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Postado às 09h45 | 22 Jul 2018 | Redação Geraldo Melo: 'Carlos Eduardo fechou as portas para o PSDB desde o início'

Crédito da foto: Marcos Garcia/JORNAL DE FATO Geraldo Melo tomou o Cafezinho com César Santos no JORNAL DE FATO

José Geraldo da Câmara Ferreira de Melo nasceu na cidade de Campo Grande, no Médio Oeste potiguar, mas foi em Ceará-Mirim que iniciou atividades profissionais e sua carreira política. Na década de 60, colaborou com o governo de Aluízio Alves (1961-1966), tendo trabalhado no Dnocs.

Ganhou notoriedade e ocupou espaços na política do Rio Grande do Norte. Foi vice-governador na gestão do governador Lavoisier Maia (1979/1983), foi eleito governador em campanha memorável de 1986 e governou entre 1987/1990. Depois, em 1994, elegeu-se senador da República, tendo sido vice-presidente do Senado entre 1995 e 1997.

Em 2002, encerrou o seu mandato sem ter conseguido renovar o mandato. Naquelas eleições, ficou em terceiro lugar, atrás dos eleitos Garibaldi Filho (MDB) e José Agripino (DEM). Em 2006, tentou, mais uma vez, voltar ao Senado e viu a prefeita de Mossoró, Rosalba Ciarlini, ter sido eleita a primeira mulher senadora do RN.

Agora, 12 anos depois, o ex-governador e ex-senador Geraldo Melo coloca o nome à disposição do eleitor. Será candidato ao Senado Federal pelo PSDB, em aliança com o PSD do governador Robinson Faria.

Geraldo Melo tomou o Cafezinho com César Santos, na sede do JORNAL DE FATO, quando falou sobre política, da campanha eleitoral que se aproxima, entre outros temas.

A ÚLTIMA eleição que o senhor disputou está fazendo 12 anos. Foi em 2006, quando o senhor perdeu a disputa ao Senado. O retorno, agora, acontece no momento delicado da política, com enorme rejeição popular. Onde o senhor encontra motivação para voltar a disputar uma eleição?

TODO cidadão brasileiro que tenha noção do que está se passando no país, se puder ajudar a construir um país melhor, um Brasil novo que precisa surgir, tem a obrigação de fazer a sua parte. Independente da questão de idade (tem 83 anos), eu me sinto apto o suficiente para contribuir com esse processo. Eu não estou querendo assumir o comando das coisas, não estou querendo substituir as novas gerações na missão de assumir o comando do país e do Estado do Rio Grande do Norte, mas acho que posso contribuir com a minha experiência para fortalecer o movimento que a sociedade brasileira está fazendo por um país melhor. O cidadão está manifestando a sua indignação por todos os lados. É preciso que essa indignação seja o combustível das grandes transformações e que a gente possa modificar esse sentimento de indignação em esperança.

 

O CIDADÃO potiguar, desesperançoso, diz que o RN está vivendo o inferno, com o fogo queimando o sistema de segurança pública e os recursos que seriam para pagar salários em dia do servidor. Por outro lado, é comum ouvir no meio político que o Senado é o céu. O senhor traçou esse paralelo para optar por candidatura ao Senado?

EU ENTENDO que onde eu posso dar maior contribuição ao país e ao meu estado é no Senado. Eu não recusaria disputar o Governo do Estado, mas onde as circunstâncias políticas me colocaram é também no lugar onde eu acho que posso dar uma grande contribuição.

 

MAS, o peso de governar o Rio Grande do Norte, diante do cenário de caos, não é uma missão bem maior, bem mais difícil?

OS PROBLEMAS existem em qualquer governo e sempre existirão.

O SEU partido, o PSDB, tinha um compromisso com o vice-governador Fábio Dantas (PSB) de apoiá-lo ao Governo do Estado. No entanto, esse compromisso foi desfeito no momento em que o PSDB decidiu fazer aliança com o governador Robinson Faria (PSD). Por que o PSDB não seguiu com o projeto de Fábio Dantas?

FÁBIO Dantas teve o lançamento de sua pré-candidatura fortemente estimulado por alguns líderes do PSDB. Eu não fui dos que estimularam, até porque quando isso aconteceu, eu não estava nem filiado ao PSDB. No entanto, eu manifestei a minha preferência pelo nome dele. Primeiro, quero lembrar que eu não sou dirigente partidário. Então, as decisões do partido não cabem a mim, e entendo que o PSDB está muito bem comandado por Ezequiel Ferreira de Souza. Segundo, é preciso ser dito que, infelizmente, o projeto de candidatura de Fábio não se consolidou. Cabe um estudo dos entendidos procurar saber por que não consolidou. Mas, o fato concreto é que Fábio não conseguiu se consolidar como candidato a governador, e isso nos colocou em uma situação nova, que foi a necessidade de optar entre os três principais candidatos ao Governo.

 

O QUE pesou na decisão do PSDB para firmar aliança com o governador Robinson?

