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Postado às 09h45 | 01 Mai 2018 | Democratas e republicanos seguem consumidos por suas lutas

(*) João Paulo Jales dos Santos

Nesses 6 meses que faltam para as eleições de meio de mandato presidencial, democratas e republicanos seguem com os seus dilemas internos. Democratas continuam divididos em consequência dos resultados das primárias para escolha do candidato presidencial e da derrota de Hillary Clinton. Republicanos seguem divididos, e numa situação ainda pior que a dos democratas. O GOP (acrônimo do Partido Republicano) tem o controle do Congresso americano, da maioria dos governos e legislaturas estaduais, mas isso não é um saldo positivo politicamente para a conta do partido. Mesmo com toda essa força e estrutura política, os republicanos a cada dia expõem as vísceras da batalha intrapartidária que toma de conta da legenda. O motivo para isso é a extrema divisão entre Donald Trump e seus asseclas reacionários de um lado, e o establishment moderado do outro. As crônicas democrata e republicana não são novas, e muito menos irão ser arrefecidas com o resultado eleitoral de novembro, seja qual resultado for.

Tem sido angustiante acompanhar as intrigas democrata desde a derrota de Hillary Clinton, mesmo com a base do partido energizada e com um republicano impopular na Casa Branca, os democratas não cessam de entoar o mantra que ecoa internamente desde a derrota de Hillary, que o senador pelo estado de Vermont, Bernie Sanders, teve enorme responsabilidade na derrota de Hillary ao fazer um duro enfrentamento com a ex-senadora e ex-Secretária de Estado nas primárias do partido. A bobagem é atroz. Pelo motivo que Bernie só não teve melhor resultado nas primárias porque foi extremamente suave no confronto com Hillary, o senador teve oportunidades para fazer um confronto direto, mas sempre optou por se esquivar, e assim sempre acabou preservando Hillary. Fosse por suspeitas da atuação de Clinton como Secretária de Estado na época do ataque a embaixada americana na Líbia em 2012, fosse pela suspeita de doações escusas para a Fundação Clinton, fosse pelo servidor de e-mail privado utilizado por Hillary enquanto Secretária de Estado, não faltou arsenal político para Bernie usar contra sua adversária, no entanto, o senador foi extremamente leniente com Hillary, e a privou de passar pelas primárias democrata sem grandes sobressaltos.

Ao invés de centrarem foco para que os erros que levaram a derrota de Hillary não sejam repetidos adiante, a cúpula democrata prefere o apontar de dedos entre as alas progressista e moderada do partido. O partido em menos de 2 décadas assistiu duas candidaturas terem vencido no voto popular mas perdido no Colégio Eleitoral. A derrota de Hillary veio quando as feridas que levaram a derrota de Al Gore em 2000 ainda não estarem totalmente sanadas. Enquanto Al Gore ganhou no voto popular com uma leve margem 0,5% dos votos e perdeu no Colégio Eleitoral com uma diferença de 5 votos contra George W. Bush, Hillary venceu Trump com uma dianteira de 2,1% na votação popular mas perdeu com uma diferença de 77 votos no Colégio Eleitoral. Se em 2000 a Flórida foi o palco da vitória de Bush sob Gore, em 2016 sobrou estados para os democratas se debaterem com a cabeça nas urnas, mas nenhum estado com uma diferença tão próxima como aquela que a Flórida teve entre Gore e Bush para decidir a eleição em prol de Hillary. Sempre em algum evento democrata, seja de que espécie for, líderes e doadores do partido tocam na mesma tecla: Bernie Sanders tornou Hillary vulnerável na primária, o que acabou a levando a derrota contra Trump. O erro analítico além de grosseiro, é uma espécie de consumo político que nada faz bem ao partido.

Um pequeno parêntese, é interessante notar que das 5 eleições que 1 candidato venceu no voto popular mas perdeu no Colégio Eleitoral, 4 desses candidatos foram democratas, nenhum republicano. E para análise de comparação com a atual composição partidária, a eleição de 1824 ocorreu num outro panorama político-partidário, sendo assim, em todas as outras eleições onde 1 candidato perdeu por causa do Colégio Eleitoral com o enfrentamento direto entre democratas e republicanos, todos os 4 candidatos derrotados foram democratas. Grover Cleveland em 1888, Samuel J. Tilden em 1876, Al Gore em 2000 e Hillary Clinton em 2016.

No lado republicano, como se já não bastassem todos os problemas, o GOP recentemente teve que ouvir de seu líder na Câmara dos Representantes, Paul Ryan, representante do estado de Wisconsin, anunciar que não disputará a reeleição e que está se aposentando da vida pública. É um baque imenso para o partido, Ryan é um político jovem, com chances de ascensão política, uma voz moderada e que insistia que o partido deveria deixar de focar tão somente na sua base branca conservadora e estender sua base política para setores mais diversos da composição étnico-racial e ideológica da população americana. A aposentadoria de Ryan se dá em consequência da fratura interna no partido, as lutas travadas entre ultraconservadores e moderados, e uma fratura também externa, com a acirrada disputa entre candidatos alinhados com Donald Trump e candidatos conservadores moderados e centristas nas corridas que se avizinham para escolha dos candidatos republicanos para o pleito de novembro. Aliás, aposentadorias nesse ciclo eleitoral estão sendo uma problemática e tanto para os republicanos, muitos de seus membros na Câmara e alguns no Senado anunciaram que não irã pleitear renovação de mandato.

Muitas das aposentadorias são de membros da ala moderada, e que com isso tornam seus distritos sob controle republicano abertos para que democratas venham a ter êxito na conquista desses distritos. No Senado, os assentos do Arizona e do Tennessee, ocupados por republicanos de viés mais moderado que anunciaram que não irão concorrer a reeleição, se tornaram corridas competitivas para democratas. O fato para o GOP é um só, segurar ao máximo que puder sua maioria no Congresso que está ameaçada. Até aqui, eleições especiais disputadas em distritos bastiões conservadores mostram substancial aumento de votos de candidatos democratas, fato muitas das vezes inédito em muitos desses distritos, e com poucas mas representativas vitórias de candidatos democratas. O sinal não está apenas amarelo para os republicanos em 2018, também estará em 2020, quando uma dezena de assentos ocupados por republicanos no Senado já sinalizam que tendem a ficar competitivos. O casamento entre Trump e republicanos que no início do mandato presidencial parecia que poderia ao menos dar um pouco certo, agora já é um divórcio público, por mais que ainda não completamente oficial em termos formais.

(*) João Paulo Jales dos Santos é estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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