(*) João Paulo Os problemas socioeconômicos advindos da crise de 2008/2009 nos Estados Unidos foram um fator importante nesta eleição. No entanto a repulsa pelo diferente, algo contumaz na história americana, foi fator ainda mais importante para votar em Donald Trump. “Outsider”, “aversão às elites”, serviram como fachada para esconder o real motivo de voto no republicano. Esta eleição teve uma semelhança com a decisão dos britânicos de saírem da União Europeia, enquanto mais as elites se uniram contra o Brexit, mais forte foi a decisão do Reino Unido de optar por sair do bloco. Com Trump se deu a mesma coisa. Muitos jornais convencionais que não tinham tradição de manifestar seu apoio em eleições, resolveram se posicionar nesta. Se alguns não defenderam abertamente o voto em Hillary Clinton, decidiram ao menos apoiar com veemência um não-voto em Trump. Ressalta-se ainda que consideráveis meios de comunicação de inclinação republicana decidiram pela primeira vez manifestar apoio à uma candidatura democrata. Ao longo da campanha Trump acusou a mídia de estar ajudando a fraudar a eleição. Nenhum candidato dos dois grandes partidos nas últimas décadas agiu com tanta beligerância em relação a mídia. Apesar de não ser um republicano pertencente ao establishment, Donald não estava sozinho em sua encruzilhada ensandecida. Vários republicanos antes mesmo do resultado da eleição já falavam em impeachment de Hillary caso a democrata saísse vitoriosa do pleito. Prováveis provas para tal pedido nunca sequer vieram a público. Mas se os republicanos demonstraram completa desonra, o mesmo não pode ser dito dos democratas. No dia seguinte a sua derrota, Hillary demonstrou hombridade ao aceitar pacificamente o resultado das urnas, como se pede na Constituição Americana. Até que ponto o gênero de Hillary foi fundamental para sua derrota? Até que ponto James Comey, diretor do FBI, pode ter influenciado o resultado da eleição quando reabriu às vésperas da eleição o caso sobre os e-mails de Hillary? Essas pertinentes indagações ainda serão melhor estudadas para que adiante respostas críveis possam ser efetivamente dadas. De ponto de partida pode-se considerar esta eleição atípica. Um comparativo com a eleição de 2008, um pleito incomum, nos dá esse parâmetro. Naquele ano Barack Obama venceu estados solidamente vermelhos (republicanos). Neste pleito Donald Trump obteve vitórias em estados de tradição democrata. A única diferença entre 2008 e 2016 é que a disputa entre Obama e John McCain transcorreu dentro de um ambiente convencional, já a atual disputa ocorreu sob a égide de um ambiente incomum. Enquanto do lado democrata se tinha uma candidatura representando o establishment, do lado republicano se tinha um candidato de fora da elite partidária. A defesa ao livre comercio é um ponto-chave no ideário republicano. Porém Donald fez uso de um discurso protecionista, o que o acabou ajudando a trazer para si votos de eleitores brancos da classe trabalhadora. A Parceria Transpacífico, defendida pela elite econômica americana, ilustra a onda nativista que tomou conta da disputa. A Parceria foi motivo de repulsa do eleitorado, tendo na voz de Donald seu maior eco. Outra ruptura entre os republicanos convencionais e Donald se refere ao fato deste vê no presidente russo Vladimir Putin um aliado, e a recíproca de Putin ao magnata nova-iorquino é verdadeira. Ao longo de mais de meio século o GOP sempre enxergou na Rússia o inimigo número 1 da América. Esta eleição norte-americana trouxe mais um ingrediente, a incongruência que Donald Trump e políticos ao redor do mundo vem fazendo uso, a de se apresentarem como outsiders, mas no fim das contas estarem presentes na política. As massas vão a loucura com isso, e o populismo só mostra que será tendência nos próximos anos. Após afirmar que não sabia se respeitaria o resultado das urnas caso fosse derrotado, e acusar fraude eleitoral sem mostrar provas, como é de praxe, em estados onde Hillary venceu, indiretamente afirmando que sua própria vitória foi uma trapaça, Donald Trump chega ao posto mais poderoso do globo terrestre, tendo muitas promessas a entregar para seu eleitorado. Se o que se imagina vier a se concretizar, que sua administração seja um desastre, ao menos Donald fará um favor a sensatez no mundo servindo como exemplo de um extremista no poder. Além de mostrar mais uma vez que o Partido Republicano é mestre em provocar crises na história da América. (*) João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.