Quinta-Feira, 25 de abril de 2024

Postado às 09h00 | 16 Mar 2018 | Coluna César Santos - 16 de março 2018

Crédito da foto: Reprodução Vereadora Marielle Franco denunciava violência da Polícia Militar no Rio de Janeiro

NINGUÉM VAI CALAR MARIELLE

Marielle Franco era feminista, negra e criada na favela. Tinha 38 anos. Era também vereadora.

Na noite de quinta-feira, 14, por volta das 21h, foi atingida por cinco tiros na cabeça. Seu corpo tombou na rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, zona norte do Rio.

Poucos minutos, longe dali, em Brasília, surgiu o primeiro grito absurdo: “crime político!” A voz foi sequenciada por outras, com frases de efeitos, sugerindo o oportunismo negro em busca de algum proveito em torno do corpo estendido no chão.

É claro que Marielle não vai para a estatística das vítimas da violência carioca. Ela não foi morta por bala perdida, tentativa de assalto ou qualquer outro crime da violência cotidiana. Ela estava na mira. Os assassinos sabiam a sua posição dentro do carro e atiraram com a precisão e com a certeza de que acertariam o alvo.

Foram cinco tiros na cabeça. Eles queriam matá-la.

O jornalista Ricardo Noblat, em seu prestigiado blog na veja.com, foi preciso quando escreveu que a investigação sobre a morte de Marielle poderá começar por uma pergunta: a quem interessava matá-la, e por quê? Por ser mulher e negra? Improvável.

E seguiu:

Por ser uma ativista política que denunciava assassinatos em comunidades pobres da cidade e que os atribuía à ação da polícia e das milícias? É o mais provável. Filiada ao Psol e reconhecida por sua militância por direitos humanos, a vereadora nunca se intimidou a denunciar a violência no Rio. Antes de se eleger como a quinta vereadora mais votada nas eleições de 2016, com 46.502 votos, Marielle trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e Centro de Ações Solidárias da Maré, sempre em defesa dos direitos humanos, na linha de frente contra a violência.

Há poucos dias, ela denunciara a morte de dois jovens na favela de Acari e abusos cometidos por integrantes do 41º batalhão da Polícia Militar. Em seu endereço nas redes sociais, escreveu, 24 horas antes de ser fulminada: “Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”

Está claro que a voz de Marielle perturbava o crime organizado, setores da polícia, porque chamava a atenção, em forma de denúncia, para as atividades letais que castigam principalmente jovens pobres e negros da favela.

Não há outra motivação que possa sugerir uma linha de investigação diferente. Nem que sustente discurso político de ocasião. Que respeitem a sua memória.

 

FRASE

"Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe."

MARIELLE FRANCO – Vereadora do Rio, um dia antes de ter sido morta com cinco tiros.

 

CANSAÇO

 A assembleia dos professores da Uern, convocada para hoje, às 9h, na sede da Aduern, confirmará o clima de fim de greve. Docentes e estudantes que querem o retorno das aulas serão maioria. Os que esticam a paralisação perderam o argumento. O comando de greve sente o desgaste e sabe que a luta foi perdida. O governador Robinson Faria, mais uma vez, ganha no cansaço.

 

QUE TIRO FOI ESSE?

 A apreensão de um adolescente que estava com uma espingarda de calibre 12 em sua mochila na Escola José Nogueira, zona norte de Mossoró, mostra que ninguém está seguro, nem dentro da sala de aula. Mais do que isso: revela a inocência próxima da criminalidade. É a educação perdendo para o mundo paralelo, literalmente. E o cidadão cada vez mais refém do gatilho.

 

O CIRCO

 A caminho da cadeia, o ex-presidente Lula elabora plano para se comunicar com o mundo externo. Uma das ideias é gravar vídeos para reforçar a tese de "golpe, perseguição política, blá-blá-blá". E o PT sugere vigília dia e noite com flores e velas na porta da penitenciária.

 

NOVO

 O presidenciável João Amoêdo, do Partido Novo, é o convidado da edição inaugural do Fórum Caminhos do Brasil, organizado pelo Sistema Fiern. Ele apresentará propostas e ideias para o País. Dia 26 deste mês, na Casa da Indústria, em Natal.

 

DE CIMA PARA BAIXO

 O deputado Souza, comandante do PHS potiguar, passou a acompanhar a agenda do governador Robinson Faria (PSD). Entendeu o recado que veio de Brasília. O Partido Humanista determina a Solidariedade ao governo Robinson. E apoio nas eleições de 2018.

 

MAIS UM

 O secretário da Reforma Agrária, Raimundo Costa, deixará a pasta para disputar mandato de deputado estadual. Ele trocou o PT pelo PSD. Costa segue os passos de Ivan Júnior, que sairá da pasta de Recursos Hídricos para concorrer às eleições.

 

 É NOTÍCIA

1 - A população de Natal está em alerta com a ameaça de epidemia de dengue. Já são 1.065 casos notificados entre janeiro e março, contra 888 no mesmo período de 2017. É preocupante.

2 - O governador Robinson Faria (PSD) cumpre agenda hoje no Alto Oeste potiguar. Em Alexandria, inaugura o Restaurante Popular, ao lado do titular da Sethas, Vágner Araújo, e da prefeita Jeane Ferreira (PSD). A solenidade acontecerá às 11h.

3 - Nesta data, em 1990, os brasileiros eram surpreendidos com o bloqueio de contas correntes e de poupança, no que foi chamado de Plano Collor I. O povo sofrido ficou mais sofrido.

4 - O melão continua no topo da balança comercial do Rio Grande do Norte. Em janeiro e fevereiro, foram comercializadas mais de 23 mil toneladas da fruta, ou US$ 18,3 milhões.

5 - O vizinho estado do Ceará recebe o primeiro centro integrado de inteligência do país. A unidade fica interligada a um centro nacional em Brasília para combater o crime organizado.

 

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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