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Postado às 10h00 | 18 Set 2018 | Redação Operação Canastra Real alcança a antessala do presidente da Assembleia Legislativa

Chefe da gabinete da presidência da Assembleia Legislativa, Ana Augusta, foi presa pela Operação Canastra Real, que descortinou mais uma escândalo de funcionários fantasmas. Mais de R$ 2,4 milhões foram desviados dos cofres públicos, segundo o MPRN

Crédito da foto: Reprodução Fantasmas voltam a assombrar à Assembleia Legislativa

JORNAL DE FATO

A chefe de Gabinete da Presidência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, Ana Augusta Simas Aranha Teixeira de Carvalho, foi presa nesta segunda-feira, 17, durante a Operação Canastra Real, detonada pelo Ministério Público Estadual (MPRN) para desmantelar esquema de desvio de recursos públicos através de funcionários fantasmas. Outras cinco pessoas também foram presas em Natal e em três municípios do interior.

Segundo o MPRN, o esquema fraudulento pode ter desviado mais de R$ 2,44 milhões. Não há informação, até aqui, de envolvimento de políticos graúdos da Assembleia Legislativa, mas a investigação alcança a antessala do presidente Ezequiel Ferreira (PSDB), de quem a chefe de gabinete Ana Augusta recebe orientação direta.

Segundo as investigações, o esquema fraudulento foi iniciado em 2015 e tem como principal integrante Ana Augusta. Para o MPRN, ela ocupa posição de controle ao indicar pessoas para cargos na Casa. Para isso, a chefe de Gabinete forneceu o próprio endereço residencial para constar nos assentos funcionais e nos cadastros bancários dos servidores fantasmas por ela indicados.

O esquema é idêntico ao escândalo dos funcionários fantasmas descortinado pela Operação Dama de Espadas, em 2015, que levou para a prisão a ex-procuradora-geral da Assembleia Legislativa Rita das Mercês (veja matéria nesta página). Consiste no uso de pessoas nomeadas para cargos comissionados, como forma de desviar recursos em forma de salários.

A investigação verificou que todos os indicados por Ana Augusta possuem movimentações financeiras atípicas, recebendo mensalmente a importância líquida aproximada de R$ 13 mil. Logo após o depósito dos valores nas contas bancárias, as quantias eram integralmente sacadas. Essa movimentação financeira das contas bancárias, todas com saques padronizados, de valores idênticos, revela que os titulares não possuíam o controle de suas próprias contas.

Para o MPRN, as contas correntes desses ex-assessores técnicos foram abertas somente para desvio de dinheiro público. Embora fossem servidores com alta renda, optaram por não contratar cartões de crédito. Mesmo sendo bem remunerados, a investigação do Grupo de Atuação Especial ao Combate ao Crime Organizado (GAECO), órgão do MPRN, mostra a ausência de aquisição de patrimônio no período em que estiveram nomeados para o cargo na Assembleia. A movimentação financeira deles não espelha a renda percebida.

Já em relação a Ana Augusta Simas, ao contrário dos demais investigados, a movimentação financeira é superior à renda declarada, incompatível com a qualidade de servidora pública e dissociada da sua declaração de Imposto de Renda. Ela declarou à Receita Federal, no IR do ano calendário 2015, somente rendimentos advindos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, enquanto que a declaração de informações sobre movimentação financeira revelou que a entrada de recursos na conta dela foi em valores que equivalem a mais que o dobro da remuneração dela.

FLAGRANTE

Durante o cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão contra Ana Augusta, o marido dela, Fernando Luiz Teixeira de Carvalho, foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo. Fernando Teixeira, que é o prefeito de Espírito Santo, foi preso na fazenda em que mora com uma espingarda de calibre 12 e um revólver de calibre 38 e munição.

Também foi preso, igualmente por posse ilegal de arma de fogo, Ygor Fernando da Costa Dias, residente em Espírito Santo e marido de Fabiana Carla Bernardina da Silva. Ele estava com um revólver de calibre 38 e munição.

Além de Ana Augusta, foram presos temporariamente por cinco dias: Paulo Henrique Fonseca de Moura, Ivaniecia Varela Lopes, Jorge Roberto da Silva, Jalmir de Souza Silva e Fabiana Carla Bernardina da Silva, todos ex-assessores técnicos da Presidência da Assembleia Legislativa. Essas cinco pessoas, que foram indicadas por Ana Augusta, tinham altos vencimentos na Casa, embora não possuíssem nível superior.

A operação Canastra Real contou com o apoio da Polícia Militar. Participaram da ação 28 promotores de justiça, 26 servidores do MPRN e 70 policiais militares. Além dos seis mandados de prisão, foram cumpridos outros 23, de busca e apreensão nas cidades de Natal, Espírito Santo, Ipanguaçu e Pedro Velho.

Dama de Espadas alcançou o governador Robinson Faria

O Ministério Público Estadual (MPRN) afirma que os crimes investigados na operação Canastra Real se assemelham aos apurados na operação Dama de Espadas, deflagrada em 2016. Dessa forma, fica evidenciado que o esquema de funcionários fantasmas na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte não se intimidou com a ação do Ministério Público.

Na Dama de Espadas, havia a inserção de servidores fantasmas na folha de pagamento da Casa Legislativa, seguida da expedição de “cheques-salários” em nome dos servidores, sendo sacados por terceiros não beneficiários, com irregularidades na cadeia do endosso ou com referências a procurações inexistentes ou não averbadas na ficha cadastral bancária do cliente.

No caso atual dos ex-servidores residentes em Espírito Santo, pelo menos em alguns meses, os saques – sempre feitos na agência bancária na ALRN – eram realizados por eles próprios.

Um dos principais personagens da Dama de Espadas é o atual do governador Robinson Faria (PSD). Ele foi apontado por Rita das Mercês, em delação premiada, de ter recebido mesada de R$ 100 mil/mês entre os anos de 2006 e 2010, período em que era presidente da Assembleia Legislativa.

A delação de Rita das Mercês e de um filho provocou outra operação, a Anteros, detonada em 2017, para apurar suposta prática de Robinson para prejudicar as investigações. Imagens gravadas pela MPRN mostraram o ex-assessor do governador Adelson, conhecido como “Zé Bonitinho”, entregando pacotes de dinheiro a Rita das Mercês, que seria para “comprar” o silêncio. Adelson chegou a ser preso, mas negou o crime.

O governador Robinson também afirma que é inocente. Essa investigação está no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e tem como relator o ministro Raul Araújo Filho.

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