(*) Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)
Neste sábado, 4 de novembro de 2017, o município de São José do Seridó comemorou o seu primeiro centenário de fundação. O processo de ocupação do lugar, deu-se em função das atividades agropecuárias, portanto, não fugindo dos padrões de ocupação que se desencadearam na Região Seridó Potiguar.
Segundo relatos orais de pessoas entrevistas durante a realização da pesquisa, acredita-se que a muitos anos atrás, o senhor Antônio Paes de Bulhões, doou a seu escravo, Nicolau Mendes da Cruz, uma de suas fazendas, localizada nas terras pertencentes ao atual município de Cruzeta.
O Sr. Nicolau cresceu financeiramente através da pecuária e chegou a aforar nove léguas de terra ao longo do Rio São José. Isto se deu por volta de 1752, e estas nove léguas de terra receberam o nome de Fazenda Bogarí. Esse crioulo-forro e vaqueiro é tido como um dos pioneiros no povoamento do Seridó.
Entretanto, existe uma outra versão, acredita-se que Nicolau adquiriu suas terras, através de uma petição feita ao Presidente das Províncias do Rio Grande do Norte, Sr. Tomás de Araújo Pereira, solicitando a posse dessas terras. Já que as mesmas se originavam da Sesmaria 406, considerada como “terras abandonadas da Capitania Hereditária do Rio Grande do Norte”, de acordo com Medeiros (1998).
Depois de Nicolau, a Fazenda Bogarí pertenceu a Januário de Medeiros Dantas, que revendeu para seu irmão Manoel Inocêncio de Medeiros Dantas por volta de 1850. Este resolveu mudar o nome da Fazenda Bogarí para Fazenda Bonita, em virtude de nestas terras está localizado o lendário “Poço da Bonita”. Na Fazenda Bonita o Sr. Manoel Inocêncio criou os seus filhos, que posteriormente ficaram conhecidos como os “Quirinos da Bonita”.
Segundo relatos, podemos dizer que a “antiga” povoação da Bonita, surgiu em função das necessidades dos fazendeiros da época, para que houvesse um ponto de convergência mais próximo. Foram notificadas diferentes versões para a lenda que originou o nome daquele poço e consequentemente do município.
Além da distância, devido a precariedade das estradas e inexistência de meios de transportes eficientes, entre as cidades mais próximas: Caicó, Jardim do Seridó e Acari (Cruzeta ainda não existia), a dificuldade da passagem para estas cidades era agravada no período chuvoso, pelo fato da existência de três rios (Seridó, São José e Acauã), que no período de “sangria” transbordavam e impediam o fluxo de pessoas e mercadorias.
Geralmente as pessoas eram transportadas a cavalo e as mercadorias eram trazidas em burros-mulos pelos “tropeiros” ou “matutos”. Estes “matutos” saíam em “tropas”, basicamente para a Região do Brejo Paraibano. Aí compravam farinha, rapadura, açúcar, café e tecidos, e levavam para vender lá sal e carne de charque.
Diante destes problemas, surgiu entre os fazendeiros locais, a ideia de fundação de um povoado. Este, resolveria os problemas que mais afligiam os fazendeiros, tais como os sepultamentos e o acesso às feiras. Portanto, a fixação de um povoado encurtaria a distância entre as cidades supracitadas e facilitaria a vida das pessoas.
A partir daí o local passou a ser estudado. O Sr. Joaquim Manoel do Nascimento (conhecido por Joaquim Loló), um dos filhos de Manoel Inocêncio, resolveu doar 12 (doze) braças de terra de sua propriedade (da Fazenda Bonita) para serem construídas as primeiras moradias, à margem direita do rio São José, numa planície que as ovelhas se juntavam à tardinha para dormirem.
Em setembro de 1917, Joaquim Loló foi a cidade de Jardim do Seridó, escriturar as terras para o povoado e escolheu como padroeiro do mesmo, o santo protetor das chuvas: o glorioso São José, e doou as terras para o referido santo.
