Folha de S. Paulo
O ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar apresentou em um dos anexos de sua delação um powerpoint sobre suas relações com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o suposto tráfico de influência do petista em benefício da companhia.
A apresentação lembra a que foi feita pelo procurador Deltan Dallagnol em setembro de 2016 – que gerou uma série de memes nas redes sociais.
Na versão da apresentação entregue pelo ex-diretor da empreiteira, Lula é ligado a obras no sítio de Atibaia, à compra de um imóvel para o instituto que tem o nome do ex-presidente, à expressão “Conta $ Itália”, entre outros.
O anexo veio a público depois de o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato o Supremo Tribunal Federal, determinar a juntada dos depoimentos de delatores da empresa a um inquérito já existente.
No texto, Alencar relata que entre suas atribuições estava a de “cultivar e fortalecer” os vínculos da Odebrecht com Lula.
Ele diz que, por ser braço direito de Lula, a relação com Gilberto Carvalho era “interessante para a companhia e para o próprio governo”.
“Nunca paguei ou autorizei pagamentos de propina diretamente para Carvalho, mas ele foi fundamente no agendamento de encontros e no transporte de documentos entre a companhia e Lula.”
Ele relata também ter pedido a intervenção de Lula junto ao prefeito paulistano Fernando Haddad para que o município comprasse créditos imobiliários para assegurar financiamento do Itaquerão.
“Independentemente de o fato de Haddad não ter implementado o pedido que lhe foi feito, fato é que fizemos a Lula o pedido, que foi levado adiante.”
Alencar diz ainda que, em 2014, depois da deflagração da Operação Lava Jato, advertiu Lula que as investigações poderiam chegar ao governo. “A reação dele foi de concordar comigo, demonstrando preocupação.”
INVESTIGAÇÃO
O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.
Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).
No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.
Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.