Sexta-Feira, 26 de abril de 2024

Postado às 10h30 | 29 Out 2018 | Coluna César Santos - 29 de outubro

Crédito da foto: Reprodução Fátima Bezerra, entre Ezequiel Ferreira e Antenor Roberto, em entrevista à imprensa

A DIFÍCIL MISSÃO DA FUTURA GOVERNADORA

Na primeira entrevista como governadora eleita do Rio Grande do Norte, minutos depois do veredicto das urnas, a senadora Fátima Bezerra (PT) pregou a construção de um estado unificado para enfrentar a difícil missão de tirar o estado do caos: “Teremos um governo de diálogo, um governo de união, para construir um RN que tenha paz, segurança, dignidade e empregos para o nosso povo.”

Fátima Bezerra tem a noção de como assumirá o Governo em 1° de janeiro de 2019. É consciente que os mais de 1 milhão de votos que a consagraram nas urnas pouco servirão se ela não conseguir a sua governabilidade. Para isso, o diálogo é a única via. A campanha deixou sequelas, dado o acirramento na reta final. Por consequência, a divisão radical que se estabeleceu. E isso não é bom, nem abre horizontes.

O Rio Grande do Norte vive uma das piores crises de sua história. Áreas vitais, como saúde e segurança pública, estão totalmente fragilizadas. O número crescente de assassinatos, arrastões, arrombamentos, assaltos e explosão de agências bancárias é tão grave quanto as macas com pacientes em corredores dos hospitais públicos ou os índices deploráveis do ensino público estadual.

Pior é o desequilíbrio fiscal que condena o cofre do Estado. As contas públicas estão desarrumadas. Basta observar que todos os meses, a Previdência Social fecha com um “rombo” de R$ 110 milhões, algo em torno de R$ 1,3 bilhão por ano. O resultado disso é aterrador. Castiga todos os setores e massacra, principalmente, o funcionalismo público.

O atual governo não consegue pagar salários em dia desde janeiro de 2016. Entre o segundo semestre de 2017 e o primeiro semestre de 2018, os servidores amargaram mais de 60 dias sem receber salários. Parte da categoria, formada pelos que ganham acima de R$ 4 mil, ficou quase três meses sem salário.

A situação é gravíssima. Muito provavelmente, o governador Robinson Faria (PSD) jogará para a sucessora parte dos salários de 2018. A dois meses e dois dias do final do ano, o Governo tem quatro folhas completas para honrar: outubro, novembro, dezembro, 13° salário de 2018 e, ainda, parte do 13° salário de 2017.

Informações de pessoas da equipe econômica do Governo sugerem que muito dificilmente Robinson Faria entregará a folha em dia à sua sucessora. Pior ainda: sem qualquer perspectiva de reduzir o volume de dívidas com fornecedores e outras obrigações. Em melhor português: Fátima herdará uma enorme dívida.

Pois bem.

Fátima Bezerra sabe da situação, e quando decidiu trocar o mandato de senadora da República para concorrer e ganhar o Governo do Estado, certamente estava consciente da missão que enfrentará.

A promessa de melhorar a saúde pública, garantir segurança e melhorar a vida da população, embora sem apresentar propostas claras e concretas, foi comprada por 1.022.910 potiguares e agora, assim como todo cidadão, espera que a partir de 2019 o Rio Grande do Norte reencontre o melhor caminho.

Que Deus ilumine a governadora eleita e a todos nós.

 

FRASE

"O RN pode ter certeza que serei a governadora de todos e de todas."

FÁTIMA BEZERRA – Governadora eleita do Rio Grande do Norte.

 

O TROCO DE CIRO

 Da carceragem da PF de Curitiba, o ex-presidente Lula esvaziou a candidatura de Ciro Gomes (PDT). Retirou o apoio de partidos importantes do "centrão", deixando Ciro e o PDT sozinhos. No segundo turno, o PT precisou do apoio de Ciro para acordar o "poste" Fernando Haddad. O troco veio de forma direta: "Eu não quero fazer campanha para o PT nunca mais", decretou.

 

DIA CALMO

 O segundo turno das eleições transcorreu na maior tranquilidade em Mossoró e nos municípios interioranos. Em Natal, algum excesso ali outro acolá. Nada, porém, que exigisse mais dos agentes de segurança. O acirramento que antecedeu o dia do voto não resistiu à força da democracia; aliás, como deve ser sempre. Daí, o pequeno número de ocorrências e dia calmo.