EU NÃO posso falar pelos dirigentes do PSDB e nem pretendo fazer isso, mas como observador do processo, acho que não houve uma escala de critérios para definir qual seria o candidato a governador do partido. Houve, sim, negociações naturais do PSDB com o PSD de Robinson e o PDT de Carlos Eduardo. Não houve com Fátima Bezerra porque uma aliança do PSDB com o PT está fora de qualquer cogitação. O PSDB conversou com os dois lados e tomou a sua decisão.

O QUE faltou a Carlos Eduardo para ter o PSDB e o que teve Robinson Faria para conquistar o apoio tucano?

CARLOS Eduardo fechou a porta para o PSDB desde o início. Quando ele comunicou ao PSDB que a chapa estava fechada, que tinha um candidato a governador e dois candidatos a senador, ele fechou as portas. Carlos Eduardo comunicou isso ao maior partido do Rio Grande do Norte, dizendo portanto ao PSDB que não tem lugar para indicar ninguém. Ele ainda disse que havia oferecido a indicação para a vaga de vice-governador à prefeita de Mossoró (Rosalba Ciarlini), e se ela não concordasse, o PSDB teria direito fazer a indicação. Essa é uma conversa, na verdade, de quem não estava querendo aliança com o nosso partido.

 

MAS, o senador José Agripino não abriu mão da candidatura à reeleição para abrir vaga a novos partidos na aliança de Carlos Eduardo?

JOSÉ Agripino fez isso. Inclusive, disse de público que a chapa não estava fechada. Realmente, Agripino se retirou da disputa ao Senado, o que seria a oportunidade de abrir a chapa para o PSDB, mas logo em seguida foi anunciado Antônio Jácome (deputado federal, do Podemos) para a outra ao Senado, ao lado do senador Garibaldi Filho (MDB). Então, a chapa de Carlos Eduardo sempre esteve fechada para o PSDB. Dessa forma, o PSDB ficou com dois caminhos para escolher um. O primeiro era ter candidato próprio ao Governo, mas as lideranças acharam que o partido não tinha estrutura para enfrentar uma campanha. O segundo foi a opção escolhida, exatamente apoiar a candidatura à reeleição do governador Robinson Faria. Então, entendo que entre Robinson e Carlos Eduardo, o PSDB fez a melhor opção.

 

O SENHOR acha que apoiar um governo com alto índice de reprovação popular, segundo as pesquisas de opinião, foi a melhor opção que o PSDB poderia ter?

EU POSSO vir aqui com cavilação a esse respeito, porque eu e o PSDB já sabíamos disso. O governador enfrenta dificuldades, tem problemas graves em áreas vitais, como a segurança pública. Mas, é preciso ser observado que alguém precisa ser eleito governador nas eleições de outubro, e para ser governador, tem que ser candidato, e candidatos só há três. Então, não ficou muito espaço para o PSDB desejar outras soluções.

O SENHOR não se sente desconfortável, diante desse cenário?

EU SOU filiado a um partido político, esse partido decidiu usando todo o processo de consulta e opiniões internas, e cabe a mim aceitar ou abrir uma dissidência no partido, e eu não vou fazer isso. Aceitei e me submeto à decisão que meu partido tomou. Acho, realmente, que o governador foi infeliz em muitas coisas de seu governo, e também acho que em outras ele está sendo responsabilizado como se os problemas existissem apenas agora. A segurança é um exemplo disso. Não há dúvida de que a segurança no Rio Grande do Norte é um horror, Natal é a quarta cidade mais violenta do Brasil e uma das dez mais violentas do mundo, agora essa situação não é muito diferente do resto do país. Veja como estamos com uma intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Então, essa situação absolutamente intolerável é intolerável a todos os brasileiros.

 

EXISTE um compromisso para que o senhor seja o único candidato ao Senado na chapa do governador Robinson Faria?

É ISSO que está sendo anunciado pelo governador. Isso mostra, por exemplo, a diferença de tratamento entre uma aliança, que seria com Carlos Eduardo, e a outra que escolhemos com Robinson Faria. Enquanto uma não aceitava a presença do PSDB indicando nada, a outra tem um candidato a governador e um candidato a senador.

 

O SENHOR foi governador entre 1987 e 1990, mas até hoje o desgaste com os profissionais da Educação permanecesse vivo. Essa resistência ao seu governo é justificada de que forma?

