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Postado às 17h15 | 18 Fev 2019 | Redação Há cinco meses sem conquistar uma vitória, Portuguesa se aproxima da Série A3

Crédito da foto: Cristiano Fukuyama Estádio do Canindé, da Portuguesa, vazio

Por Luiz Nascimento/globoesporte.com

As idas ao estádio do Canindé têm se tornado cada vez mais melancólicas. Antes mesmo de sair de casa, o torcedor já sabe que a derrota é o resultado mais provável da Portuguesa. Afinal, o clube não lembra o que é conquistar uma vitória há quase 150 dias, ou seja, cinco meses.

Atualmente, qualquer programa é mais atrativo do que ver a Lusa jogar. Não apenas pela revolta com o péssimo futebol, mas com outros sentimentos. Como, por exemplo, recordar a série de humilhações sofridas nas últimas temporadas. Mais precisamente desde o "caso Héverton".

Não é tão simples para um torcedor sair de casa em um domingo à tarde para ver a Portuguesa perder de virada para a Inter de Limeira, por 3 a 2, como ocorreu no último. Ver as arquibancadas do Canindé vazias é tanto um reflexo do cansaço quanto um resultado das ações da diretoria.

A visita ao Canindé tem se transformado em uma viagem dolorosa para o lusitano. Não é fácil ver aquele terreno cheio de entulho e mato, totalmente abandonado, onde ficavam as piscinas em que tantos aprenderam a nadar. Perceber que a ganância deu lugar ao nada naquela área.

Portuguesa perde mais uma no Canindé: time vai mal na Série A-2 — Foto: Everton Calício / Portuguesa

Não é simples procurar o "areião", onde peneiras descobriram tantos craques ao longo de décadas, e encontrar a estrutura de uma feira que nunca funcionou. A desfiguração de mais uma parte do clube sem qualquer resultado financeiro prático, recheada de polêmicas.

Se o torcedor decide ir até a gruta de Nossa Senhora de Fátima, chega ao ginásio em que tantas partidas, shows e festas tiveram lugar. Mas que atualmente pertence a uma igreja evangélica e, até mesmo no mapa de São Paulo, já tem qualquer outro nome que não o da Portuguesa.

Não é agradável entrar pela Rua Azurita em meio a buracos, poças d’água, barro e mato, passar pelo quiosque do Caldo Verde totalmente abandonado, e se deparar com um vazio imenso. Se há alguma fila é porque o clube não consegue arrumar mais de uma pessoa para vender ingresso.

Se não bastasse todo esse desgosto, o torcedor ainda é obrigado a desembolsar R$ 100,00 por um mísero bilhete para a segunda divisão do Campeonato Paulista. Uma política que tem cumprido com o objetivo da diretoria de afastar a pouca torcida que ainda vai ao Canindé.

Quanto menos público, menos pressão. Quanto menos gente, menos testemunhas para o que estão fazendo com a Lusa. Levar o filho, o sobrinho, o neto? É preciso tomar cuidado para que não peçam uma camisa, um calção, um meião da Portuguesa. Nem loja há mais por lá.

Se esse valente torcedor chegar à arquibancada, perceberá que atualmente as brigas entre os próprios lusitanos têm se tornado mais atraentes que o jogo da bola. A cada rodada, uma briga a mais. Torcedor contra torcedor. Um reflexo do que sempre existiu na política rubro-verde.

Assim como não se pode condenar quem desistiu de ir ao Canindé, não é prudente criticar quem anda com os ânimos exaltados. Os poucos que ainda conseguem ir ao estádio são aqueles que sempre abriram mão da própria vida para acompanharem o clube que aprenderam a amar.

São aqueles que, mesmo diante de tantas tragédias, ainda encontram forças para tentar reconstruir o estádio. Que se unem para juntar dinheiro e pintar a arquibancada, recuperar a marquise, trocar as lâmpadas dos refletores. Enfim, os únicos louváveis da história.

São pessoas que não se conformam com o que assistem. São verdadeiros heróis da resistência. Até porque continuam acompanhando os jogos, mesmo tendo uma convicção amarga e pesada de que o rebaixamento para a Série A3 só não virá se os adversários não quiserem.

É praticamente impossível passar pelo Canindé e não perceber o que as diretorias vem fazendo com a Portuguesa. Chegou-se a um ponto em que basta olhar ao redor para perceber que a atual situação não é só fruto de crise financeira e moral, mas de ações dos próprios cartolas.

O clube foi sendo paulatinamente dilapidado, por dentro e por fora. O futebol foi sendo sorrateiramente sufocado, na bola e nos vestiários. O torcedor foi sendo calmamente expurgado, por meio de humilhações, de rebaixamentos e agora de ingressos a obscenos R$ 100,00.

Enquanto a diretoria vai conduzindo a Portuguesa para a terceira divisão estadual, já tendo tirado o clube de qualquer divisão nacional, o terreno se prepara para um novo leilão. São inúmeras ações de ex-jogadores e até mesmo… ex-cartolas atrás de reembolso. Acreditar nos dirigentes é ser cúmplice ou cego. Encontrar esperança tem sido tão difícil quanto ir ao Canindé.

*Luiz Nascimento, 26, é jornalista, chefe de reportagem da Rádio CBN, editor/diretor do Acervo da Bola e blogueiro da Portuguesa por 10 anos, quatro deles no GloboEsporte.com. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site

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