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Postado às 11h45 | 07 Set 2018 | Faca de dois gumes

Crédito da foto: Reprodução Candidato Jair Bolsonaro sofreu atentado durante atividade de campanha

Se a corrida presidencial estava chata, e estava, acabou de receber uma cutilada capaz de atrair o grande público para a arena eleitoral.

A um mês da eleição, nenhum presidenciável havia conseguido mobilizar e/ou empolgar o eleitor para o processo sucessório. Nem mesmo o maior líder de massa deste País, Lula, com a sua estratégia de engabelar a boa vontade do cidadão, direto da carceragem da Polícia Federal de Curitiba (PR), teve a competência de alterar o clima, exceto o “Fla-Flu” enfadonho e chato das redes sociais.

Coube a um maluco/criminoso, mais criminoso do que maluco, jogar os holofotes sobre a disputa presidencial com a ponta de sua faca. Ao furar a barriga de Jair Bolsonaro (PSL), o odiado/amado e controverso candidato líder das pesquisas, o agressor fez a campanha começar, de forma efetiva.

Não há, nesse momento, como afirmar o que vai acontecer com Bolsonaro, nem com os seus concorrentes mais próximos. Nem os coordenadores têm ideia como agir. Estão todos desnorteados, mas consciente que precisam agir rápido porque a campanha começou.

Um dia antes do atentado, Bolsonaro apareceu como líder da pesquisa Ibope/Globo, com 22% de intenção de votos, 10 pontos à frente do segundo colocado. A performance do polêmico candidato reforçou a estratégia dos adversários, de direcionar todas as armas (de campanha) contra ele.

A liderança, porém, não fazia Bolsonaro favorito absoluto, e sequer havia certeza que ele passaria para o segundo turno. Deve ser observado, também, que a mesma pesquisa Ibope apontou que num eventual segundo turno, Bolsonaro perderia para Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, e só venceria o petista Fernando Haddad.

A facada que jogou Bolsonaro num leito de hospital criou nova perspectiva, com a possibilidade de fortalecimento político do candidato do PSL. É claro que o capitão vai concentrar todas as atenções dos brasileiros, mesmo fora das ruas enquanto se recupera do ataque criminoso. Haverá, como já está havendo, uma superexposição nos telejornais, nas redes sociais, ou em qualquer quina de rua. O assunto é um só: Bolsonaro.

Daí, o desafio dos comitês de campanha dos adversários que nesse momento se tornaram meros coadjuvantes. E o que os comitês farão? O bombardeio contra o candidato verde oliva será mantido ou a artilharia será suspensa temporariamente para não potencializar ainda mais a condição de vítima do capitão?

Não custa lembrar que o cidadão-eleitor muda de humor quando surge uma vítima. O povo adora vítima, já dizia uma velha raposa política. Nas eleições de 2014, quando Eduardo Campos morreu, o então candidato do PSB, ele pontuava na pesquisa entre 5% a 7%. Foi substituído na cabeça da chapa por Marina Silva. Na pesquisa seguinte, Marina apareceu na segunda colocação com 21%, contra 20% de Aécio Neves (PSDB) e 36% de Dilma Rousseff (PT). Dias depois, em outra pesquisa, Marina chegou a empatar com Dilma na faixa dos 34%.

É certo que Marina não sustentou a boa caminhada e sequer passou para o segundo turno, por incapacidade mesmo. Trazendo o exemplo para o momento atual, deve ser visto que Bolsonaro não é “barata morta”, nem seus adversários têm potencial como tinha Dilma e Aécio em 2014.

Bolsonaro transformou o seu martírio em palanque eleitoral, com transmissão ao vivo de tudo que acontece ao seu redor, mexendo com o sentimento do menos esclarecidos. Ele sabe fazer isso, reconheça-se.

Pois bem.

A campanha presidencial, que já era a mais estranha de todos os tempos, cheia de ineditismo, agora se tornou esdrúxula. Seus principais personagens, que ao longo dos últimos meses vêm induzido o clima de intolerância e extremismo, passaram agora a estrelar no leito de um hospital, Bolsonaro, e na carceragem da Polícia Federal de Curitiba, Lula.

E ninguém, absolutamente ninguém, tem se mostrado capaz de devolver a política e o Brasil aos trilhos da democracia saudável.

Infelizmente.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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