Terça-Feira, 29 de abril de 2025

Postado às 20h30 | 09 Jul 2017 | O jogo não acabou

(*) João Paulo Jales dos Santos

Duas importantes notícias relacionadas a economia vieram à tona nesse último dia de junho, e coincidentemente trouxeram índices recordes negativos para suas respectivas séries históricas. A taxa de desemprego de 13,3% no trimestre encerrado em maio, um recorde da taxa da série histórica iniciada em 2012 pelo IBGE para o mês; e o rombo recorde, R$ 30,73 bilhões de déficit primário, para as contas do setor público para um mês de maio desde que o Banco Central iniciou a série histórica em dezembro de 2001.

Convém sempre lembrar que a promessa de melhora econômica era item número um vendido pela direita em sua agenda para defenestrar Dilma Rousseff do cargo de presidente. O leitor certamente irá ponderar que as melhoras nos indicadores econômicos não viriam com tanta rapidez, e está certo; mas lembre-se leitor, a direita na ânsia de aboletar Michel Temer na cadeira da presidência vendeu um ‘mar de rosas’, como vendera Dilma Rousseff em sua campanha para reeleição em 2014; o resultado da quitanda de Dilma já é conhecido, e a de Michel Temer há cada dia, numa velocidade feroz, vai antecipando seu resultado.

Ora leitor, não lhe parece estranho o fato de que o mesmo Temer que foi vice de Dilma, que portanto teve participação no desastroso governo da petista, tenha sido vendido como um ‘salvador da pátria’, numa espécie de sebastianismo com finalidade unicamente econômica? Existe um intrincado jogo sendo disputado no Brasil dos dias que correm, e a direita equivocadamente pensou que havia levado o jogo quando depôs Dilma do poder, esqueceu a direita que o final do jogo não havia ainda sequer dado o pontapé inicial.

No linguajar da direita há duas reformas postas na mesa como essenciais para ‘salvar’ a economia, as reformas trabalhista e previdenciária. Para atender o empresariado brasileiro as reformas tributárias e políticas foram deixadas de lado.

A reforma política poderia ser argumentada como não sendo da vivencia do empresariado, portanto estranha a esse poderoso segmento; mas a tributária causa muita estranheza que não tenha sido também posta a mesa, vide que o lerdo empresariado do país vive reclamando de um sistema tributário suicida.

A maioria dos elementos que levaram à queda de Dilma ainda se fazem presentes no governo Temer, indicadores econômicos negativos, baixa popularidade e o cerco policial da Lava Jato; por que então Temer ainda se mantém no comando da presidência?

Ainda mais tendo um agravante quando se comparado a delicada situação de Dilma no pré-impeachment e no decorrer do processo, a denúncia de Rodrigo Janot contra Temer, que o fez o primeiro presidente denunciado no exercício do mandato por crime comum.

Michel Temer alia uma boa articulação política com uma equipe econômica de boa qualidade, requisitos que Dilma não tinha. Com isso o presidente mantém viva a confiança das elites política e econômica do país, que já não querem mais mexer com o ocupante da presidência temendo ainda mais instabilidade e incerteza no horizonte do país.

No momento a manutenção do status quo apresenta um menor grau de risco para os interesses das elites. Se no campo econômico o mercado dá suporte a Temer, no político é o PSDB que sustenta o governo do presidente. O tucanato decidiu tomar as rédeas do governo, age como se a administração Temer fosse um governo tucano. É um brutal erro estratégico que mostra uma espécime de ‘patologia tucana’ em cometer erros que farão que com que o partido acabe tendo saldo negativo no cálculo político-eleitoral.

Há uma parte da direita que crê piamente que Lula está morto no tabuleiro eleitoral, mas o jogo ainda está sendo jogado. Apesar de enfrentar problemas jurídicos e uma alta rejeição, Lula ainda está vivíssimo. A direita ao fomentar o impeachment de Dilma preferiu assumir responsabilidades; o PT, excelente em estratégia oposicionista, prefere deixar Temer no cargo e fazer com que seu governo sangre por si só.

Na República comandada por verdadeiras quadrilhas o X da questão é saber como acabará o jogo. A enorme instabilidade da cena política no governo Temer, consequência da cena policial, faz com que toda e qualquer previsão que almeje antecipar o resultado do jogo acabe tendo que ser refutada por vezes em questão de horas.

Portanto, que os dados continuem a ser lançados.

(*) João Paulo Jales dos Santos é studante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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