoração. Para 2018, a nossa perspectiva é positiva. Esperamos por crescimento na economia local e nacional. Esperamos que o nosso Estado e o Brasil possam sair desse atraso.

 

O SESC em Mossoró teve ampliada a estrutura física e os serviços prestados aos comerciários. O que essa nova fase representa para a vida dos associados?

O SESC em Mossoró foi inaugurado em 1978, numa área bem localizada. Nesses 39 anos, havia passado por adaptações, melhoramentos e ampliações, mas nunca havia passado por uma grande reforma como passou agora. O investimento feito contemplou toda a estrutura da unidade, não ficou uma sala sem receber melhorias. Nós vamos passar a dobrar a capacidade de atendimento. Nós tínhamos 5 mil metros quadrados de área construída; estamos passando para 10,7 mil metros quadrados. Essa é a maior unidade no estado. A nossa intenção é justamente melhorar a acessibilidade aos serviços e oferecer as melhores condições de atendimento aos comerciários, que são o público-alvo do Sesc, e à sociedade de modo geral. Mossoró, por ser a segunda maior cidade do estado, merecia um Sesc com a estrutura que tem agora.

 

UM INVESTIMENTO de R$ 30 milhões, sem dúvida, valoriza a importância do Sesc em Mossoró. Mas, é inegável que o volume de dinheiro aplicado contrasta com a crise econômica que vive o país. No entanto, o investimento é uma mostra da capacidade de gerenciamento que o sistema tem?

NÃO tenha dúvida. Fazia algum tempo que nós vínhamos fazendo esse planejamento, elaborando todos os projetos, buscando a melhor forma de investir os recursos. Contamos com a participação efetiva do departamento nacional, que nos ajudou com recursos financeiros. A gestão feita no setor privado é bem diferente da gestão no setor público, isso é fato. Os recursos do Sistema S, de um modo geral, do Sesc e Senac, eles vêm do setor privado; no nosso caso, dos empresários do comércio, serviços e turismo, salientando que as pequenas empresas não fazem essa contribuição, embora os serviços sejam oferecidos a todos os comerciários, e dentro do possível, a gente atende também a sociedade de um modo geral. Mas, nós fazemos as coisas com muito planejamento, de forma estudada, com muita ética, profissionalismo, de forma que possamos fazer grandes ações, como a que fizemos no Sesc de Mossoró.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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