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Postado às 10h15 | 11 Nov 2018 | EUA: Democratas conquistam vitórias no ciclo eleitoral 2018

Crédito da foto: Reprodução Donald Trump é o presidente dos Tados Unidos

(*) João Paulo Jales dos Santos.

A última terça-feira, dia 6, foi dia de eleição geral nos Estados Unidos. Eleição de meio de mandato presidencial. Onde estiveram em jogo a nível nacional, os 435 assentos da Casa dos Representantes, equivalente à nossa Câmara Federal, 35 assentos do Senado Federal, 36 disputas para governos, além de centenas de eleições legislativas estaduais para o senado e a câmara, e tantos outros cargos eletivos. Os democratas, após 8 anos, reconquistaram o controle da Casa dos Representantes.

Segundo contagem da rede de TV CNN, o partido possui 225 cadeiras garantidas, os republicanos, 200; faltando serem definidas 10 cadeiras, onde as disputas estão muito próximas, e a apuração dos votos segue para que os vencedores possam ser conhecidos.

Com 225 cadeiras conquistadas, os democratas, até o momento, possuem um ganho líquido de 30 assentos. Podendo chegar a 35, conforme previsão de analistas que acompanham as últimas 10 vagas da Casa dos Representantes ainda não decididas.

No Senado Federal, os republicanos mantiveram o controle da casa legislativa. Há 3 estados onde as eleições ainda não foram definidas. No Mississipi, como nenhum candidato obteve mais de 50% dos votos, a eleição vai para um 2º turno. Aqui, nesse estado sulista, a republicana Cindy Hyde-Smith, é favorita para manter seu assento.

No Arizona, a disputa está muito próxima entre a democrata, Kyrsten Sinema, e a republicana, Martha McSally, e a apuração segue, faltando centenas de milhares de cédulas serem contabilizadas. Até o momento da apuração, Sinema lidera, tendo ultrapassado a liderança que cabia até quinta-feira a McSally.

Na Flórida, a eleição será definida após uma recontagem dos votos. A diferença de apenas 0,18% dos votos entre o senador democrata, Bill Nelson, e o republicano, Rick Scott, obriga, pela lei eleitoral da Flórida, uma recontagem automática. Segundo a constituição estadual, se a diferença entre candidatos estiver abaixo de 0,5% dos votos, uma recontagem automática é constitucionalmente acionada. Esta lei na Flórida é consequência da duríssima recontagem presidencial da eleição de 2000, quando o democrata Al Gore, em virtude da liderança de George W. Bush estar abaixo de 2.000 votos, acionou judicialmente uma recontagem das cédulas de votação.

O resultado da eleição no Senado do Arizona deve sair até a próxima semana. Caso Sinema vença, sua vitória representará um feito e tanto nesse estado do sudoeste americano. Faz 24 anos que um candidato democrata não vence uma corrida eleitoral ao Senado do Arizona, estado que há alguns anos votava confiavelmente nos republicanos nas eleições presidenciais, mas que vem se tornando um estado de indefinição.

Uma provável vitória de Sinema, sinaliza que o Arizona, na eleição presidencial de 2020, será um estado definitivamente campo de batalha entre democratas e republicanos. Na Flórida, a recontagem segue, enquanto a diferença entre Rick Scott e Bill Nelson vem bruscamente diminuindo. Nelson é atual senador pelo estado, e Scott se licenciou do cargo de governador para disputar a indicação pelo lado republicano. A recontagem se dará, principalmente, no condado de Broward, que fica no sudeste do estado e é o 2º condado mais populoso da Flórida.

Em Broward, Bill Nelson vence Scott por pouco mais de dois terços dos votos. Em 2000, Broward já havia sido um campo de batalha pela recontagem dos votos entre Al Gore e Bush, e após quase 20 anos da recontagem daquela eleição presidencial, onde Bush venceu na Flórida por míseros 537 votos, o condado de Broward continua com os mesmos problemas nas suas cédulas de votação, que levam o eleitor a fazer confusão na hora de votar.

Os democratas perderam os assentos do Senado nos estados do Missouri, Indiana e Dakota do Norte. Tomaram das mãos republicana o assento de Nevada. Até agora, os republicanos possuem um ganho líquido de 2 cadeiras no Senado.

Perdas democrata relativamente pequenas, vide que dos 35 assentos do Senado que estavam em jogo neste pleito, os democratas detinham 26 assentos, sendo que 10 destes assentos eram mantidos por democratas que viram Trump vencer em seus estados na eleição de 2016. As perdas de senadores democrata que tentavam reeleição no Missouri, Indiana e Dakota do Norte, se deve, de sobremodo, ao perfil republicano destes estados.

Nas disputas eleitorais nos estados, os republicanos perderam os governos de Nevada, Novo México, Kansas, Wisconsin, Illinois, Michigan e Maine. Conseguiram manter sob seu controle os governos de Iowa e Ohio, estados do Meio-oeste americano, onde Trump em 2016. Ainda há indefinição na Geórgia, onde a apuração continua com uma remota possibilidade de haver 2º turno.

