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Postado às 08h45 | 06 Mai 2018 | Velho P(MDB) e um novo Congresso

Crédito da foto: Reprodução P(MDB) a tornar-se o partido mais bem-sucedido do recente período democrático

(*) Tom Barros

Semana passada, escrevi brevemente sobre os caminhos que levaram o P(MDB) a tornar-se o partido mais bem-sucedido do nosso recente período democrático. O critério adotado foi a influência em vários governos. Melhor dizendo, em todos eles. Não há governo do qual o P(MDB) não tenha sido o principal partido da base parlamentar.

A onipresença do, agora, MDB não é coincidência. O partido tem sido muito bem votado em todas as regiões, principalmente fora das grandes metrópoles brasileiras. Nos pequenos e médios municípios, as questões cotidianas recebem quase toda a atenção da população e a atuação da política institucional se revela pragmática, menos ideológica. O partido conseguiu capitalizar de modo sistemático essa assimetria entre governo e sociedade sem se importar muito com alguma unidade de pensamento.

Como condição primordial, um partido deveria ser formado por pares, aproximar aqueles que se identificam com seu ideário. Desse modo, em um sistema pluripartidário, receberá mais votos e será mais representativo se puder equilibrar os termos dessa equação: criar um núcleo de pensamento político que expresse de modo singular os anseios de seus integrantes sem, ao mesmo tempo, alijar os outros, sectariamente. Em suma, unir os que pensam de modo parecido e convencer os demais.

No entanto, atomizar um discurso sem caráter ideológico parece ter sido a estratégia. A ideia de vender exatamente o que se quer comprar é muito sedutora. Em países de população pouco educada, a propaganda influencia muito fortemente o comportamento do mercado. Na política, é possível identificar essa tendência como vetor do populismo.

Essa base municipal consolidada fez o partido ter uma participação considerável no Congresso Nacional. Em eleições ‘cruzadas’, a conhecida aliança entre prefeitos e deputados determina a estrutura de apoio nas muitas microrregiões dominadas pelo partido, e praticamente garante a eleição dos escolhidos.

O P(MDB) dos novos tempos tem base política distrital. Seus vários líderes regionais não competem por poder central, pois ele decorre justamente desse conjunto fragmentado. São os feudos que importam nesse método de fazer política. Não é motivo de admiração que o partido não defenda uma pauta facilmente identificável na Câmara e no Senado.

Mas se não promove teses que aglutinem os movimentos e decisões do partido, como o P(MDB) pôde votar unido e constituir base de apoio a tantos governos? Há um fator determinante que, se não nasceu com o novo P(MDB), certamente ele ajudou a elevar à alta potência: dinheiro.

 

Nosso desvirtuado presidencialismo de coalizão pressupõe a troca de cargos por votações que deem governabilidade aos governos. A ocupação dessas posições centrais é moeda de troca para os que detêm mais votos no parlamento. E os melhores cargos nem sempre são os que podem promover as políticas públicas mais impactantes em termos de transformação social. Os cargos desejados são os que oferecem mais orçamento, mais dinheiro para ser gasto.

Sem tratar de fraude eleitoral, dinheiro é voto. Campanhas são caras e não por outro motivo o poder econômico é bem representado em todas as nossas casas legislativas. O populismo e o capitalismo de compadrio se completam, fomentando abertamente a simbiose entre políticos com mandato, gestores por eles colocados em cargos-chaves, empresários que têm contratos com o governo (ou são financiados com dinheiro público) e apoio que aportam às campanhas eleitorais.

Uma pequena amostra desse universo pode ser observada nesse estudo sobre cotas parlamentares na Câmara dos Deputados. O ciclo, nesse caso, é mais curto, mas o mesmo vale para emendas, convênios e execução direta de políticas públicas que beneficiem corporações e as bases locais dos partidos que estão no poder. E quanto maior o ciclo, mais dinheiro e poder estão envolvidos.

Ainda assim, há um P(MDB) dos tempos recentes que seguiu fiel às suas origens democráticas e republicanas. No entanto, essas correntes foram gradativamente perdendo espaço internamente e sendo isoladas do contexto decisório nacional. Não falam mais pelo partido.

Esse P(MDB) que sabidamente não se importa em se situar formalmente fora do espectro político-ideológico, e que baseou sua atuação nos últimos anos em trocas no mínimo duvidosas, do ponto de vista da ética e da boa política, deveria preferir atuar nas sombras. E foi assim durante muito tempo.

Sair do governo Dilma e arquitetar o caminho do impeachment foi a primeira cartada protagonista desse P(MDB) dos dias atuais. O custo de imagem é perceptível. É bem verdade que os caciques peemedebistas não iriam deixar o partido encolher sem explorar o capital da narrativa do MDB da ditadura. Entretanto, se a política mudar, pode ser o canto do cisne.

***

Para perverter esse estado de coisas, resta à cidadania participar. O mundo da política pode deixar de ser o da barganha, do fisiologismo, da demagogia. Mas será necessário renovar nossos parlamentos.

(*) Tom Barros é fundador do Observatório Social de Brasília, auditor do Tesouro Nacional, líder Raps e Lemann fellow.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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