(*) João Paulo
A vitória de Donald Trump pode trazer preciosos ensinamentos ao Partido Democrata, desde que este esteja de fato interessado em realizar profundas mudanças. O resultado desta eleição serviu para o partido encarar de frente os problemas estruturais que vem enfrentando nos últimos anos. Hillary Clinton se tornou a segunda pessoa mais votada no histórico presidencial, a democrata vence Donald Trump no voto popular, apesar de ter sido derrotada no Colégio Eleitoral.
Democratas nas últimas sete eleições venceram os republicanos no voto popular em seis. Por tudo que se viu nesse período eleitoral e pelo silêncio dos líderes republicanos sobre às nomeações de figuras extremistas para ocuparem cargos no governo de Donald Trump, está nítido que o Partido Democrata é a sensatez do bipartidarismo americano. O que fazer daqui por diante? Qual nossa identidade? Por que mesmo defendendo as minorias e a classe média sofremos uma derrota? Esses são os questionamentos que no momento fazem os democratas.
O Partido pode sair da desconfortável situação que se encontra e melhorar seu desempenho já na próxima eleição legislativa de meio de mandato presidencial, em 2018. Conseguir tal desempenho não será fácil, circunstâncias externas ao partido tenderão a ser mais cruciais para que os democratas alcancem boa performance. Por que o partido que representa o presente (ainda que cambaleante) e o futuro da América se encontra em condição delicada? Motivos não faltam. Daqui em diante os democratas tem que pôr em prática, urgentemente, mudanças drásticas para que não definhem ainda mais nos próximos anos.
A derrota de Hillary em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, estados que a duas décadas vinham dando vitória aos democratas, é a prova cabal da substancial perda de apoio do partido com os homens brancos da classe trabalhadora da região Rust Belt (Cinturão da Ferrugem). Juntos esses estados possuem 46 votos no Colégio Eleitoral, se tivesse vencido neles Hillary teria sido eleita presidente. Soma-se Iowa e Ohio, que apesar de serem estados-pêndulos sempre deram importante apoio aos democratas. A diferença de votos que Trump impôs à Hillary em Iowa é de cerca de 9,5%, em Ohio, de 8,5%. Os cinco estados possuem juntos 70 votos no Colégio Eleitoral e uma população estimada em 43,2 milhões de habitantes. Adiante será imprescindível vencê-los para se chegar à Casa Branca.
Na década de 90 conquistar os homens brancos da classe trabalhadora foi essencial para a eleição e reeleição de Bill Clinton. Mas os democratas não formaram vínculos eleitorais com esse grupo demográfico. E o resultado disso é conhecido nos dias de hoje. Deixar esses homens ao léu serviu para que eles fossem capturados por figuras e grupos de extrema-direita e abraçados calorosamente pelos republicanos. Os homens brancos operários dos Grandes Lagos, região de tradição progressiva, sempre foram mais fiéis ao partido, reconquistar o apoio desse amargurado homem branco começa exatamente por essa região.
A debilidade democrata nas últimas quatro eleições para à Casa dos Representantes está centrada na perda de poder do partido nos legislativos estaduais. Controlando a maioria dos legislativos em 2010 os republicanos adotaram a estratégia política denominado gerrymandering (redesenho dos distritos eleitorais em favor de determinado partido). É crucial ter força nos estados porque é nos estados que se começa a construir o sucesso partidário a nível nacional.
A partir de 2017 democratas estarão no controle de apenas um terço dos governos estaduais. Também serão minoria na maioria dos escritórios legislativos. E ainda terão que encarar a falta de renovação partidária em diversas fileiras estaduais. Uma reorganização nos seus quadros partidários e em sua base eleitoral é portanto tarefa mínima para o partido voltar a ter força nos estados.
Dois estados nesse pleito indicaram suas direções futuras, Arizona e Geórgia, de tradição republicana. Ambos passam por uma intensa transformação demográfica e sinalizam para se tornarem Battleground States nas próximas eleições. No Arizona a diferença de votos dos republicanos frente os democratas foi reduzida em mais de 50% em relação ao pleito de 2012.
No condado de Maricopa, que engloba Phoenix e seus subúrbios, e que corresponde por mais da metade dos eleitores do estado, Hillary acabou perdendo por pequena diferença. Na Geórgia, a democrata alcançou bom desempenho nos subúrbios da cidade de Atlanta, região que é uma das que mais cresce e se diversifica étnico-racialmente em todo território americano. Arizona e Geórgia apontam para o futuro, os democratas só precisam antecipar esse horizonte.
Apesar de votarem majoritariamente nos democratas, os millennials tem baixa afluência às urnas, o partido erra ao confiar demasiadamente nessa geração. Os hispânicos se mostraram um grupo não tão confiável quanto se pensava, como ainda não possuem a mesma organização comunitária que detém os afro-americanos, o partido terá maior dificuldade em mobilizá-los. Lideranças jovens terão que surgir, uma renovação etária é vital, o partido terá que realizar tal fomento. No entanto a recondução de Nancy Pelosi como líder democrata da minoria na Câmara mostra que o partido terá dificuldades de realizar reformas na sua estrutura partidária. A liderança que Pelosi vem exercendo a uma década é tida por muitos democratas como catastrófica. É a liderança de Pelosi que vem barrando mudanças fundamentais para o fortalecimento democrata tanto a nível federal quanto estadual.
O perfil de quem assumirá a chefia do Comitê Nacional Democrata para os próximos anos indicará os rumos que a agremiação seguirá. Mostrará se a ala progressiva, mais à esquerda, ou a ala moderada, de centro, terá maior poder de influência na agremiação. Por fim, esta disputa demonstrou que há muito o que se aprender com o Los Angels Times, com o historiador da Universidade Americana de Washington, Allan J. Lichtman, e com o cineasta e escritor Michael Moore.
(*) João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.