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Postado às 10h00 | 12 Mai 2019 | Redação Roubos seguidos de mortes já vitimaram quase 20 pessoas no Rio Grande do Norte em 2019

Crédito da foto: Ilustração Cresce o número de roubos seguidos de mortes

Fábio Vale/JORNAL DE FATO

“Mãos ao alto!” A expressão faz referência a uma frase comumente utilizada por criminosos durante a prática de assaltos. Um tipo de crime frequentemente registrado em todo o país. No Rio Grande do Norte, diariamente a população também é alvo de ladrões.

Mas, além dos assaltos corriqueiros que resultam em danos materiais, os potiguares ainda vivem sob o risco de perderem a vida como vítimas de roubos. Somente nestes pouco mais de quatro meses de 2019, quase 20 pessoas já foram vítimas no estado de roubos seguidos de mortes.

A violência letal envolvendo assaltos é retratada em um recente levantamento do Observatório da Violência (OBVIO) repassado nesta semana à reportagem do DE FATO. As estatísticas do Obvio mostram que entre 1° de janeiro e 9 de maio deste ano, 18 pessoas foram assassinadas no estado em crimes caracterizados como latrocínios.

Os números da entidade apontam também que no mesmo período do ano passado a situação estava mais preocupante, quando foram registrados 36 roubos seguidos de morte no território potiguar. O comparativo mostra uma redução de 50% na quantidade de ocorrências.

 

RN registra 408 latrocínios de 2011 para 2018, com aumento de 2.300% em 7 anos

O Rio Grande do Norte registrou um aumento de 2.300% na quantidade de latrocínios, dentro de um período de sete anos. O dado é do coordenador do Observatório da Violência (OBVIO), Thadeu Brandão.

Segundo Brandão, o estado potiguar foi alvo, entre 2011 e 2018, de 408 roubos seguidos de morte. Ele detalha que no primeiro ano citado foram apenas três casos, enquanto que no último ano foram 72 crimes.

Brandão chama a atenção para um crescimento de 2.300%. No entanto, ele frisa que casos de latrocínio representam apenas 3% do total de 13.789 mortes violentas ocorridas neste período de sete anos.

 

Idoso é morto em assalto em Mossoró

Já no início desta semana, o estado registrou mais um latrocínio. O crime aconteceu na Rua Vicente Leite, no bairro Planalto 13 de Maio (zona leste de Mossoró).

A informação é de que bandidos armados assaltaram uma residência e entraram na casa da vítima identificada como Francisco das Chagas Lima, de 67 anos de idade. O relato é de que eles teriam tomado um aparelho celular de uma jovem e, quando o idoso percebeu a ação dos bandidos, teria se assustado e sido baleado pelos criminosos.

Os bandidos fugiram com destino ignorado e a vítima ainda foi conduzida para o hospital, mas não resistiu e morreu. O caso fez aumentar o número de latrocínios no estado neste ano, em meio aos 527 assassinatos registrados, sendo 62 somente em Mossoró.

 

Sociólogo frisa que latrocínios são a quarta maior macrocausa de CVLIs no RN
“Os latrocínios são a quarta maior macrocausa de conduta violenta letal intencional (CVLI) no Rio Grande do Norte’. É o que aponta o sociólogo, mestre e doutor em Ciências Sociais Thadeu de Souza Brandão. O professor da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) e estudioso da violência avalia também que o aumento desse tipo de crime está ligado a fatores, como maior acesso a armas de fogo e a reação inesperada das vítimas.

 

“Embora a mídia faça extremo alarde acerca dos latrocínios, eles são a quarta maior macrocausa de CVLIs no Rio Grande do Norte (ganhando apenas dos feminicídios)”, afirma Brandão. O especialista detalha que entre 2011 e 2018 foram 408 latrocínios (de um total de 13.789 mortes violentas), perfazendo 3% do total. “Mesmo assim, nesse período, pulou-se de 3 latrocínios em 2011 para 72 em 2018 (2.300% de aumento)”, destaca.

Para o sociólogo, o aumento significativo dos latrocínios está ligado a dois fatores básicos, mas não únicos. Ele cita o aumento do acesso a armas de fogo e sua capacidade de letalidade e também, em alguns casos, a tentativa de reação por parte de vítimas que possuíam armas de fogo no momento da vitimização; e, ao mesmo tempo, pela tentativa desesperada da vítima (mesmo sem arma de fogo, de reagir ao assalto.

“Tendo em vista que a capacidade de reação, uma vez com arma apontada sobre si e engatilhada (mesmo quando não), teria de ser de menos de um segundo, qualquer reação é um erro grave. Isso, obviamente e estatisticamente, ocorre na maioria dos casos analisados e computados nas variáveis do Metadados do Obvio”, observa, ressaltando que a literatura e os dados policiais no mundo inteiro corroboram a constatação de que reagir é, em 99% dos casos, um erro.

“O que se disputa são bens materiais e não a vida. Mesmo assim, quando ocorrem reações, na maioria das vezes, o latrocínio se consome. Porém, não obstante, há casos em que a morte da vítima ocorre por pura vontade de matar do assaltante. Sendo esse tipo de caso extremamente alardeado, perde-se o leitmotiv principal: assaltos em sua absoluta maioria não terminam em morte a não ser quando há reação”, avalia.

Brandão diz que latrocínios são a quarta maior macrocausa de CVLIs no RN, ganhando apenas dos feminicídios

CVLIs

Thadeu Brandão, que também é coordenador do Obvio, explica que as condutas violentas letais intencionais (CVLIs) são um conceito e metodologia de produção de dados estatísticos para os crimes e condutas análogas, intencionais, com resultado de morte.

Ele esclarece que, para fins de contagem e consolidação da natureza violenta da ação, o Obvio utiliza a terminologia CVLI, que é  entendida como sendo toda ação, reação e omissão humana que visa a atingir fisicamente a outro, produzindo morte como resultado final imediato ou posterior em decorrência da natureza do ferimento causado.

Brandão detalha que incluem-se homicídio doloso, lesão corporal dolosa seguida de morte, roubo seguido de morte, feminicídios e ação típica de Estado (letalidade policial), dentre outros.

 

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