O senhor Ruy Gaspar, secretário de Turismo do Rio Grande do Norte, usou as redes sociais para defender o cidadão armado para “matar bandidos”. Não é brincadeira não. Na sua visão “olho por olho, dente por dente”, só a pessoa de bem atirando nos foras da lei resolve o problema de segurança pública no estado.
Partindo daí, certamente, na cartilha de Ruy Gaspar os turistas devem desembarcar no RN armado até os dentes para enfrentar a guerra marginal. Ao invés de chamar as forças policiais ao se sentir ameaçado, o visitante deve estourar a cabeça do suspeito com tiro de 12. Que tal no próximo salão do turismo o estande do RN apresentar um kit atração: fuzil, cinturão de balas, coletes, punhal e uma tiara do tipo Rambo.
O Estado seria uma espécie de “mortal kombat” da vida real. Um atrativo e tanto, que deixaria a rede hoteleira superlotada, o belo litoral concorrido, bares e restaurantes bombando e, principalmente, as lojas de artigos de caça vendendo aos montes.
A ideia sangrenta de Ruy Gaspar, que transformaria o cidadão de bem em um assassino (quem mata, é matador; independentemente do motivo), sugere que o Governo Robinson Faria, ao invés de investir em plano de inteligência para enfrentar a criminalidade, passaria a distribuir armas à população, que seria responsável pela sua própria segurança.
O Governo não construiria mais cadeias para ampliar o número de vagas no sistema prisional, hoje bastante deficitário, e optaria por cavar enormes valas para enterrar os bandidos mortos pela sociedade.
Para completar, o Governo poderia criar o programa “Bolsa Tiro”, para pagar o cidadão por número de bandidos tombados. O cidadão-matador, claro, não seria alcançado pela lei, afinal, eliminou um bandido, porque se criaria uma lei – só no RN – para imunizar o atirador. E a família do morto, como ficaria?
Bom...
O fato é que se o governador Robinson Faria não compartilha com a ideia violenta de Ruy Gaspar, e certamente não compartilha, tem por obrigação exonerá-lo sumariamente. É inadmissível um secretário de Estado, homem público, defender o crime para combater o crime. A voz de Gaspar, a partir do momento em que ele participa de um governo em cargo de primeiro escalão, passa a ser pública e reverbera o que o próprio Governo pensa.
Sequer cabe a desculpa que ele falou ou escreveu como cidadão comum, uma vez que a figura pública não se desassocia.
Portanto, governador, não feche a porta do turismo, uma das principais fontes de geração de emprego e renda no RN, para escancarar a da violência sugerida por seu secretário. Não é matando que se resolve o problema.
O cidadão é de bem, nunca um assassino – apesar dos pesares.
Tags:
César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.