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Postado às 22h00 | 28 Ago 2017 | Governo e 'Mídia Amiga'

Crédito da foto: Reprodução Jornalistas ou nem tanto, sofridos pela crise midiática que demite e transforma talentos em cuias de sobrevivência

Por Rubens Lemos Filho

Acompanho eleições desde 1978 no Rio Grande do Norte. Aos oito anos, curioso, via meu pai trabalhar na comunicação do candidato a senador Radir Pereira, do MDB, derrotado pelo reeleito Jessé Freire, da Arena. Não existia marketing. Havia guerra pelos jornais, que viviam o auge. Páginas e páginas compradas pelas assessorias.

Ninguém votava para governador, o que ocorreu quatro anos depois à meia-boca. De forma vinculada, artimanha do bruxo Golbery do Couto e Silva, pensador da Ditadura, para evitar uma derrota acapachapante nos estertores do arbítrio. Quem escolhesse o candidato de um partido, teria que cravar em todos os outros da mesma legenda.

José Agripino venceu Aluizio Alves e sofreu oposição. País redemocratizado, Geraldo Melo derrotou João Faustino e enfrentou críticas. Com as quais José Agripino voltou a conviver de forma civilizada(respondendo no tom das acusações) ao voltar ao Governo, eleito em 1990 e assumindo em 1991.

Consagrado pelas urnas em 1994 e 1998, o hoje senador Garibaldi Filho governou o Rio Grande do Norte sob severa saraivada de parte da mídia. Seguiu em frente.

Ao ser eleita governadora em 2002, a ex-prefeita de Natal, Wilma Maria de Faria – que morreu em junho deste ano, tinha, de meios de comunicação, uma fila de Fiats com caixas de som transmitindo suas mensagens. No poder, conviveu com reações sérias e chantagens de picaretas contumazes, a quem dedicava o desprezo em longas baforadas de cigarro.

Criticada pela pobre gestão, a governadora Rosalba Ciarlini chegou a ser ridicularizada, levada às ruas em forma de boneco e fulminada nas redes sociais, especialmente pelo seu vice e seu exército. Não caiu em convulsões existenciais,

Hoje o Rio Grande do Norte vive a mais promíscua relação entre poder e gulosa parcela da mídia na história republicana.

Divulga-se a resposta, não o que a originou.

Divulga-se como calendário de pagamento, migalhas parceladas, os velhos vales de quase dois meses de atraso.

Não são todos, claro, mas muitos.

Quem discorda, precisa ser calado. Asfixiado profissionalmentre.

É um traço persecutório da personalidade coronelista de quem deveria governar.

Em nota oficial, carimbo da administração que não cuidou de evitar mais de 1500 mortes violentas, chegou-se ao cúmulo da estupidez contra inteligência humana: “O governador sempre teve com a imprensa uma relação de amizade”.

A amizade do jornalista legítimo é com os fatos e o jornalismo, por essência, é crítico. Foi quando o Chefão abriu a boca para dizer que a criminalidade era invenção ou responsabilidade, “da imprensa”. Aliás, um bom programa, sem custos de dinheiro público seria “Governador Calado Ganha Um Cruzado”.

Outro dia, o amigo, jornalista e blogueiro, Flávio Marinho – que não pediu reserva, queixou-se comigo, no meio da conversa ao telefone celular, que sua propaganda foi retirada do site por ter desgostado o governador em um postagem, governador “seu amigo de colégio e de uma patota conhecida como Turma do Podre, nos anos 1970 em Natal”.

Flávio Marinho não me desmentirá. É capaz até de ser chamado de volta para renegociar e me desancar. O que não faria.

O tempo do tempo real veda o personalismo na gestão das verbas. São públicas. A tática da asfixia para o silêncio ou a conivência, a compra de consciências, conquista servos que mudam na proporção camaleônica de quem senta na principal cadeira da Governadoria.

Jornalistas ou nem tanto, sofridos pela crise midiática que demite e transforma talentos em cuias de sobrevivência. Ou aperfeiçoa cínicos pela própria natureza.

Os podres – que só são podres pela tática de Goebbels, a víbora da divulgação nazista quando cometidos por adversários, voltam como bumerangues ou pela inflexível Lei do Retorno.

Por vias federais, com a imprensa nacional, fica difícil conciliar “parcerias”, disfarce para compadrio.

Nem Odorico Paraguaçu conseguiu calar a Trombeta, jornal de Neco Pedreira, na Sucupira fictícia da novela e da série O Bem Amado.

É buscar outras cartas para proteger o Rei embaralhado.

Pois a Rita não deve levar só o sorriso.                       

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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