Tanto é que, ainda hoje, a Igreja Católica cobra anualmente uma taxa às pessoas que possuem, residências na área da cidade que foi doada por Joaquim Loló para o santo São José. A escolha do referido santo como padroeiro do povoado, devido à proximidade do vindouro núcleo de moradias com o rio que tem o mesmo nome.
Na época da fundação do povoado, o Presidente da Intendência do Jardim era o Dr. Heráclito Pires Fernandes, que atendeu a solicitação dos moradores.
Além de Joaquim Loló, outros nomes importantes na fundação do povoado da Bonita, comumente citados por moradores mais antigos são: Marcelino Franklin de Araújo (Marcelino Belizário), José Quirino de Medeiros, Raimundo Góis, Vicente Pereira e Cícero Dantas, dentre outros.
A LENDA DO POÇO DA BONITA
Existe uma lenda relacionada com a origem do nome do município. Diz respeito a lenda que deu origem ao nome do “Poço da Bonita”. No seu surgimento, a povoação chamava-se “Bonita” numa referência ao “Poço da Bonita” que ficava nas imediações do povoado.
A partir da instalação oficial do povoado, ou seja, da fundação propriamente dita, marcada pela realização da 1ª (primeira) feira livre em 04 de novembro de 1917, o povoado passou a chamar-se oficialmente de São José da Bonita. A origem do nome “São José” deve-se ao nome do rio, que ficava nas proximidades do povoado e ao santo padroeiro do mesmo.
Este poço está localizado em área rural do município, mais precisamente está nas terras pertencentes a Fazenda Bonita (pertencente a família do Sr. Pai Velho), que fica nas imediações da cidade. Uma característica interessante deste poço, de origem natural, é que, apesar de morarmos numa região de clima semi - árido, o mesmo é permanente, nunca secou, mesmo em períodos de secas intensas.
Durante a pesquisa, foram notificadas diferentes versões para a lenda que originou o nome daquele poço e consequentemente do município.
A primeira delas diz que, uma filha de Nicolau Mendes da Cruz (que foi o primeiro a estadiar por aqui, em meados do século XVIII) era dotada de beleza extraordinária, encantando a todos que a viam, e adorava tomar banho no poço da então Fazenda Bogarí. Certa vez, ela foi surpreendida por um pescador, que encantado com a beleza da moça, exclamou alto “oh que moça bonita” e esta ficou assustada e correu pelo matagal. A partir daquele momento, o pescador passou a chamar o poço de o “Poço da Bonita” (outros dizem que ela se transformou num sapo).
Na segunda versão, uma índia muito bonita morava num serrote da Fazenda Bogarí. Ao entardecer, ela vinha banhar-se no poço (os rapazes ficavam espionando-a) e certo dia veio a morrer afogada. Em sua homenagem, o poço passou a ser chamado de o “Poço da Bonita”.
A terceira versão conta que o senhor Manoel Inocêncio tinha uma vaca formosa por nome de “Bonita”. Ele mandava seus filhos darem água a “Bonita” no poço da fazenda. Em virtude de tanta água que essa vaca tomou no poço, o mesmo passou a chamar-se de o “Poço da Bonita”.
Acrescenta-se ainda que, alguns moradores da cidade discordam dessa lenda. E também que o nosso propósito não é o de contestar ou afirmar a veracidade da lenda, mas tão somente, falarmos da importância dessa lenda para a cultura local e de sua relação com o nome do referido poço.
Ressaltamos que um dos símbolos históricos de São José do Seridó, a sua bandeira, criada em 13 de novembro de 1986, sob a Lei nº 30/86, tem no centro de sua representação o “Poço da Bonita”. Evidenciando a importância histórica desse poço para a história do município, sendo representado inclusive nas placas de identificação pelas ruas da cidade.
(*) Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa) - São Joseense e professora de Geografia na Universidade do Estado do Ro Grande do Norte (UERN)
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.