O médico cardiologista Bernardo Rosado aceitou o convite para compor chapa ao Senado da República. Na convenção do Partido Progressista (PP) na sexta-feira (3), seu nome foi oficializado para a segunda suplência do senador e candidato à reeleição Garibaldi Alves Filho (MDB).
A decisão de Bernardo surpreendeu. Apesar de pertencer a uma tradicional família política, ele nunca se sentiu motivado para a atividade. Cuidar da saúde das pessoas sempre foi o seu ideal, consolidado pelo Hospital Wilson Rosado, que ele fundou no início da década de 2000, sustentado pelo diploma da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Filho de Isaura Sexta Rosado Maia/Wilson Rosado, neto do velho Jerônimo, o patriarca, e sobrinho do governador Dix-sept Rosado, Bernardo se encorajou para aceitar o convite feito pelo senador Garibaldi, após ter sido indicado pelo grupo da prefeita Rosalba Ciarlini.
“Acho que é um momento delicado na política, mas é uma oportunidade para que eu possa colocar a saúde pública no debate eleitoral”, afirma o cardiologista, nesta entrevista ao “Cafezinho com César Santos”.
O SENHOR aceitou o convite para ser suplente do senador e candidato à reeleição Garibaldi Filho. Por consequência, entra para a política de forma efetiva, no momento em que os políticos sofrem enorme desgaste popular. E o seu nome surgiu até de forma surpreendente. O que motivou essa decisão?
REALMENTE, foi surpreende para todos e para mim também. Não estava nos meus planos de vida entrar para a política. Confesso que relutei até o último momento. Não foi uma decisão fácil, no entanto recebi como uma convocação para ajudar de alguma forma ao nosso Rio Grande do Norte. Quiçá, de alguma forma, quem sabe não posso ajudar a minha cidade de Mossoró com essa minha decisão. Acho que um objetivo foi criado.
O FATO de o senhor ser de uma família tradicional da política de Mossoró e do Rio Grande do Norte, que teve o governador Dix-sept Rosado, o deputado federal Vingt Rosado e prefeito Dix-huit Rosado, seus tios, influenciou a sua decisão de entrar para a política agora?
NÃO no meu caso. Nunca me senti influenciado a entrar para a política. Eu confesso que nunca tive essa vontade. Talvez, há quase 40 anos, eu pensasse nisso, mas hoje não. Digo que os meus objetivos de vida eu já atingi e me sinto realizado com o trabalho que realizamos na saúde. Eu aceitei o convite porque acho que posso ser útil, posso levar a bandeira da saúde para o debate eleitoral, posso colaborar com um futuro melhor para a saúde pública; e também a minha resposta positiva foi uma atitude de honestidade pela deferência que o grupo teve comigo na hora da indicação. Agradeço a prefeita Rosalba, Carlos Augusto e Betinho Rosado pela escolha do meu nome e espero contribuir para a eleição do deputado Beto Rosado, do senador Garibaldi e do candidato a governador Carlos Eduardo.
O SENHOR sempre concentrou a sua atuação na saúde, como médico cardiologista, administrador do maior hospital privado do interior do estado. A ideia de entrar para a política, além de surpreendente, não provoca certo receio no seu ambiente profissional?
O MOMENTO da política brasileira é muito delicado, por tudo que está acontecendo e que o cidadão acompanha atentamente, mas também vejo que esse é o momento de acertar. Esse pode ser o meu objetivo: oferecer a minha colaboração para melhorar no que for possível. Eu não gosto de criticar nem de elogiar político “A” ou “B”, mas é fato que a nossa classe política está numa situação de muito descrédito, e acho que não é só a classe política, mas outras instituições públicas que não têm dado as respostas que o cidadão espera. O Executivo e o Judiciário, por exemplo, estão muito questionados hoje. Penso que o Brasil tem que passar uma borracha para começar do zero, porque está tudo errado.
A POSSIBILIDADE de mudança, a partir de nova mentalidade, de novo comportamento, de uma forma diferente de tratar a coisa pública, pode ser a motivação que o senhor encontrou para aceitar o convite do senador Garibaldi Filho?
NÃO sou um salvador nem um messias para resolver os problemas. Não é isso. A motivação é a possibilidade, concreta, de oferecer a minha colaboração. Acho que posso ajudar, com ideias, com trabalho, com sugestões, para que algo bom possa acontecer. A área de saúde, que é uma bandeira nossa, terá prioridade na minha ação na política.
DE QUE forma o senhor vai participar da campanha eleitoral?
