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Postado às 10h00 | 13 Jun 2019 | Redação Mossoró celebra 92 anos de resistência ao bando de Lampião nesta quinta-feira, 13

Crédito da foto: Reprodução Mossoroenses colocaram o banco de Lampião para correr

André Bisneto - JORNAL DE FATO

“Coronel Rodolfo. Estando eu até aqui, pretendo dinheiro. Já foi um aviso aí para os senhores”. O aviso em tom ameaçador tinha como remetente Virgulino Ferreira da Silva, “Lampião”, que durante as décadas de 1920 e 1930 foi um dos maiores nomes do cangaço brasileiro. Apesar disso, o endereçado, coronel Rodolfo Fernandes, presidente da Intendência Municipal de Mossoró, ignorou a fama atrelada ao nome que assinava a correspondência.

“Estamos dispostos a acarretar com tudo com o que o senhor queira fazer contra nós”, teria respondido o presidente da intendência em tom desafiador.

O diálogo impaciente entre cangaceiro e prefeito é o primeiro ato de uma história de resistência à investida do grupo cangaceiro de Lampião à cidade de Mossoró em junho de 1927. À época, com cerca de 20 mil habitantes, Mossoró possuía um dos maiores parques salineiros do país, três grandes indústrias de descaroçamento e prensa de algodão, além de uma agência do Banco do Brasil.

Financeiramente próspera, os cangaceiros exigiam o montante de 400 contos de réis para evitar o saqueamento à cidade. Contudo, Mossoró em nada se assemelhava às demais cidades onde o grupo cangaceiro saqueou pelo Rio Grande do Norte naquele ano. Rejeitada a negociação com os futuros invasores, restava organizar o plano de resistência da cidade ao grupo cangaceiro.

Após ter enviado as mulheres e crianças para se abrigar em cidades circunvizinhas, cerca de 170 homens se entrincheiraram em 23 pontos espalhados pelo centro de Mossoró. Um dos principais pontos de resistência dos mossoroenses, a capela de São Vicente, construída 8 anos antes, foi ponto decisivo para a vitória dos resistentes.

Localizada vizinha ao Palácio da Resistência, na época casa do prefeito Rodolfo Fernandes e atual sede do Executivo Municipal, onde parte dos resistentes se entrincheirou, a capela de São Vicente tornou-se símbolo da preservação da memória da batalha vitoriosa de 13 de junho de 1927.

Apesar das reformas que a capela recebeu, as marcas dos tiros no alto da torre vêm sendo preservadas. Mais: palco da batalha, durante o “Mossoró Cidade Junina” o adro da capela recebe o espetáculo teatral “Chuva de Bala no País de Mossoró”, que encena o movimento de insurreição contra os invasores.

Além da capela, o Memorial da Resistência construído em 2008 e o Museu Histórico Lauro da Escóssia, antiga prisão pública do município, retificam a importância da vitória sobre os cangaceiros para a cidade; o primeiro para celebrar a resistência, e o segundo, transformado em museu, aprisionou o cangaceiro José Leite de Santana, “Jararaca”, após ter sido ferido no combate.

Parte da história e da identidade de Mossoró, a cidade celebra hoje 92 anos da sua mais celebre batalha, como lembra um trecho do seu hino: “Celebramos hoje teus anos de glória/Ousada fostes sempre Mossoró/Por ti começa, a senda da vitória/Na luta ao cangaceiro Lampião.”

A absolvição do cangaceiro Jararaca 90 anos após sua morte

Durante a programação de 90 anos da celebração à resistência aos cangaceiros em 2017, um evento chamava atenção: o julgamento de José Leite de Santana, “Jararaca”, um dos principais homens do cangaceiro Lampião.

Ferido durante a tentativa de invasão a Mossoró em 1927, Jararaca foi levado para a prisão pública, onde supostamente aguardaria transferência para um hospital na capital para tratar dos ferimentos. Contudo, acabou enterrado vivo pela polícia local, após ter de cavar a própria cova.

Após a morte violenta, o cangaceiro tornou-se um dos mitos gerados pela batalha de 1927. O martírio vivido por Jararaca em seus últimos momentos possibilitou ao cangaceiro a alcunha de santo entre a população, uma vez que teria se redimido no sofrimento.

Enterrado no Cemitério São Sebastião em Mossoró, o túmulo de Jararaca é um dos mais visitados. Mais: por vezes são realizadas oferendas no sepulcro do cangaceiro como forma de pedidos a serem atendidos pelo cangaceiro-santo.

No julgamento realizado 90 anos após a morte, Santana foi absolvido. Contudo, não se tratava de um julgamento sobre a inocência ou a culpa de um dos principais homens de Lampião, como bem foi lembrado no início da sessão em 9 de junho de 2017 – “um julgamento de valor sociológico”.

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