Da Agência Brasil
Na reta final para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), estudantes contam como estão se preparando e como estudaram ao longo deste ano em meio a pandemia do novo coronavírus. As realidades e os desafios são diversos.
Em Porto Velho (RO), Heloísa Lara, 23 anos, que pretende cursar medicina, precisou enfrentar o ensino online - algo com o qual sempre teve dificuldade. No Rio de Janeiro, Lucas Bevilaqua, 17 anos, tenta driblar as telas e conseguir descansar um pouco às vésperas do exame. Em Cocal dos Alves (PI), Sergio Manoel Cardoso, 17 anos, passou a ter aulas por WhatsApp. Em Barreirinha (AM), Karen Eduarda Prestes, 18 anos, enfrenta a falta de internet, que atrapalha seus estudos.
“Eu achei que não fosse ter foco porque estudar em casa tem distrações. Achei que seria difícil, mas arrumei foco e arrumei um lugar onde pude ficar mais em silêncio”, diz Heloísa Lara, 23 anos. Há cinco anos, a estudante busca uma vaga em um curso de medicina. Já havia tentando fazer cursinhos online, mas não conseguiu manter a rotina. A pandemia a obrigou a voltar para o ensino remoto. “Eu tive que mudar minha mentalidade quanto a isso. O online foi bom porque eu sou muito tímida e pude mandar perguntas sem precisar falar em uma sala de aula. Consegui tirar todas as dúvidas que eu tinha”, conta.
Heloísa, este ano, investiu em um curso específico de redação. O ensino remoto permitiu que se matriculasse no Laboratório de Redação, em São Paulo. A estudante, que usa o celular para estudar, precisou também melhorar o pacote de internet que tinha para poder acompanhar as aulas. Ela passou ainda por uma mudança de cidade, em meio a pandemia, mudou-se de Cacoal (RO) para a capital do estado, Porto Velho. "Agora, estou revisando conteúdos do ano passado. Fiz resumos e estou fazendo bastante exercícios. Depois de várias terapias, agora estou tranquila".
Lidando com a ansiedade
Para o estudante do colégio Mopi, no Rio de Janeiro, Lucas Bevilaqua, 17 anos, a parte emocional pesou este ano. “Esse ano foi um ano muito complicado. Eu não sei se a questão da pandemia ajudou ou piorou meus estudos. Acho que a questão da cabeça piorou muito. Mas, em termos de estudo, ajudou a me concentrar porque estou em casa não tem muito o que fazer. Acabei conseguindo distinguir as coisas, focar no que precisava, embora tenha sido um ano difícil psicológica e emocionalmente.”
As aulas online ocupavam as manhãs e parte da tarde. “Uma coisa que pesou muito para mim, foi que ficava muito tempo no celular, no computador, sempre tinha que achar um tempinho para me recuperar, para achar um tempinho fora do computador", diz.
Ao lado do estudante, que pretende concorrer a uma vaga em um curso de psicologia, o irmão gêmeo Gabriel divide o espaço e a mesma angústia no preparo para o Enem. “Estamos meio que no mesmo barco”. Bevilaqua conta que, no último ano do ensino médio, ele sentiu falta da escola, “Pesou para mim não ir para escola, ver pessoas, conversar, pesou um lugar onde possa relaxar e tirar a pressão.”
Aulas por WhatsApp
Para o estudante da Escola Augustinho Brandão, em Cocal dos Alves (PI), Sergio Manoel Passos Cardoso, 17 anos, aprender apenas a distância gerou insegurança. “Além da forma de ensino ter mudado completamente, a distância física que temos das salas de aula cria um certo pane em relação ao que eu aprendi”, diz. Mas, o estudante diz que confia no trabalho feito pelos professores. “Eu acredito que apesar do ensino remoto, todos da minha turma irão se sair bem, pois, temos o apoio incondicional dos professores, de todas as formas possíveis”.
O estudante passou a ter aulas por WhatsApp. Os professores mandavam exercícios, vídeos que eles mesmos produziam, sempre buscando a melhor forma de compreensão do aluno. As dúvidas podiam ser tiradas sempre levantando a mão com um emoji.
“Esta reta final está sendo muito complicada, pois, além de se adaptar à nova rotina remota, buscar sempre manter a saúde mental também faz parte. Porém, com essa aproximação da prova, eu sinto que tenho que revisar o máximo de matérias e assuntos que conseguir, acredito que, aumentando minha ansiedade”, diz Cardoso, que pretende concorrer a vagas de direito ou odontologia. "Às vezes, quando quero me distrair um pouco, tento ir jogar bola, passo o dia sentado em uma cadeira.”
Dificuldade de acesso
A estudante Karen Eduarda Prestes, 18 anos, da Escola Estadual Professora Maria Belém, em Barreirinha (AM) Karen Eduarda Prestes, 18 anos, não chegou a conhecer pessoalmente os professores este ano. A escola estava em reforma no início do ano e logo em seguida foi fechada por conta da pandemia. As aulas passaram a ser dadas por WhatsApp.
“Isso complicou mais ainda porque nós, como alunos, como a gente faz parte da classe baixa, a dificuldade foi maior pelo acesso à internet. No nosso município a internet é ruim demais. A gente teve que achar um meio para lidar com isso. Muitos alunos desistiram”, conta a estudante que passou o ano acessando conteúdos escolares pelo celular.
Os professores e os estudantes precisaram se adaptar, mas Karen diz que eles conseguiram materiais e conseguiram fazer simulados este ano. “Hoje eu passei o dia todo estudando para o Enem e encontrei dificuldade. Minha vontade é ser professora de português. Muitas vezes pensei em desistir, por ter a dificuldade da internet, por não ter computador para pesquisar, mas a minha vontade é muito maior do que o que está acontecendo. Muitos desistiram dos sonhos, mas eu estou tentando ao máximo focar nos meus livros, nas videoaulas”. Fazer a prova em meio a pandemia é outro desafio, de acordo com a estudante. “Tenho muito receio, me sinto insegura”, diz.
A pandemia exacerbou as desigualdades no Brasil. O acesso a internet, a computadores e celulares passou a fazer ainda mais diferença no aprendizado. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada este ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede. Já a pesquisa TIC Domicílios apontou que 58% dos brasileiros acessavam a internet em 2019 exclusivamente pelo telefone celular.
O Enem 2020 será aplicado na versão impressa nos dias 17 e 24 de janeiro e, na versão digital, nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro.
Devido a pandemia, durante todo o tempo de realização da prova, os candidatos estarão obrigados a usar máscaras de proteção da forma correta, tapando o nariz e a boca, sob pena de serem eliminados do exame. Além disso, o álcool em gel estará disponível em todos os locais de aplicação.
Quem for diagnosticado com covid-19, ou apresentar sintomas desta ou de outras doenças infectocontagiosas até a data do exame, não deverá comparecer ao local de prova e sim entrar em contato com o Inep pela Página do Participante, ou pelo telefone 0800-616161, e terá direito a fazer a prova na data de reaplicação do Enem, nos dias 23 e 24 de fevereiro.
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