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Postado às 05h15 | 03 Mar 2019 | De Odisseia a Macau

Crédito da foto: Reprodução Styverson Valentim é Senador da República pelo Pode-RN

(*) Styvenson Valentim

Dizem que a Odisseia, de Homero, é um dos livros mais lidos da história. A obra narra a viagem de Odisseu que, ao fim da guerra de Troia, tenta voltar à sua terra natal enfrentando inúmeros desafios para chegar a Ítaca. Ele e sua tripulação não jogam ao mar oferendas a Posseidon antes da viagem e despertam a ira do deus dos mares. Por conta do enredo, o nome do livro se tornou sinônimo de termos como façanha, ousadia, proeza. Analisando minha trajetória, desde que decidi entrar para a vida política sem “jogar oferenda” para ninguém, só contando com o apoio do povo potiguar, sinto que realmente foi uma odisseia. Minha campanha custou exatos R$ 35.585,77. Por não pertencer a nenhum partido, tive de ser aclamado por um para poder disputar as eleições. A Rede, a quem sou grato, me recebeu no formato da candidatura cidadã independente. Não tive tempo de rádio e TV, que dirá outros custeios.

Difícil acreditar que, sem apoio partidário institucional, 745.827 pessoas tomassem conhecimento das minhas propostas e decidissem confiar em mim para representá-las. Mesmo diante da ira de muitos políticos locais, bem mais reais que Posseidon, fui alçado à condição de Senador da República sem ter assumido anteriormente nenhum cargo político. Desde 1º de fevereiro, quando tomei posse, foram horas sem comer, longas reuniões com parlamentares, técnicos, assessores e, principalmente, noites sem dormir diante de tamanho desafio. A minha tenacidade para cumprir a missão que me foi confiada, aliada
ao imenso desejo de fazer a diferença pelo povo potiguar, tem descortinado a grandeza da odisseia.

Nesse tempo, já apresentei três projetos de lei e dois requerimentos de informação; pedi a instalação de uma CPI, com o apoio de outros 29 senadores; fui designado para oito comissões permanentes, além de várias frentes parlamentares; fui recebido por quatro ministros e convidado para um encontro com o presidente da República em exercício, Hamilton Mourão; e me reuni duas vezes com a governadora Fátima Bezerra, reiterando minha decisão de apoiar tudo que for relacionado ao desenvolvimento do estado.

Também recebi em meu gabinete 25 dos 167 prefeitos do RN, além de vários cidadãos de todo o país trazendo suas reivindicações. Abri mão do auxílio mudança e da aposentadoria especial de congressista. Sempre soube que seria árduo. Escolhi, antes de tudo, me tornar um observador da vida parlamentar nos mínimos detalhes. Conheci pessoas muito boas, de políticos a servidores. Antes de tomar qualquer decisão, tenho me dedicado a aprender com aqueles que se mostram tão preocupados com o público, quanto com aqueles que, aparentemente, dedicam seu tempo a priorizar o privado. Afinal, tenho de ter consciência de quem não quero me tornar.

E aqui chego a uma obra não tão conhecida quanto a Odisseia, mas com um enredo simbólico: Macau, do escritor potiguar Aurélio Pinheiro (1882-1938). Ali também há um herói, Aluísio, que enfrenta uma série de armadilhas tramadas por Dona Angelina, a anti-heroína da trama. A cidade Macau, retratada no romance, vive a luta pelo poder e status entre os personagens em decadência, os coronéis, e os que desejam ascender socialmente.

Macau mostra a cultura do século passado no estado, os conflitos políticos da época e as disputas entre classes sociais, mas guarda contrapontos tão semelhantes com os dias de hoje que vale a leitura. Os sentimentos humanos são os mesmos desde a época de Odisseu, independente do cenário, seja no mar do final do século VIII a.C, em Macau de 1930 ou no Senado de 2019. Fatos que, eivados de intrigas ou de justiça, nos cabem lidar.

Este primeiro mês tem um balanço que vai além dos números. É intraduzível. Mas pode ser colocado em breves palavras. Meus pais me ensinaram que trabalho mal feito redunda em trabalho dobrado. Tenho refletido muito sobre isso e tenho a absoluta certeza de que cada ato meu, no Parlamento, sempre terá a premissa de não ter de refazer nada. Recebi muito mais do que uma tarefa desafiante; recebi uma missão de vida. Os primeiros dias no Legislativo Federal já me apontam para um rumo: independente do quão difícil seja, em meu horizonte, está o Rio Grande do Norte.

(*) Styvenson Valentim é senador da República pelo Pode-RN

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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