(*) João Paulo Jales dos Santos.
Qual a diferença entre Dilma Rousseff e Michel Temer? De pronto poder-se-á dizer que a primeira é de esquerda, o segundo de direita; se um petista responde, dirá que a primeira defende os pobres, enquanto o segundo defende o desmonte dos programas sociais com o apoio do mercado; se for um direitista que apoia Temer, dirá que Dilma é uma bolivarianista, enquanto que Temer livrará o Brasil do comunismo e colocará o país no rumo certo.
A despeito da resposta espontânea que venha à tona quando se pergunta qual a diferença que separa Dilma e Temer, os fazendo duas pessoas de características e ideias distintas, Dilma Rousseff e Michel Temer possuem práticas tão comuns do que supõe a vã filosofia de muita gente.
O popular termo ‘vã filosofia’ cabe perfeitamente bem na guerrinha que se tenta fazer para tornar pessoas boas e más, Dilma e Temer, a depender de que lado do cabo de guerra está o ser humano que tenta impor de toda maneira o mínimo critério para dissipar qualquer semelhança entre a ex-presidente e o atual ocupante do Palácio do Planalto.
Dilma foi vendida como uma ‘gerente’ quando o PT a lançou candidata pela primeira vez, um quadro técnico, que faria uma administração milimetricamente burocrática e de cunho racional. E assim ficou o perfil de Dilma para a população até junho de 2013, quando eclodiu nas ruas as manifestações daquele ano. Sua queda de aprovação, medida por pesquisa Datafolha divulgada em 29 de junho de 2013, mostrava que a presidente à época vira sua aprovação chegar ao patamar de 30% em apenas três semanas, na primeira semana do mês, o Datafolha divulgava que Dilma contava com aprovação de 57%, a expressiva queda nos números veio no rastro do fim das manifestações que marcaram o mês daquele ano. As fragilidades de Dilma, que andavam escondidas desde que assumiu a presidência no 1º de janeiro de 2011, ficaram evidentes dos protestos de junho até sua deposição em definitivo no 31 de agosto de 2016, quando saiu de cena ruborizada, sem entender por quê o público que a aplaudira no primeiro ato, a destratava no último.
E Michel Temer? Um sujeito desconhecidíssimo de 99,99% dos brasileiros, veio de todos os lados, sem a população tomar conta, para assumir o centro do palco ao qual Dilma deixava de forma atônita. O ex-vice pode ter chegado a cadeira da presidência subitamente para o grande público, no entanto sua figura já era por demais conhecida por aqueles que trilham os escaninhos de Brasília.
Presidente da Câmara dos Deputados duas vezes, deputado federal pelo estado de São Paulo por duas décadas, Temer se tornara vice na chapa de Dilma quando PT e PMDB estavam enamorados há 7 anos. Seu nome como vice da petista não agradou Lula, que preferia Henrique Meirelles, mas como Lula nem tudo podia teve que engolir, quase entalando-se, o nome de Temer como vice de sua pupila.
A pesar desse episódio, Michel Temer foi um importante ator político para aproximar o PMDB do governo Lula após a reeleição do presidente em 2006. Se nos quatro primeiros anos de governo do petista, Lula e PMDB, acenavam de leve um para o outro, no segundo mandato o PMDB adentrou a fundo na administração.
Temer na chapa com Dilma significava a aliança selada das ‘cúpula de ferro’ do PMDB e PT naquele momento. Não imaginava Dilma, eleita presidente numa noite de outubro de 2010, que para sentar em sua cadeira e ser o terceiro peemedebista, desde 1985, na condição de vice a se tornar presidente, Temer usaria de sua boa articulação política de formar coalizações e apoios para retirá-la da presidência. Para a plateia a aliança entre os partidos foi despedaçada, mas sem se dar conta, o público mal sabia que o casamento arranjado fora dilacerado sem ser completamente rompido, nesse jeitinho tão intimamente brasileiro
Mas voltemos a indagação que inicia o presente artigo: qual a diferença entre Dilma Rousseff e Michel Temer? O mínimo de raciocínio concluirá que Dilma Rousseff e Michel Temer são tão parecidos quanto Dilma é Dilma, e Temer é Temer. Ambos são a perfeita representação do Brasil do passado e de hoje, dois seres que usam de todos os instrumentos, e do modus operandi mais ilícito impossível, para livrar a própria pele de qualquer situação. Dilma comprou apoios, sem sucesso, para se livrar do impeachment; Temer, assim como Dilma, com a diferença de sucesso na primeira tentativa, usou e abusou de compra de apoio parlamentar com montantes voluptuosos de emendas.
Os dois estão envoltos nas mais assombrosas descidas ao esgoto da corrupção que esse país já presenciou publicamente. Quando formaram chapa eleitoral em 2010 acabaram se completando com sincronia olímpica. Quando no início de dezembro de 2015 a carta que Temer enviou a Dilma veio a conhecimento público, viu-se naquelas palavras que o Brasil tinha um vice que fazia beicinho, birra, quebrava o brinquedo e abria o berreiro a chorar como toda criança enraivecida.
O brasileiro passa dias a tanto reclamar, como lhe é tão característico, recorrendo a velhos vícios e erros permanentes, da figura que vê na presidência. Michel Temer presidente é tudo aquilo que no íntimo tanto representa o Brasil, um país assolado numa incapacidade histórica de acertar por si mesmo.
(*) João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.