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Postado às 01h39 | 15 Jan 2017 | Cesar Santos Rebelião no presí­dio de Alcaçuz, o maior do Estado do RN, deixa ao menos 10 mortes

Segundo a coordenação do presí­dio de Alcaçuz, pelo menos três presos foram decapitados durante motim

Crédito da foto:

O GLOBO

Uma rebelião que teve início na tarde deste sábado nas penitenciárias estaduais de Alcaçuz e Rogério Coutinho Madruga, que são vizinhas, em Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal (RN) deixou pelo menos dez mortos, segundo o governo local, que acredita que o número deve aumentar.

Ao G1, o coordenador de administração penitenciária do estado, Zemilton Silva, afirmou que pelo menos três presos foram decapitados.

O motim no Rio Grande do Norte é mais um capítulo da crise do setor penitenciário, que já teve rebeliões em cadeias do Amazonas e de Roraima.

O secretário de Justiça e Cidadania do governo estadual, Wallber Virgolino, afirmou ao GLOBO no início da noite que a situação era crítica mas que a Polícia Militar estava retomando o controle do presídio. Segundo ele, os policiais já haviam conseguido entrar na penitenciária, mas havia espaços dentro do local que ainda estavam sobre o controle dos presos.

— Os policiais já entraram, estamos retomando o controle, mas sabemos que a situação é crítica. O presídio é muito extenso, não conseguimos chegar a todos os locais ainda — disse, durante a rebelião.

A PM, porém, informou ao G1 que apenas a área externa de Alcaçuz estava sob o controle das autoridades. As saídas foram bloqueadas e o Corpo de Bombeiros está fazendo barricadas no local. Segundo o G1, policiais militares e agentes penitenciários ainda esperam para entrar nos pavilhões controlados pelos presos.

— A intervenção é impossível agora. No momento estão todos soltos lá dentro, e armados. Nossa missão é evitar que ele saiam — declarou o major Camilo, da PM, ao G1.

BRIGA ENTRE FACÇÕES

Uma briga entre duas facções PCC e Sindicato do Crime gerou o motim. É o mesmo motivo que fez eclodir as rebeliões que mataram 64 no Amazonas e 33 em Roraima nos primeiros dias do ano. O novo motim fez passar de 100 o número de presos mortos em penitenciárias do país desde o início do ano, já que a Paraíba também registrou duas mortes.

Questionado sobre se o estado havia pedido ajuda para o governo federal, Virgolino se limitou a dizer que, sobre esse assunto, quem deve opinar é o governador, que tem contato direto com o ministro da Justiça. Procurado, o Ministério da Justiça informou que não houve pedido de auxílio por parte do estado, mas que acompanha de perto o problema. Segundo a assessoria de imprensa, se houver um pedido de socorro por parte do Rio Grande do Norte, o governo vai procurar atender da forma como fez com os estados do Amazonas e de Roraima.

A Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal - SEJUC/Divulgação

NÚMERO DE PRESOS É O DOBRO DA CAPACIDADE

A rebelião na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, teve início na tarde deste sábado, por volta das 16h30m. Ao G1, o major Eduardo Franco, da comunicação da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, disse que houve invasão de presos do pavilhão 1 no pavilhão 5, onde estão internos de uma facção criminosa rival. De acordo com Virgolino, os criminosos estavam separados entre os presídios e por pavilhões.

Segundo informações da secretaria estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc), a penitenciária tem capacidade para 620 presos, porém, abriga 1.140 pessoas. A unidade é composta por cinco pavilhões e tem 151 celas. Em imagens divulgadas pela PM, é possível ver presos no teto de um dos pavilhões neste sábado.

ESTADO EM ALERTA APÓS MASSACRE EM MANAUS

As autoridades do Rio Grande do Norte já estavam em alerta para eventuais tensões nas penitenciárias do estado após o massacre em presídios de Manaus e Roraima. Em reportagem do GLOBO publicada no dia 7, a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do RN, Vilma Batista, disse que os presos haviam sido separados após uma briga de facções no ano passado.

Segundo autoridades, a facção Sindicato do Crime (SDC) ou Sindicato RN, é comandada por Gelson Lima Carnaúba, o G, também líder da Família do Norte (FDN), do Amazonas. O SDC surgiu há dois anos como forma de se opor ao crescimento do PCC no estado. Em agosto do ano passado, a facção foi responsável por ataques em 38 cidades. Ao menos três detentos foram mortos nas cadeias. Ao longo de 2016, foram registrados cerca de 30 suicídios de detentos. Segundo o Ministério Público, porém, esses presos foram mortos.

— Depois que o Sindicato RN desestabilizou o sistema penitenciário começou a briga por espaço com o PCC. O governo decidiu separar os presos — disse Vilma ao GLOBO na ocasião.

Outra rebelião ocorreu no presídio, em novembro de 2015. Na época, foram registradas 14 fugas.

A penitenciária Rogério Coutinho Madruga, no Rio Grande do Norte - Sejuc/Divulgação

ACORDOS COM PRESOS PARA MANTER A PAZ

Na terça-feira, ao comentar a crise que colocou em evidência o descontrole e as condições degradantes do sistema penitenciário brasileiro, Virgolino disse ao GLOBO que estados fazem acordos tácitos com os presos para evitar rebeliões. Segundo ele, que é delegado de polícia, “o criminoso tem que se sentir criminoso” com regras rígidas de comportamento e sem benesses como ventilador ou tevê. E defende que “presídio não é hotel e preso não é hóspede”.

— Alguns estados fazem um acordo tácito com os presos. Tu fica quietinho e eu deixo entrar tudo pra tu. (...) O Estado recua, fica com medo do preso, e começa a aceitar de forma involuntária tudo do preso, para ele não bagunçar, não matar ninguém, não fazer rebelião — afirma, acrescentando:

— A gente tem que encarar o preso como preso. Se a educação pecou, se os programas sociais pecaram, não é problema nosso. Estamos lá para custodiar.

Para ele, preso não pode ter televisão ou ventilador na cela.

— Presídio não é hotel, e preso não é hóspede. Tem que ser tratado como preso, como acontece no Japão, nos Estados Unidos — afirmou.

Ele chegou a comentar a superlotação de celas. Para o secretário, a situação não é aceitável, mas disse que é preciso gerenciar “com o que tem na mão” e que não pode trabalhar com a hipótese de que 20 presídios vão cair do céu no Rio Grande do Norte.

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