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Postado às 14h00 | 23 Dez 2018 | 2019: Ano decisivo para transição eleitoral americana

Crédito da foto: Reprodução Presidente americano Donald Trump

(*)  João Paulo Jales dos Santos

2019, se iniciará com o governo Trump sem a maioria republicana na Câmara dos deputados. Até aqui, a perda do GOP (partido republicano), foi de 41 cadeiras. O ganho líquido do partido democrata está em 40 assentos. Ainda falta o resultado oficial do 9º distrito congressional do estado sulista da Carolina do Norte.  Por lá, alegações de fraudes, que vieram à tona dias após o republicano Mark Harris vencer numa disputa apertada, se tornaram cada vez mais evidentes, conforme o colegiado eleitoral de justiça do estado começou a receber denúncias de que um funcionário de campanha do republicano recolheu centenas de cédulas eleitorais antecipadas, aquelas enviadas por correio, que poderiam facilmente alterar o resultado da eleição neste distrito, onde Mark Harris venceu seu oponente democrata por menos de 1 mil votos.

A pendenga judicial será longa, levará meses, e tudo indica que o 9º distrito congressional da Carolina Norte passará por uma nova eleição, que deve vir a acontecer lá para meados de 2019. Se o candidato democrata, Dan McCready, vier a vencer esta eleição especial que se avizinha, o partido democrata chegará ao número de 236 assentos na Câmara dos deputados.

Número que poderia ter sido bem maior, com mais de 250 assentos, se dezenas de distritos em estados como a própria Carolina do Norte, Indiana, Michigan, Missouri, Ohio, Texas, Wisconsin, dentre outros, não tivessem passado pelo processo que os americanos chamam de gerrymandering, estratégia utilizada pelo GOP desde 2010, quando naquele ano, o partido assumiu o controle de vários governos e casas legislativas estaduais, e fez um agressivo redesenho de distritos em vários estados do país, sobretudo em estados do Sul e do Meio-oeste, que aumentou o número de representantes republicanos, em detrimento de menos possiblidade de deputados democratas.   

A diferença que os democratas colocaram sob os republicanos no voto popular da Câmara Federal, atinge a marca de 8,6%, diferença considerável, e alta, que representa a maior na votação popular da casa congressional federal em décadas. Após 8 anos na condição de minoria, 6 desses no governo de Barack Obama, os democratas voltam ao controle na Câmara num momento extremamente delicado do governo Trump, que encerra dezembro de 2018 sob fortes abalos políticos, e com auspícios de um 2019 ainda mais turbulento.

Não será uma tarefa fácil para os democratas governar sua própria maioria, a líder do partido na casa, Nancy Pelosi, que há anos sofre fortes críticas tanto de republicanos quanto democratas, levou o partido de volta a posição de maioria, e terá que manter sua própria permanência como líder partidária, e caso consiga, administrará uma diversa coalização democrata. Diversa tanto ideologicamente quanto racialmente.

Muitos dos novos membros da legenda, junto com os que já eram deputados, são da esquerda progressista, movimento da ala mais à esquerda democrata, e que terão uma alta representação de membros, quase 100 deputados dos mais de 230 democratas eleitos, passando a ter considerável poder de barganha para influenciar as decisões políticas e legislativas que o partido terá sob o controle da casa. Ainda mais divididos entre as alas progressista e a do establishment, os democratas terão uma maioria que talvez possa se tornar um problema, caso não bem administrada. Se o partido resolver agir ativamente com a maioria que passará a ter a partir de janeiro, corre o risco de tomar para si responsabilidades de decisões erráticas, e com isso, beneficiar Donald Trump.

A decisão sensata, é de os democratas imporem na votação as demandas programáticas de sua base social-eleitoral, agindo pontualmente em momentos decisivos da administração federal, e deixando Trump por conta e risco tropeçar. Trump, por si mesmo, nem precisa de oposição, o presidente é um sujeito intempestivo, e fortemente mercurial, que tem a capacidade de causar repulsa popular pelo seu modo troglodita, e autossuficiente, que recai num emaranhado de desastres políticos. Se bem dosada, a administração política da maioria democrata na Câmara dos deputados, poderá fazer com que na eleição de 2020, o partido consiga mais alguns assentos para somar nas suas fileiras.

2019, é também início da disputa presidencial de 2020. Tradicionalmente, é em junho, quase um ano e meio antes da data da eleição, que os candidatos, principalmente os da oposição, se lançam em campanha para a disputa das primárias estaduais, que garantem a indicação do candidato na convenção do partido, que ocorre entre os meses de julho e agosto do ano da eleição. A atual lista dos prováveis candidatos democrata passa dos 30, mas daqui até o início das primárias, que se iniciarão nos primeiros meses de 2020, a lista tende a diminuir, e a escolha ficar centrada em no máximo 3 candidatos para ser nomeado (a) à indicação da legenda.

Do lado republicano, a dúvida é se Donald Trump enfrentará adversários. É de praxe, que o presidente que tem a possibilidade de disputar a reeleição, não enfrente forte oposição dentro de seu próprio partido. Mas Trump não é qualquer presidente. É o mandatário com a maior taxa de reprovação popular em décadas da história americana, além de ser um ‘outsider’, que enfrenta a fúria de muitos membros do establishment e da ala centrista republicana. A depender do cenário, as primárias para a indicação do candidato presidencial republicano, pode vir a ser mais movimenta que as primárias democrata.

