Um Pabllo Vittar incomoda muita gente. Em 2017, ela esteve “com a corda toda”, mas ainda não existem muitos motivos para comemorar. De acordo com pesquisa realizada pela ONG GGB, da Bahia, 2017 foi o ano em que mais morreram LGBT’s no Brasil. Até setembro do ano passado, foram registrados 277 homicídios. Nas ruas, milhões de Pabllos incomodam muito mais.
Ele ousou ocupar espaços que não aceitavam sua condição e a sociedade tradicional tenta, a passos lentos, te golfar da mídia, fazê-lo voltar para o Maranhão – Mas já é tarde demais. Ela apareceu nos programas de maior audiência da TV aberta e elevou a audiência, no mesmo país em que um apresentador famoso comentou que as telenovelas estavam com “viados demais”.
A TV se viu atrofiada diante do desafio de fazer a sociedade esquecer que a Pabllo Vittar existe. Um repórter tentou ignorá-la na presença de Anitta e foi massacrado virtualmente. Não havia mais como voltar atrás. Pabllo precisava ser enaltecido. Foram forçados a reconhecer que ela dá retorno, que tem viabilidade. E com isso, a maior de todas as redes de televisão, esperta e não por acaso a maior, obrigou-se a lhe dar os maiores prêmios, os maiores louros, para conquistar parte do público que esperava ansiosamente ver a drag queen mais famosa do país na TV aberta.
Isso faz todo o sentido, mas o talento de Pabllo continua a incomodar. Não se trata da voz. O Jornal Estado de Minas convidou professores de canto para analisar a voz da cantora e considerou-se que a artista tem muito a melhorar, o que é comum, mas tem um bom timbre vocal e muito ainda a ser explorado.
Não se trata da aparência. Talvez, por ser branca, quase sempre loira, ela tenha mais aceitabilidade socialmente do que uma drag queen negra ou parda, como a Gloria Groove, que sofre duplamente preconceito - por ser drag e por ser parda. É um caso de repressão. Ninguém se incomoda com os deslizes vocais da Anitta ou da voz nasalizada do Luan Santana. Reclamam, mas não existe o incômodo. Elas podem não gostar, mas aceitam eles ali, fazendo sucesso. Para o tradicionalismo, Pabllo não pode estar ali. Existe a revolta. É uma audácia generalizada Pabllo aparecer na TV.
Precisamos levantar um braço em comemoração e baixar o outro em luto. Nós conseguimos dar espaço a um LGBT famoso, mas continuamos a repreender os anônimos.
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