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Postado às 08h30 | 20 Abr 2018 | Redação Há 13 anos o Baraúnas fazia história ao golear o Vasco em São Januário

Crédito da foto: Reprodução Placar de São Januário aponta a goleada do Baraúnas sobre o Vasco da Gama

Hoje, dia 20 de abril de 2018, está completando 13 anos do feito histórico do Baraúnas na Copa do Brasil de 2005. Numa noite de quarta-feira, em plano São Januário, o tricolor mossoroense despachou o poderoso Vasco da Gama, com Romário & Cia, aplicando uma goleada que entrou para a história.

Os 3 a 0, com gols de Toni, Cícero Ramalho e Henrique, levou o Baraúnas às manchetes de todo o País.

Para relembrar o feito, o Blog Gol de Placa reedita reportagem do globoesporte.com, de 2015, assinada pelo jornalista Carlos Cruz, em que ele conta o que foi aquela noite de 20 de abril de 2005.

Leia:

“O ano era 2005 e a competição, a Copa do Brasil. Vestindo sua camisa tricolor, um pequeno clube do interior do Rio Grande do Norte fazia história. Depois de eliminar o América-MG nos pênaltis e o Vitória, dentro do Estádio Barradão, em Salvador, o Baraúnas chegava às oitavas de final da segunda competição mais importante do país para enfrentar o Vasco.

No primeiro jogo, em Mossoró, a 285 km de Natal, o empate por 2 a 2 parecia encaminhar a classificação do Cruz-Maltino às quartas de final. Porém, a ousadia do time mossoroense foi maior. Um surpreendente 3 a 0 em pleno São Januário.

O resultado tomou proporções ainda maiores porque, um ano antes, o Vasco deixava a mesma competição ao ser eliminado pelo 15 de Novembro de Campo Bom, do Rio Grande do Sul. "Chocolate", "papelão" e "humilhação" foram alguns dos termos usados para descrever o vexame que o clube da Colina passava.

- A gente sabia que era uma equipe que, jogando em São Januário, era muito difícil ganhar, mas a gente também sabia que tinha possibilidade de conseguir a classificação como aconteceu das outras vezes, porque a gente já tinha eliminado o América-MG e o Vitória, e chegamos para esse jogo acreditando que era possível. Passamos um sufoco nos primeiros 15 a 20 minutos, mas depois fizermos o gol e demos uma controlada no jogo - lembra Isaías, goleiro do Baraúnas na época.

Isaías continua envolvido com o futebol e trabalha como treinador e auxiliar técnico. Aos 41 anos, o ex-goleiro mora em Mossoró. Ele comandou o próprio Baraúnas durante algumas rodadas do Campeonato Potiguar deste ano, mas acabou deixando o clube e aguarda propostas de trabalho.

- O time, com Miluir (Macedo, técnico do Baraúnas), treinou às 10h da manhã, em São Januário, no dia do jogo. Enquanto a gente treinava, os jogadores do Vasco, que estavam concentrados lá mesmo, não acreditaram que era o time que ia jogar na mesmo noite contra eles - conta.

Os atletas do Leão já estavam acostumados à filosofia diferente implanta por Miluir Macedo. O artilheiro da equipe, Cícero Ramalho descreve a forma de trabalho implantada pelo treinador. Aos 40 anos naquela época, o atacante não fugia dos treinamentos e servia de exemplo para os mais novos.

- Muitos deles (jogadores do Vasco) se admiraram por Miluir ter uma filosofia europeia. Ele trabalhou muito tempo em Portugal e eu também joguei na Espanha, e realmente existe esse costume. O Miluir fez isso (treinar no dia do jogo) e, como aqui não existe essa cultura, eles ficaram impressionados. Mas era só um treino relaxante para você suar e ficar mais esperto. Realmente o Miluir sempre fazia isso - declara o ex-atacante.

DUELO DE ARTILHEIROS

"É um jogador que a gente viu jogando no primeiro jogo, é perigoso e a gente tem que ter atenção nele". Foi assim que Romário descreveu Cícero Ramalho antes de a partida começar. O baixinho nem imaginava, mas, 26 minutos depois daquela entrevista, Cícero Ramalho abria o placar do jogo, no dia 20 de abril daquele ano. Após cruzamento na área, o artilheiro do Leão se antecipou à zaga e ao goleiro Fabiano Borges para completar para as redes o cruzamento de Val - hoje no Mogi-Mirim e que recentemente vestiu a camisa do Flamengo e do América-RN. Na segunda etapa, já sem seu artilheiro em campo, o Baru marcou mais dois para fechar a conta. Álvaro e Henrique garantiam a passagem de fase para encarar o Cruzeiro. No encontro com a Raposa, acabava a Copa do Brasil para o Leão, mas a história já havia sido escrita.

Romário já tinha 39 anos e o "Cícero Romário" havia chegado aos 40 naquele ano. A idade não os impedia de seguir marcando gols.

- Como eu tinha 40 anos e Romário também tinha perto disso, a mídia criou aquele duelo. Antes do jogo, ele foi muito atencioso comigo, me cumprimentou e me desejou sorte. Por tudo que ele fez no futebol, as pessoas podem ter uma ideia que ele é meio marrento, mas comigo foi muito tranquilo. Ele já veio a Mossoró tratar de assuntos políticos duas vezes, mas nunca tive a oportunidade de ter um reencontro - lamenta Cícero.

Hoje em dia Cícero trabalha como técnico de futebol. Ele continua morando em Mossoró e tem um chamego especial por sua propriedade na área rural da segunda maior cidade do Rio Grande do Norte.