O comportamento dos grupos de Donald Trump e o da ala moderada republicana, será o fato que decidirá, de sobremaneira, os caminhos para a nomeação da legenda. A tendência é de confrontos intensos, que podem levar o GOP a um cenário ainda mais divisionista do que o visto em 2016, quando Trump passou por cima de todos e de tudo, e conquistou a indicação presidencial.

Com a eleição de meio mandato presidencial de 2018 já praticamente encerrada, só faltando alguns poucos votos de disputas estaduais serem totalmente contabilizados, e com uma possível disputa especial no 9º distrito da Carolina Norte, o pleito deste ano traz importantes considerações para as duas agremiações.

Para os republicanos, considerações de que as percas em zonas eleitorais suburbanas, principalmente aquelas de alta renda, são uma provável implosão na espinha dorsal do partido. A classe média alta suburbana, por décadas, votou fielmente no GOP. Os democratas conseguiram retomar o controle da Câmara Federal, justamente, porque derrotaram os candidatos republicanos nos diversos tipos de subúrbios, em especial, os altamente educados e ricos.

A tendência é que os subúrbios virem a mesa do tabuleiro político americano, e se tornem majoritariamente democratas. Mudança que representa um duro golpe no GOP, que passa a ver seu eleitorado basicamente restrito as zonas rurais e as cidades de porte médio, portanto, zonas menos habitadas, mais velhas e mais brancas, que acaba por deslocar o eleitorado republicano médio para o lado quantitativo de menor número de eleitores.

Para os democratas, a preocupação são exatamente as zonas rurais, locais em que o partido há um tempo vem perdendo cada vez mais eleitores, e que se torna um grave fator de risco, principalmente, nas eleições do Senado Federal em estados com imensas zonas rurais, fortemente alistadas de eleitores que votam em candidaturas republicanas. Os candidatos democratas de Indiana, Missouri e Dakota do Norte, perderam suas reeleições, porque disputaram em estados onde as zonas urbanas são uma fatia menor do eleitorado.

Como no Senado, a representação não é proporcional, como na Câmara dos deputados, e sim uma representação igualitária entre todos os entes federados, as derrotas dos democratas em estados muito rurais, colocam em risco a possibilidade do partido retomar controle do Senado em 2020. No entanto, como em 2020, os republicanos estão mais vulneráveis, por terem que defender um maior número de assentos a reeleição do que os membros democratas, o fator de risco pode recair sob o GOP, caso Donald Trump seja um candidato que torne as candidaturas senatoriais de seu partido, tóxicas.

A boa notícia para os democratas, é que estados populosos como Texas e Geórgia, ainda relativamente republicanos, caminham para se tornarem campos de batalha em jogo na presidencial de 2020. A vitória da democrata ao senado do Arizona, Kyrsten Sinema, e a quase vitória do democrata Beto O’Rourke no Texas, estados que desde o fim da década de 80 não vem elegendo democratas para o senado, indica que as perdas nos estados rurais, podem ser compensadas com as vitórias em estados que há tempos não vinham elegendo democratas. A isso, soma-se que as reeleições dos senadores do partido em Ohio, Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, estados que foram decisivos para a derrota de Hillary em 2016, indica que a poderosa classe trabalhadora dos estados do Meio-oeste, quando seduzida por propostas sociais e trabalhistas progressivas, se realinham as fileiras democrata.

2019, é o ano intercalar da eleição de 2020. É um ano crucial, onde o mandato de Donald Trump pode se recuperar, ou sinalizar para aquilo que se avizinha, se afundar de vez no caos político-administrativo. A disputa em torno da indicação democrata pode levar o partido mais à esquerda do espectro político.

Com uma base cada vez mais diversa étnico-racialmente, que demanda por uma plataforma programática comprometida com a ampliação da rede de seguridade social, o fortalecimento dos sindicatos, gratuidade nas matrículas das universidades, e um sistema de saúde menos privatizado, tende a guiar a nomeação democrata para uma candidatura que seja capaz de fortificar a base eleitoral-social da legenda, e que seja capaz de atrair para a zona de influência a classe trabalhadora branca dos estados do Meio-oeste, que desde 1970, vem sendo fundamental para os democratas, a partir do instante histórico que a classe trabalhadora branca do Sul abandonou as fileiras do partido e se tornou fielmente republicana.

2020 logo chegará, e com ele, se avizinha uma eleição, que talvez, possa ser mais energizada e altamente polarizada do que a de 2016, onde Hillary Clinton venceu no voto popular, mas foi ultrapassada por Donald Trump na votação do Colégio Eleitoral. Os dados azul e vermelho já estão no tabuleiro da futura disputa presidencial e das estaduais americana. O jogo será jogado numa América em que as minorias raciais aceleram sua participação estatística na composição populacional do país, com implicação para remodelar o sistema político e social da nação-sede do imperialismo capitalista.

(*)  João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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