EU ACHO que foi mais pelo momento que se vivia no Brasil. Eu fui eleito governador no momento em que se dava a ruptura dos obstáculos que se opunha a liberdade do povo e as forças, muitas forças, se organizaram para querer tudo de uma vez. Era como se você arrombasse uma grande barragem e as águas descessem tumultuosamente ladeira abaixo. A prova disso é que, na campanha, eu fui apoiado pelos professores do Rio Grande do Norte, que fizeram, inclusive, um encerramento de campanha inesquecível em Mossoró. Agora, isso deve ser lembrado, eu tomei posse no dia 15 de março de 1987, e no dia 8 de maio, dois meses depois, os professores fizeram o meu enterro na porta do Palácio, como se eu fosse nesses dois meses responsável por todos os problemas da Educação do Estado. Os professores também tiveram umas atitudes absolutamente incompreensíveis. Depois de recuperar as escolas do Estado, e pouca gente se lembra disso porque eu não costumava fazer festa para inaugurar obras, me pediram para fazer uma assembleia do sindicato (entidades dos professores) no Instituto Churchill, que estava recém-recuperado, e tinha um novo auditório. Eu autorizei. Depois da assembleia, quando o auditório foi devolvido, mais de 60% das poltronas novas do auditório estavam cortadas de gilete. Então, houve também isso. Mas, de minha parte, eu digo com humildade, eu saí devendo aos professores, embora eu não saiba qual foi o governador que fez mais por eles do que eu.

 

COMO assim?

EU NÃO sei, por exemplo, se outros governadores deram à universidade de Mossoró (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN) o apoio que ela recebeu do meu governo. Sei que eu tive a honra de ser o governador que implantou a estadualização, eu fui o governador que estruturou a universidade em seu primeiro momento depois de ser estadualizada; eu fui o governador que nomeou pessoas como Antônio Capistrano (ex-deputado estadual) para ser reitor da universidade; o meu governo é o que deu a essa universidade as condições financeiras para que ela se estruturasse e se consolidasse; o meu governo foi quem aprovou uma política salarial para essa universidade, que fez os seus professores uma das categorias mais bem pagas entre os professores universitários do Brasil. Agora, apesar disso tudo, quem está dizendo sou eu: eu acho que saí devendo. Gostaria, se voltar a ter um mandato, sentar com os professores da minha terra para discutir um projeto da Educação. Mas, não sentaria com militantes políticos de sindicato, aqueles que até hoje nunca apresentaram um pauta em favor da Educação, mas apenas pautas para beneficiar a eles, com pedidos de gratificações, aumento disso, aumento daquilo. Esses militantes não lutam pela Educação.

 

SE O senhor voltar a ter um mandato público, qual o setor teria a sua prioridade?

A QUESTÃO da segurança pública é uma das que mais exigem do gestor, do político, da autoridade pública. Nessa área, principalmente, é preciso mexer na lei para buscar melhor solução. É preciso alternar o conjunto de regras que se tornou obsoleto, que desafia o ajustamento do Brasil à realidade do mundo hoje. O Brasil é parte do mesmo planeta onde estão os outros países, e nós não temos por que achar que estamos em lugar diferente. O que o Brasil precisa é renascer de forma moderna e competitiva, para ter a sua relação com o resto do mundo sem as desvantagens que vem enfrentando até agora. É preciso ser um país competitivo, moderno, parecido com o que está ocorrendo no mundo. E, segundo, internamente. O Brasil precisa ser um país que não permita a corrupção de nenhuma forma, que tenha a energia necessária e tolerância zero com a insegurança e desobediência às leis que dão segurança.

EXPLIQUE melhor...

EU TENHO minhas ideias em matéria de segurança pública. A questão da menoridade penal precisa ser debatida. No Brasil, a menoridade penal é 18 anos, o que acaba se transformando numa indústria explorada por criminosos, que é maior de idade. Alguns, ao invés de comprar uma pistola, alugam um menor para fazer o serviço que a pistola faria. Eu tenho proposta que não consiste em apenas alterar o limite da responsabilidade penal do menor.

 

QUE proposta é essa?

OS ITENS principais seriam: o menor infrator, que realmente cometeu um delito, renuncia a menoridade dele, será levado à presença de um juiz e a lei dirá o que esse juiz poderá fazer. Uma das coisas que o juiz terá de fazer é comunicar àquele menor que daqui para frente ele passaria a ser de maior. Esse menor seria registrado em cadastro único, com as suas características, para ser identificado em todo o país, o que evitaria o que acontece hoje, quando o delinquente comete crime aqui, na Paraíba, no Ceará e em outros estados do país, sem ter a devida identificação.

 

ESSA é uma questão bem delicada que, inclusive, existe uma opinião formada da maioria em defesa de ser mantida a maioridade penal. O senhor não acha que o problema é mais profundo do que a questão do menor infrator?

ESSA questão da maioria precisa ser observada no Brasil. Fala-se em democracia neste país a torto e a direita, e democracia é o estado que prevalece a vontade da maioria, em que se assegura à minoria o direito de manifestar, dentro da lei. Nós fizemos no Brasil uma consulta popular, um plebiscito sobre o seguinte: você é contra ou a favor de que se proíba a venda de armas e munição no país? Compareceram ao plebiscito cento e tantos milhões de brasileiros, mais de setenta milhões votaram para não permitir que se proibisse, vinte e poucos milhões foram a favor o desarmamento e os demais não votaram ou anularam o voto. Então, setenta e tantos por cento disseram que não concordam que desarmem o povo brasileiro. O Governo fez de que conta que não entendeu, e a legislação está aí, sem mudança. Esse é o assunto que está na hora de reabrir. Se o povo falou, que a vontade dele seja respeitada. Isso é democracia.

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