 

"ZUMBI"

 O presidente Michel Temer disse, após ter votado no segundo turno, disse que a transição de governo começa já nesta segunda-feira (29). Temer entra para a história como o presidente "não eleito" com a impopularidade recorde de mais de 90% e sem ter concorrido à reeleição por tal motivo. A partir de 1° de janeiro de 2019, sem o foro privilegiado, ele responderá a processos por crime comum.

 

PIFOU

 O número de urnas que precisaram ser trocadas em todo o país neste segundo turno foi de 4.658, segundo boletim do TSE. O número representa mais de 1% do total das 454,4 mil urnas. A quantidade de urnas trocadas supera a do primeiro turno, quando 2,4 mil equipamentos foram substituídos. Houve votação manual em três cidades: Cordislândia (MG), Apuí (AM) e Saubara (BA).

 

PACIFICAR

 O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), em sua primeira entrevista, afirmou que o seu governo respeitará a democracia, a liberdade de expressão e Constituição. Pregou a pacificação e garantiu que vai governar para todos. O capitão vai precisar, e muito, dos brasileiros.

 

RECORDE

 Fátima Bezerra (PT) aumentou a maioria sobre Carlos Eduardo (PDT) em relação ao primeiro turno. Subiu de 222.217 votos para 269.875 votos no segundo turno. A petista é a primeira a ser eleita ao Governo do RN com mais de 1 milhão de votos.

 

CANTEIRO

 A vitória de Fátima Bezerra em Mossoró, terra do candidato a vice-governador Kadu Ciarlini (PP), da chapa derrotada, foi maior do que no primeiro turno, que teve maioria de 9.391 votos. No segundo turno, a diferença aumentou para 10.568 votos. Números que vão para a conta – negativa – da prefeita Rosalba Ciarlini (PP).

 

PÁTRIA DO PT

 O PT foi o partido que elegeu o maior número de governadores: 4. Todos no Nordeste (Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte). A "pátria petista" ajuda a entender a votação – espontânea e avassaladora – que Fátima recebeu neste domingo (28).

 

ABSTENÇÃO

 O segundo turno das eleições teve a maior abstenção desde 1998: 31.308.796 brasileiros não foram às urnas neste domingo. Esse total representa 21,29% do eleitorado brasileiro.

 

PRIMEIRO SUPLENTE

 O engenheiro Jean Paul Prates será senador da República a partir de janeiro de 2019. Carioca da gema, com trabalho na área de petróleo no RN, ele foi beneficiado com a vitória da amiga Fátima Bezerra.

 

 É NOTÍCIA

1 - Nesta data, em 1945, Getúlio Vargas era deposto por movimento militar. José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), assumia provisoriamente o comando do país.

2 - O vereador Francisco Carlos (PP) lança nesta terça-feira, 30, o livro " Breve – Passagens sobre o tempo, o vento, as pessoas e a cidade". O lançamento acontece no estande da Livraria Independência, dentro da programação da Feira do Livro de Mossoró, às 19h.

3 - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, pregou a pacificação após a voz soberana das urnas e afirmou que o Judiciário brasileiro será "moderador".

4 - Os carros-fumacê começam a circular hoje na área urbana de Mossoró para combater o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. Trabalho das 4h às 18h.

5 - Os eleitores de Jair Bolsonaro se concentraram no Corredor Cultural para comemorar a vitória em Mossoró. Os eleitores de Fátima Bezerra foram para a Presidente Dutra. Tudo em paz.

6 - Fernando Haddad, o candidato do PT derrotado nas urnas, pediu coragem aos seus eleitores e disse que vai exercer a missão política, que é fazer oposição ao governo Jair Bolsonaro (PSL).

7 - As eleições gerais de 2018 entram para a história por vários aspectos surpreendentes. Um deles é que a televisão assistiu à internet conduzir o debate em todo o Brasil.

8 - A turnê de Roger Waters no Brasil chegou ao fim, deixando um rastro de problema dos seus produtores com a Justiça. O ex-Pink Floyd fez campanha contra Jair Bolsonaro (PSL), propagando o "Ele Não". O ministro Jorge Mussi, do TSE, abriu prazo para a defesa e, a partir daí, decidirá se acata ação proposta pelo PSL.

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César Santos
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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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