Domingo, 24 de novembro de 2024

Postado às 12h30 | 15 Out 2023 | redação Dia do Professor: 60 anos após oficialização da data, desafios persistem

Crédito da foto: Reprodução Professores desempenham um papel crucial na formação e na construção de uma nação

Por Agência Senado

São 60 anos desde que a data de 15 de outubro foi oficializada nacionalmente como o Dia do Professor. O decreto foi assinado em 1963 pelo então presidente João Goulart. Antes disso, ainda no tempo do Brasil Imperial, Dom Pedro I assinou, no dia 15 de outubro de 1827, o decreto que criava o ensino elementar no Brasil.

A data fazia referência a Santa Teresa de Ávila, que pela tradição católica foi educadora e amante dos livros. Muito tempo já passou, mas os desafios para o magistério persistem. É o que apontam diversos senadores em projetos, requerimentos e entrevistas.

Para o senador Confúcio Moura (MDB-RO), os obstáculos a serem superados vão desde os recursos financeiros para a área de educação até as pressões para um melhor desempenho dos alunos. O senador também destaca que uma pesada carga de trabalho e problemas de saúde mental e emocional entre os alunos terminam por afetar o ambiente de ensino. O professor brasileiro, segundo o parlamentar, está entre os profissionais mais acometidos por doenças como estresse e depressão no mundo. Conforme publicado pelo portal Metrópoles, mais de 1,3 mil docentes do Distrito Federal foram afastados por transtornos mentais, apenas entre os meses de janeiro e abril deste ano.

“A necessidade de atualização constante em relação às melhores práticas de ensino é outro desafio, especialmente em sistemas educacionais em constante evolução”, registrou Confúcio.

Na opinião do presidente da Comissão de Educação e Cultura (CE), senador Flávio Arns (PSB-PR), as condições que mais desafiam os profissionais da educação vão desde a falta de infraestrutura das escolas até as dificuldades de conexão tecnológica. Ele ressalta que uma série de audiências na CE mostrou uma demanda muito grande pela questão salarial. O senador ainda alerta para um risco de apagão docente na educação básica no ano de 2040, quando o país poderá ter um déficit de 235 mil professores nas escolas de todo o país.

De acordo com o senador Fabiano Contarato (PT-ES), as questões da profissão são múltiplas. Contarato pontuou que, como delegado de polícia, aprendeu a pertencer aos lugares que conquistou com muito esforço e dedicação, mas foi lecionando que ele disse se sentir realizado. Ele também afirmou que a sala de aula o fez entender que os educadores podem ser instrumento para transformar sonhos em realidade.

A senadora Professora Dorinha Seabra (União-TO) ressaltou que um dos principais entraves de quem atua no segmento é administrar uma sala de aula, “pois todos os problemas da sociedade chegam à escola”. Ela citou como exemplo questões como a falta de moradia adequada, a fome e a violência doméstica que, em muitas vezes, fazem parte da realidade dos alunos.

 

“O Brasil é um país que não valoriza o professor”, diz senador

Apesar das evidentes dificuldades, os senadores fazem questão de reconhecer a importância da atuação dos mestres para a formação do país. Confúcio Moura apontou a educação como instrumento de promoção da cidadania e da justiça social, além de mola propulsora do desenvolvimento econômico e da eliminação da pobreza. Ele ponderou, no entanto, que “fazer acontecer” é a grande meta a ser alcançada.

“Os professores desempenham um papel crucial na formação e na construção de uma nação. São o eixo central de uma política educacional exitosa, coordenando e liderando toda a formação de um indivíduo”, destacou Confúcio.

Na visão do senador, valorizar aqueles que atuam diariamente na formação educacional passa por garantir infraestrutura adequada nas escolas, com salas de aula bem equipadas, bibliotecas, laboratórios e acesso à tecnologia. Ele também cita salários competitivos e a oferta de programas de formação contínua de alta qualidade como pontos da valorização da carreira.

“O Brasil é um país que não valoriza o professor. Essa é uma dura e vergonhosa verdade. O professor vive imerso numa atmosfera de burocracia, ganha mal e é sujeito a diversas formas de violência”, lamentou o senador.