ANTES de aceitar o convite feito pelo senador Garibaldi Filho, com indicação do grupo da prefeita Rosalba Ciarlini, eu perguntei como seria a minha participação nessa campanha e só após eu ouvir isso foi que eu me posicionei. Eu vou participar mais em Mossoró e na região Oeste, área onde nós conhecemos bem. Isso também possibilitará que eu continue cuidando do Hospital Wilson Rosado, que é um zelo que nós temos. É através do Wilson Rosado que eu ajudo as pessoas, principalmente aqueles carentes que enfrentam dificuldades de acesso à assistência à saúde. Temos ajudado a muita gente.
É POSSÍVEL afirmar, então, que a saúde será a sua bandeira na campanha eleitoral?
NÃO tenha dúvida que a saúde será a nossa prioridade. Entendemos que é preciso melhorar a saúde pública do Rio Grande do Norte, a partir de um olhar comprometido com a assistência à população, sobremaneira às camadas mais carentes. Acredito que serei ouvido, que darei a minha opinião, que a minha experiência na área da saúde será levada em consideração. Pretendo oferecer essa colaboração ao nosso candidato a governador (ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo), para que a ele possa, caso eleito, colocar em prática. Também estaremos debatendo outros temas importantes, sugerindo melhorias em áreas vitais, porque entendemos que o Estado precisa de uma gestão competente, ampla e inovadora, para solucionar problemas graves que afetam as pessoas.
COMO a saúde pode ser priorizada dentro do debate da campanha eleitoral?
EU ACHO que a saúde deve ser colocada de forma prioritária. Nós temos um problema muito sério na saúde que precisa ser resolvido, que é a falta de recursos. Entendemos que isso passa pela gestão ou melhora da gestão. Precisamos de pessoas competentes, de bons profissionais, sem interferência política, para conduzir a saúde pública. É preciso que os dados técnicos se sobreponham aos dados da política, e não o contrário, como acontece hoje. A política é quem manda e isso é muito ruim. Penso que temos que repensar a gestão da saúde, para que os recursos possam ser aplicados de forma correta, competente, no sentido de atender a quem necessita do serviço público. Então, defendo mudanças na forma como a saúde pública é administrada, e isso eu vou colocar em meu ponto de vista dentro do debate durante as eleições.
O SEU grupo político já tinha posição firmada em chapa majoritária, com a candidatura de Kadu Ciarlini a vice-governador. Agora, o senhor vai para a chapa como suplente de senador. Isso reflete a força e a importância de Mossoró no cenário estadual?
PENSO que isso gera uma forma positiva não apenas em Mossoró, mas em toda a região Oeste, que tem um poder de influência muito grande. É claro que a segunda maior cidade do estado é muito importante em todos os aspectos e não apenas políticos. Temos uma força econômica impressionante, uma cidade universitária e uma região bastante rica, embora não receba a devida importância. É claro que é importante a cidade ter representantes no Governo do Estado, na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados. Vejo que essa é a importância maior da presença de Mossoró nas disputas majoritária e proporcional.
A GESTÃO passada, do ex-prefeito Silveira Júnior, foi muito ruim para a saúde pública. Os índices de assistência caíram assustadoramente, além de desconfianças sobre o uso da verba carimbada da saúde. O sistema ainda sofre as consequências. Como essa estrutura pode ser recuperada?
A ERA Silveira destruiu a saúde pública de Mossoró. É fato. O cidadão sabe disso, tanto que ele sequer teve as condições para pedir um novo mandado aos mossoroenses. O sofrimento foi e ainda é muito grande. Na gestão dele, praticamente todos os serviços foram desativados, com a exceção de uma UPA do Belo Horizonte (zona sul), que foi ativada muito mais por uma bandeira política, quando ele ainda era prefeito interino. Veja que, mais uma vez, estou falando que a parte política se sobrepõe à técnica. O governo de Silveira foi desastre não apenas na saúde, mas em todas as áreas do município. O mais grave é que essa ação devastadora sobrecarregou a atual administração municipal, principalmente com dívidas enormes, não honradas na gestão passada.
PODE citar fato concreto?
SIM. O Hospital Wilson Rosado, por exemplo, passou quatro meses aguardando os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), que são transferidos pelo Ministério da Saúde, e ele não fez o devido repasse. Esses recursos são carimbados, não podem ser usados em outras despesas que não sejam da saúde. Silveira não fez o repasse e esse dinheiro desapareceu, até hoje ninguém sabe onde foi parar. Essa é uma situação criminosa, que as instituições responsáveis pela fiscalização dos recursos públicos devem investigar. Esse caso retrata, com fidelidade, como o ex-prefeito cuidou do dinheiro da saúde e de como ele destruiu toda a estrutura de assistência pública.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.