Ex-presidente da República foi preso no dia 7 de abril de 2018 para cumprir 12 anos e 1 mês de prisão por crime de corrupção e lavagem de dinheiro no processo do triplex de Guarujá. O líder petista já foi condenado em outro processo da Lava Jato
Por César Santos/JORNAL DE FATO
Na noite de 7 de abril de 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegava a Curitiba (PR) para começar a cumprir a pena de 12 anos e 1 mês de prisão pela condenação no caso do triplex em Guarujá (SP), consequência da Operação Lava Jato. Ele foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça e da Segurança, com pena elevada pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Lula se entregou à Polícia Federal mais de 48 horas após a expedição do mandado de prisão. Ele permaneceu na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). O local foi transformado em palanque por ele e pelo PT, com cobertura ao vivo das emissoras de TV e rádio do Brasil. De lá, o ex-presidente saiu a pé e caminhou até um prédio próximo, onde equipes da Polícia Federal o aguardavam. Antes, Lula tentou sair de carro, mas foi impedido pela militância.
Lula também fez um discurso que durou 55 minutos e ocorreu durante ato religioso em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, que completaria 68 anos no dia 7 de abril de 2018. Lula disse que não iria “correr” “nem se esconder” e repetiu que seria um preso inocente, “preso político”.
Na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula passou a viver em uma sala especial de 15 metros quadrados, no 4° andar do prédio, com cama, mesa e um banheiro de uso pessoal. Também foi autorizada a instalação de uma TV no local.
CRIME COMUM
Lula, nascido Luiz Inácio da Silva no chão batido de Caetés, migrou muito criança de Pernambuco para São Paulo, onde alicerçou e construiu história como metalúrgico, sindicalista e político, transformando-se no maior líder de massa que o país já teve. Membro fundador e presidente de honra do Partido dos Trabalhadores (PT), elegeu-se presidente da República na eleição de 2002 e foi reeleito em 2006. Antes, havia cumprido mandato de deputado federal, tendo marcado o período com a acusação que o Congresso Nacional tinha “300 picaretas”.
A condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro também coloca Lula nas páginas negativas da história. Ele é o primeiro ex-presidente do Brasil a ser preso por crime comum, embora não seja o único a ter problemas com na Justiça. Desde a redemocratização, somente Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso não foram alvos de inquéritos ou de denúncias.
O ex-presidente José Sarney foi denunciado duas vezes pela Procuradoria Geral da República na Operação Lava Jato, acusado de receber propina de contratos superfaturados da Petrobras e de subsidiárias da estatal, como a Transpetro. Ele nega.
Alvos de impeachment, Fernando Collor e Dilma Rousseff também foram denunciados pela PGR. Collor, inclusive, já teve denúncia aceita e é réu no STF, acusado de receber propina de mais de R$ 30 milhões de contratos superfaturados na BR Distribuidora. O ex-presidente e atual senador nega.
LULA DIZ QUE É INOCENTE
No discurso em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC antes de ter se entregado, Lula negou os crimes pelos quais foi condenado e disse que estava se entregando para provar sua inocência. Até hoje, um ano depois, não conseguiu cumprir o que prometeu.
Lula foi condenado em duas instâncias da Justiça no caso do triplex em Guarujá (SP). A pena definida pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) é de 12 anos e 1 mês de prisão, com início em regime fechado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente afirmou que está agindo de forma consciente. "Mas, muito consciente. Eu falei para os companheiros: 'Se dependesse da minha vontade, eu não iria. Mas eu vou'. Eu vou porque eles vão dizer a partir de amanhã que 'Lula está foragido', que 'Lula está escondido’”, justificou.
Trajetória de Lula
Ex-sindicalista e metalúrgico, Lula iniciou sua trajetória como líder político durante o regime militar. Presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos e, em 1980, ao lado de outros líderes, fundou o Partido dos Trabalhadores.
Principal líder da esquerda brasileira, também ajudou a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e participou do movimento "Diretas Já".
Antes de se eleger presidente, foi derrotado nas eleições de 1989, 1994 e 1998 (por Fernando Collor em 1989 e por FHC em 1994 e 1998).
Em 2002, foi eleito presidente da República com o maior número de votos obtidos por um político até então (mais de 52,4 milhões de votos).
Reelegeu-se em 2006 e, ao ter deixado a Presidência, com 87% de aprovação, obteve um dos maiores índices de um presidente. A popularidade o ajudou a fazer a sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2010. (Fonte: Globo/globo.com)
Outros ex-presidentes do Brasil foram presos, antes de Lula, mas todos por motivos políticos.
O gaúcho Hermes da Fonseca, que presidiu o país entre 1910 e 1914, foi preso oito anos depois, em julho de 1922, após se voltar contra uma intervenção federal em Pernambuco, implementada pelo presidente Epitácio Pessoa. Foi libertado em janeiro de 1923 pelo STF.
Único presidente a ser preso durante o mandato, Washington Luís foi sucedido por Getúlio Vargas após um golpe de Estado. Vargas foi derrotado da disputa pela Presidência por Júlio Prestes, candidato indicado por Washington Luís para sucedê-lo. Mas a chapa de Vargas acusou os vencedores de fraude na eleição. Sob pressão política e popular, Washington Luís foi obrigado a deixar a sede do governo e foi detido e levado ao Forte de Copacabana. Foi exilado, e ficou 17 anos fora do país.
Presidente entre 1922 e 1926, Artur Bernardes foi preso em 1932 após tentar fazer um levante popular em apoio à Revolução Constitucionalista, que pretendia destituir Getúlio Vargas do poder. Dois meses após ser preso, foi exilado para Portugal.
Último ex-presidente a ser preso antes de Lula, Juscelino Kubitschek foi preso em 1968, um ano depois de ter tido o mandato de senador cassado e de ter sido exilado. De volta ao Brasil, foi preso em 13 de dezembro durante a gestão do presidente Costa e Silva. Ficou 9 dias detido em Niterói, quando foi liberado. Ficou mais um mês em prisão domiciliar. (Fonte: G1/DF)
Lula sofreu a segunda condenação na Lava Jato
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu a segunda condenação no dia 6 de fevereiro de 2019. Ele foi condenado a 12 anos e 11 meses de prisão pela juíza Gabriela Hardt, da Operação Lava Jato, no processo que envolve o sítio de Atibaia, no interior de São Paulo. Seus advogados recorreram.
A juíza federal de Curitiba acatou argumento do Ministério Público Federal de que Lula teria participado conscientemente de um esquema criminoso de lavagem de dinheiro e corrupção que envolve a Petrobras e empreiteiras.
O ex-presidente é acusado, inclusive, de ter ciência de que os diretores da Petrobras utilizavam seus cargos para recebimento de vantagem indevida em favor de agentes políticos e partidos políticos.
“Como parte de acertos de propinas destinadas a sua agremiação política em contratos da Petrobras, o Grupo Odebrecht e o Grupo OAS teriam pago vantagem indevida ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva consubstanciada em reformas no Sítio de Atibaia por ele utilizado”, apontou Gabriela Hardt na sentença.
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