Para maior valorização da profissão, Flávio Arns defende a realização de concursos públicos, plano de carreira, cumprimento do piso salarial e programas de formação inicial e continuada. Ele pondera, porém, que boas medidas precisam sair do papel e se tornar realidade. Só por meio da educação, reforça o senador, será possível ter “a transformação tão necessária que queremos para o Brasil”.

“Os professores são a principal profissão para o desenvolvimento de um país, pois é a partir da educação que a sociedade avança”, registrou Flávio Arns.

Na mesma linha, a senadora Professora Dorinha Seabra também defende melhores salários, medidas para tornar a carreira mais sólida e mais estrutura nas escolas como forma de valorização do segmento. Ela aponta que todos os países que conseguiram avançar, tanto na economia quanto nos indicadores sociais, primeiro investiram na educação.

O senador Contarato é taxativo ao apontar que "tudo passa pela educação". Conforme o senador, a construção de um país melhor, o aprendizado sobre o amor e a tolerância e o investimento no futuro de crianças e adolescentes passam, necessariamente, pelo papel do educador. Para Contarato, o professor precisa ser valorizado financeiramente, mas também deve ser reconhecido, admirado e respeitado. Ele pede um trabalho coletivo para que o país encare a educação como prioridade.

“Não existe um futuro promissor sem uma boa educação. E é o professor, dentro da sala de aula, que tem a importante missão de enxergar naqueles estudantes o futuro do nosso país e zelar por essa construção diária”, ressaltou Contarato.

 

Projetos valorizam as condições de trabalho

No Senado, tramitam algumas matérias que buscam melhorar as condições de trabalho da categoria. É o caso do projeto que estabelece a Política Nacional de Incentivos e Benefícios a Futuros Docentes da Educação Básica (PL 3.824/2023). Do senador Flávio Arns, a matéria está em análise na Comissão de Educação, sob relatoria da senadora Professora Dorinha. Para ele, a atração pela carreira do magistério precisa ir além de bons salários. O autor justifica que o objetivo do projeto é oferecer princípios e medidas para contribuir com os esforços de atração de estudantes de graduação de pedagogia e licenciaturas para a função docente nas escolas públicas e privadas de educação básica brasileiras.

“O projeto estabelece um conjunto estratégico de medidas para incentivar o recrutamento e a atração de estudantes do ensino superior para a função docente nas escolas públicas e privadas de educação básica”, explicou Flávio Arns.

Outro projeto relacionado ao tema é o que define medidas para prevenir a violência contra profissionais da educação (PL 5.276/2019). Do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), a matéria também prevê procedimentos a serem adotados pelo gestor educacional em casos de violência. O texto aguarda votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) apresentou um projeto para agravar as penas dos crimes cometidos contra professores (PL 3.533/2023). A pena por uma agressão, por exemplo, poderá passar de um ano para um ano e quatro meses. A matéria aguarda a definição de relator na CCJ.

Tecnologia

Na visão do senador Confúcio Moura, as pessoas que trabalham com o ensino enfrentam diversos dilemas nos dias de hoje ao se depararem com salas de aula cada vez mais diversas, com alunos de diferentes origens étnicas, culturais, linguísticas e níveis de habilidade, que requerem estratégias de ensino adaptadas.

Algumas propostas no Senado buscam exatamente facilitar o acesso dos titulares de sala de aula a recursos tecnológicos. Um exemplo é o projeto que garante, a professores e alunos da rede pública, a ampliação do acesso à internet e ao uso de tecnologias (PL 1.884/2023). Da senadora Professora Dorinha Seabra, o projeto aguarda designação de relator na Comissão de Ciência, Tecnologia e Informática (CCT).

No mesmo sentido, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) apresentou um projeto (PLP 59/2021) que estabelece regras para o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Segundo o autor, o projeto busca viabilizar que estados, DF e municípios implementem política pública destinada a prover acesso à internet a alunos e professores das redes públicas de ensino com vistas a seu engajamento nas atividades pedagógicas não presenciais. A matéria aguarda a definição de relatoria na Comissão de Comunicação e Direito Digital (CCDD).

Tags:

Dia do Professor
educação
Brasil

voltar