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Postado às 09h45 | 31 Out 2018 | 'Velha política' será a base do governo Fátima Bezerra na AL

Crédito da foto: Cedida Ezequiel Ferreira, do PSDB, e Fátima Bezerra, do PT, comemoram vitória abraçados

A governadora eleita Fátima Bezerra (PT) é consciente que vai precisar negociar com partidos e lideranças políticas tradicionais para garantir a governabilidade. Na Assembleia Legislativa, que renovou o mandato de 15 dos atuais 24 deputados, ela precisará de um interlocutor que conheça a Casa para formação de uma bancada capaz de estabelecer uma maioria sólida para aprovar os projetos que o futuro governo julgará importantes para o Estado.

O desafio não parece fácil. Apesar de sua vitória maiúscula e histórica, com mais de 1 milhão de votos, Fátima Bezerra viu a sua coligação – “Do Lado Certo” – eleger apenas três deputados estaduais: Isolda Dantas e Francisco do PT, do PT, e Manoel da Cunha Neto, “Souza”, do PHS. Número pequeno e pouca experiência. Apenas Souza, que cumprirá o segundo mandato, conhece os caminhos do Palácio José Augusto, mesmo assim, nunca ocupou posição de destaque.

Daí, a futura governadora precisará recorrer a uma velha raposa da política potiguar: Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB), atual presidente da Assembleia Legislativa. Aliado do segundo turno, quando levou o PSDB para o palanque do PT, Ezequiel está disposto a construir a bancada governista, mas para isso tem um preço já colocado na mesa: a sua reeleição na presidência da Casa. Fátima Bezerra está disposta a pagar.

Para mostrar força, Ezequiel levou um grupo forte para a campanha de Fátima no segundo turno. Na lista, nomes como os deputados reeleitos Raimundo Fernandes (PSDB) e Galeno Torquato (PSD), que aceitaram dividir palanque em São Miguel, no Alto Oeste, cidade onde são adversários ferrenhos. Outros deputados se somaram com Fátima e a petista acabou vencendo o segundo turno com 13 deputados eleitos no seu palanque (veja quadro nesta página).

Fátima reconheceu a importância de Ezequiel na caminhada do segundo turno. Na primeira entrevista pós-eleição, fez questão de posicionar o presidente da Assembleia Legislativa ao seu lado. Nas comemorações, o abraço forte de quem está disposta a ter o líder tucano como novo parceiro político e na administração estadual.

“Recebi apoio pela porta da frente”, discursou Fátima ao se referir a Ezequiel e procurando desfazer a ideia do “toma lá dá cá”, que ela criticou durante a campanha. E Ezequiel afirmou: “Demos nosso irrestrito apoio a Fátima. Agora é hora de trabalhar. É urgente a necessidade de se baixar as bandeiras e buscar soluções para a grave crise que o estado enfrenta nos mais diversos setores.”

Vale lembrar que Ezequiel Ferreira desembarcou no governo Robinson Faria na reta final, levando uma bancada de oito deputados. No primeiro turno, o tucano apoiou a reeleição de Robinson e fez duras críticas à candidata Fátima Bezerra. No segundo turno, levou novo discurso à praça pública, afirmando que era hora da mudança com a eleição de Fátima.

 

VEJA A POSIÇÃO DOS DEPUTADOS ELEITOS NO 2o TURNO

FÁTIMA BEZERRA (PT) – 13 deputados

Ezequiel Ferreira (PSDB)

Raimundo Fernandes (PSDB)

Galeno Torquato (PSD)

Souza (PHS)

Isolda Dantas (PT)

Francisco do PT (PT)

George Soares (PR)

Sandro Pimentel (Psol)

Kleber Rodrigues (Avante)

Vivaldo Costa (PSD)

Albert Dickson (Pros)

Ubaldo Fernandes (PTC)

Eudiane Macedo (PTC)

 

CARLOS EDUARDO (PDT) – 6 deputados

Dr. Bernardo (Avante)

Getúlio Rêgo (DEM)

Gustavo Carvalho (PSDB)

Tomba Faria (PSDB)

Hermano Morais (MDB)

Coronel Azevedo (PSL)

 

NEUTRO - 5 deputados

Kelps Lima (Solidariedade)

Alysson Bezerra (Solidariedade)

Nélter Queiroz (MDB)

Cristiane Dantas (PPL)

José Dias (PSD)

‘Servidores fantasmas’ assustam futuro da ALRN

Ezequiel Ferreira de Souza foi eleito e reeleito presidente da Assembleia Legislativa com apoio ao governador Robinson Faria (PSD). No início da atual legislatura, ele se aliou ao governador para derrotar o deputado Ricardo Motta (PSB), que tentava reeleição. Conseguiu. Meses depois, também com apoio do governo, Ezequiel antecipou a sua reeleição, com os votos da maioria da Casa.

O presidente foi responsável pela aprovação de quase todos os projetos encaminhados à Assembleia Legislativa pelo Executivo. Alguns polêmicos, como a autorização para o governador Robinson antecipar receitas dos royalties de petróleo e gás. Também foi responsável pela aprovação das contas do Governo, exercício 2016, que haviam sido reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RN).

Foram votações polêmicas, mas que Ezequiel decidiu bancar. No entanto, o maior desgaste do presidente é a Operação Canastra Central, que desmantelou um esquema criminoso de desvio de recursos da Assembleia Legislativa através de “servidores fantasmas”. A investigação do Ministério Público Estadual alcançou pessoas bem próximas a Ezequiel.

Na operação, foi presa a então chefe de gabinete da presidência da Assembleia, Ana Augusta Simas (foto acima). Também foram cumpridas buscas e apreensões em endereços do secretário geral da Casa, Carlos Augusto Viveiros, tio-afim de Ezequiel.

Com as investigações em andamento, as atenções se voltam para o Palácio José Augusto, com reflexo no cargo máximo da Casa.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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