O ex-prefeito de Almino Afonso (RN), médico Bernardo Amorim (MDB), decidiu ser candidato a deputado estadual nas eleições deste ano. Através de linha telefônica, está anunciando a amigos e correligionários e afirmando que o projeto eleitoral é pra valer.
A pré-candidatura de Bernardo é mais um capítulo da crise que vive a família Abel, uma das mais tradicionais da política da região Oeste potiguar. Ele e o irmão, prefeito Waldênio Amorim (MDB), estão em pé de guerra desde que Waldênio assumiu a Prefeitura de Almino Afonso, em 2017.
O pivô da arenga é a primeira-dama Maninha Leite, vista no município como a “prefeita de fato”. É ela que dá as ordens. E as ordens têm castigado os correligionários de Bernardo, minado o seu poderio político e, por gravidade, atingido a estrutura da própria família Abel.
Maninha Leite não aceita a interferência de Bernardo na gestão do marido, inclusive, determinou que nenhum pedido de Bernardo fosse acatado na estrutura municipal. Mais do que isso: assumiu a articulação política, direcionando as decisões em confronto com o sentimento do cunhado.
Uma das decisões deixou Bernardo bastante irritado. Mainha proclamou que a máquina municipal deve trabalhar pela candidatura à Assembleia Legislativa da jovem Laura Helena (PPS), filha do ex-deputado Wober Júnior, uma desconhecida em Almino Afonso, para minar o candidato que havia sido escolhido por Bernardo, no caso o deputado estadual Carlos Augusto Maia (de saída do PSD para o PC do B).
Para agravar ainda mais a crise, parte do grupo situacionista foi incentivado a apoiar outra candidatura à Assembleia Legislativa, a do deputado Souza (PHS), para minar ainda mais os espaços de Bernardo.
Com o sinal verde da Prefeitura, Souza tem sido apresentado como o “salvador” do Carnaval de Almino Afonso, por supostamente ter conseguido uma emenda parlamentar para bancar as despesas da festa em praça pública.
Com dois candidatos a deputado estadual, no caso Laura Helena e Souza, a candidatura de Carlos Augusto Maia desceu ao degrau menor e, por gravidade, a liderança de Bernardo foi colocada em xeque.
Líder dos Abéis e considerado uma das maiores raposas da política oestana, com articulação de bastidores reconhecida, Bernardo decidiu abrir os braços para não ser engolido, como se diz na política. Ao se lançar candidato a deputado estadual ele obriga o irmão Waldênio a controlar o ímpeto de Maninha ou, do contrário, mostrará com a sua candidatura que quem tem voto em Almino Afonso é ele.
Bernardo é consciente que Maninha já fez estragos. A base que elegeu Waldênio em 2016 está comprometida. A maioria saiu para a oposição devido o tratamento que recebeu da primeira-dama. Os apoiadores da candidatura vitoriosa de Waldênio foram deixados em último plano, com raríssimas exceções.
Por gravidade, a crise na tradicional família abriu caminho para formação de um novo grupo que, provavelmente, ameaçará a hegemonia dos Abéis nas eleições municipais de 2020. E é disso que Bernardo tem medo.
DIVIDIDOS
A crise não atingiu apenas Bernardo Amorim. O ex-prefeito Lawrence Amorim, sobrinho de Bernardo e de Waldênio, foi a primeiro a ser alvejado pela primeira-dama. Ela decidiu que o marido não apoiará a candidatura de Lawrence à Câmara dos Deputados, e que a máquina deve funcionar pela reeleição ao deputado federal Walter Alves (MDB).
Como argumento, o casal diz que Lawrence não pode reclamar, nem ficar chateado, porque a própria irmã, prefeita de Rafael Godeiro, Ludmilla Amorim, pedirá votos também para Walter Alves, em detrimento de sua candidatura.
O fato é que nunca na história os Abéis se mostraram tão divididos. A união do passado deu espaço para os interesses individuais e arengas, onde cada um tem seu desejo político próprio, em detrimento da unidade famíliar.
Porém, quem mais sofre com isso é a população de Almino Afonso, que paga caro pela ausência de políticos públicas, devido ao fracasso da gestão isolada de Maninha/Waldênio.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.