- Moro em Mossoró e tenho um terreno na área rural, onde planto milho, feijão, limão, essas coisas. Eu quero muito bem a isso aqui. É o meu lugar, de onde eu vim. É gostoso o descanso aqui no final de semana, também chamo os amigos e a gente toma uma cervejinha, come um churrasquinho - revela.

CAMISA DO BAIXINHO

Para Nildo, zagueiro titular da equipe na época, sobrou a responsabilidade de parar um ataque formado por Romário e Alex Dias. Ao lado de Pedroza, ambos cumpriram a missão com sucesso.

- A gente nunca esperava jogar contra ele. Via ele jogando na TV e não esperava, mas acabou acontecendo. Tentamos eliminar ele e, graças a Deus, deu certo. Eles também tinham Alex Dias, que corria bastante, e o Romário já estava parando, mas é um cara que impõe respeito - alega.

Aos 38 anos, Nildo segue atuando. O zagueiro é o único daquele time de 2005 que segue no Leão. Ele lembra que perdeu para o companheiro de zaga o duelo pela camisa do baixinho.

- Cheguei a pedir a camisa, mas ele já havia prometido ao outro zagueiro, o Pedroza. Ele foi muito tranquilo com a gente - recorda.

O grande diferencial, segundo Nildo, foi a maneira como o Baru foi para o campo de jogo.

- O principal fator foi a motivação como a gente encarou a partida. A gente se fechou. A gente sabia que o Vasco era melhor. Ninguém esperava. Nem nós jogadores. Mas nós conseguimos segurar a pressão e fizemos o resultado lá dentro - declara.

DESTAQUE NACIONAL

O jornalista potiguar Sérgio Pinheiro foi o responsável por contar ao país a história daquele jogo. A reportagem de encerramento do Globo Esporte ficou a cargo do repórter recém-chegado à Cidade Maravilhosa.

- Na coletiva de imprensa, na véspera do jogo, eu perguntei ao Joel Santana se ele conhecia o 'Cícero Romário', mas no Vasco todo mundo ficou na galhofa. No outro dia teve o jogo, eu fui fazer, e acabou que deu uma história sensacional. O jornal O Globo já tinha feito uma matéria falando dele como Cícero Romário, então perguntei ao Romário se ele conhecia o Cícero e ele respondeu: "se é Romário, é porque é bom". Se o Vasco ganha, era o óbvio e acabou que deu Baraúnas. A gente encontrou uma senhora que foi de ônibus só pra ver o jogo. Essa matéria me marcou muito porque foi logo na minha primeira semana e foi muito importante para mim. Um desfecho improvável, mas fantástico para quem gosta das histórias da bola, ainda mais para mim que tenho uma empatia com o Baraúnas, e sou de Natal. Foi marcante - relembrou.

ENSINA, RAMALHO

Um detalhe sobre a carreira de Cícero Ramalho é que ele já havia parado de jogar dois anos antes do histórico duelo contra o Vasco. A técnica e o poder de finalização do matador supriram os problemas com a parte física. No início da temporada, o "ex-aposentado" estava pesando 103 quilos.

- Eu já havia parado de jogar. Em 2003 e 2004 não joguei porque já estava aposentado. Em 2004, eu era treinador do Baraúnas no estadual e todo mundo queria que eu voltasse a jogar. Quando assumi o Baraúnas, os meus atacantes perdiam muitos gols, aí eu tive que voltar. Lembro de um jogo que meu atacante perdeu um gol, aí me virei para o banco e falei: "não tem jeito. Vou ter que voltar". Prometi ao João Dehon, presidente do clube na época, que se a gente conseguisse a classificação para a Copa do Brasil do outro ano eu voltaria. Conseguimos a classificação e eu voltei a jogar. Eu estava com 103 quilos e tivemos que fazer um trabalho especial para poder jogar - relembra.

Com o matador ainda longe da forma física ideal e idade avançada, o time era montado em função do jogador.

- Cícero já era um cara que estava encerrando a carreira. A gente jogava com um time montado para dar o suporte a ele, para que, quando a bola chegasse, ele fizesse o que fazia de melhor, que era definir as jogadas. Eram dois volantes, três meias e só o Cícero na isolado na frente - descreve Isaías.

RECEPÇÃO CALOROSA

A chegada ao Rio Grande do Norte foi o que fez cair a ficha do elenco de jogadores tricolor.

- Foi uma surpresa muito grande porque a cidade parou. Foi uma viagem longa porque pegamos o ônibus em Natal e a cidade estava tomada de gente com uma festa dos torcedores porque era um grande feito - afirma Isaías.

Cícero Ramalho conta que a equipe teve que esperar uma hora após o apito final para poder deixar o estádio vascaíno.

- Quando terminou o jogo lá, a gente teve uma hora e meia depois do jogo no vestiário e não tinha água, nem luz. Esperamos a torcida sair para poder ir para o hotel. No fim, fomos para o hotel tranquilos, mas a ficha não caiu. O que me surpreendeu mais foi a chegada a Natal. Quando chegamos ao aeroporto, ele estava lotado de camisas do ABC, do América-RN e do Baraúnas. Quando chegamos a Mossoró, pessoas até com camisa do Potiguar estavam nos esperando. A ficha ainda não tinha caído, aí quando vi aquilo foi que pensei que a gente tinha feito alguma coisa grande. Foi bonita aquela recepção - narra o ex-atacante.

FIM DE JOGO

Depois daquele jogo, o Baraúnas enfrentou o Cruzeiro pela Copa do Brasil. Um 7 a 3 no Nogueirão e um 5 a 0 no Mineirão acabaram eliminando o time mossoroense da competição. Mas a história já estava feita.

- Até hoje, onde eu chego, todo mundo lembra dessa história. É gratificante. A galera não esquece - sintetiza Cícero Ramalho.”

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