Enquanto que na Flórida, a diferença abaixo de 0,5% levará a eleição para uma recontagem automática. Dos 7 governos que os democratas tiraram do mando dos republicanos, merece especial atenção os ganhos em Kansas, Wisconsin e Michigan. Kansas, um estado profundamente republicano, votou numa democrata para o governo depois de 8 anos de um mandato republicano que cortou profundos impostos e levou ao subfinanciamento e sucateamento dos serviços públicos no estado. A democrata eleita, Laura Kelly, terá um enorme desafio pela frente ao fazer uma administração que melhore a provisão dos serviços públicos, reequilibrando as finanças públicas do Kansas.

Em Wisconsin, os democratas derrotaram o conservador Scott Walker, que tentava um 3º mandato, possibilitado pela legislação estadual. Walker foi eleito em 2010, e desde então fez de seu governo vitrine conservadora com cortes de impostos, desregulamentações, enfraquecimento de sindicatos e das leis de legislação trabalhista. Há tempos que os democratas buscavam derrota-lo em Wisconsin, estado com tradição progressiva, que foi o 1º do país a implementar leis de garantias trabalhistas.

O democrata eleito, Tony Evers, que carrega consigo credenciais de um democrata que agrada e muito a forte base operária do estado, terá em suas mãos a tarefa de reencaminhar Wisconsin para a tradição progressiva que detém este estado do Meio-oeste, que deu vitória a Trump em 2016. Michigan, assim como Wisconsin, é estado de forte tradição proletária, que os democratas reconquistam após 8 anos de mandato republicano. A governadora eleita, Gretchen Whitmer, é uma liderança jovem e bastante articulada, se fizer um bom governo, se credencia para se tornar uma figura de liderança nacional do partido.

Apesar de voltar a controlar à Câmara após 8 anos de liderança republicana, e ter vencido 7 governos, os democratas não estão muito entusiasmados com os resultados deste ciclo eleitoral. O partido sente que poderia ter vencido em mais estados, bem como ter perdido menos assentos no Senado. No entanto, apesar de não ter sido uma noite fenomenal para o partido, suas vitórias representam marcos eleitorais importantes.

Os democratas reconquistaram o controle da Câmara porque derrotaram os republicanos em dezenas de subúrbios pelo país. Subúrbios estes, que há pouco tempo, eram fortalezas republicanas, mas que paulatinamente vem votando em democratas. Mesmo não tendo conseguido vencer para o governo em Ohio, o partido viu seu senador, Sherrod Brown, ser reeleito num estado que deu vitória a Trump em 2016. Bem como viu as reeleições de seus senadores em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, que foram cruciais para a vitória de Trump há 2 anos. O partido ainda conseguiu manter seus assentos senatoriais em estados fortemente republicanos.

Montana e Virgínia Ocidental, deram mais 6 anos de mandato aos democratas Jon Tester e Joe Manchin, respectivamente. Mesmo perdendo no Texas, o democrata Beto O’Rourke, liderança carismática e emergente, perdeu com uma diferença de pouco menos de 3% dos votos, num estado relativamente republicano, que em 2020 tende a ser um campo de batalha presidencial. E mesmo a corrida do governo da Geórgia estando para ser decidida em alguns dias, os democratas viram sua candidata, Stacey Abrams, fazer avanço eleitoral num estado que progressivamente vem se tornando menos republicano.

Esta eleição de 2018 é indicativo para a eleição que virá daqui a 2 anos. Estará em disputa vagas para o Senado, governos estaduais, deputados federais, e outros cargos estaduais, além da almejada Presidência. Após uma dura derrota em 2016, os democratas obtiveram avanços neste ciclo eleitoral, a questão é saber como irão administrar esses ganhos. Nancy Pelosi, a desgastada líder da minoria democrata na Câmara dos Deputados, após anos de ser apontada como principal causa para os insucessos do partido, trouxe a agremiação ao controle da casa legislativa.

A liderança de Pelosi será contestada por uma variedade de democratas progressistas que foram eleitos e que querem levar o partido mais à esquerda do espectro político. Nancy, mesmo que reconduzida a líder do partido, terá que lidar com o controle político que seu partido terá na Câmara sob uma administração presidencial republicana.

No controle da Câmara, os democratas terão responsabilidades política e administrativa que antes não detinham. Se não souberem dosar politicamente este ganho, poderão se ver em maus lençóis em 2020, que por sinal, começará dentro de poucos meses. Pois as eleições que ocorrerão daqui a 2 anos, já começa a movimentar Washington. Dentro de meses, vários candidatos democratas e republicanos se lançarão a nomeações de seus partidos para as centenas de cargos eletivos que vão estar em disputa em 2020. Em meados de 2019, começará a corrida para a nomeação presidencial democrata. E no lado republicano, virar-se-á, se Trump será tranquilamente reconduzido como candidato a reeleição, ou se enfrentará disputa credível dentro do próprio partido. A ala da direita moderada e estabelecida republicana se encontra fragilizada após o resultado de 2018.

Trump pode ser facilmente reconduzido a nomeação do partido, e a depender do cenário em 2020, conseguir aquilo que em 2016 a imensa maioria das pessoas não acreditava, vencer a Presidência. Caso conquiste uma reeleição, dada como remota na atual conjuntura, Trump irá imprimir no Partido Republicano uma marca política que perdurará por alguns anos. No rastro do resultado eleitoral de 2018, é aguardar, porque 2020 nos Estados Unidos, acabou de começar.

(*) João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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