O PT terá candidatura própria ao Governo do Rio Grande do Norte, depois de 16 anos. A última vez que disputou o cargo foi nas eleições de 2002, com o médico sanitarista Rui Pereira. Nas eleições de 2006, 2010 e 2014, o partido se aliou a grupos tradicionais, como Faria e Alves, o que trouxe prejuízos políticos e eleitorais para a sigla no estado.
Agora, o PT se prepara para disputar o Governo com nome próprio. A senadora Fátima Bezerra será a candidata. A petista lidera todas as pesquisas publicadas até aqui e chegou ao momento que antecede a campanha eleitoral como favorita para vencer o pleito.
Nesta entrevista, no Cafezinho com César Santos, Fátima Bezerra falou do projeto eleitoral do PT, de provável aliança com PC do B e PHS e da possibilidade de ter um companheiro de chapa indicado por Mossoró. Leia:
A ÚLTIMA vez que o PT teve candidatura própria ao Governo do RN foi nas eleições de 2002, com o médico sanitarista Ruy Pereira. Nas três eleições seguintes – 2006, 2010 e 2014 –, o partido fez alianças e apoiou candidaturas tradicionais. Agora, 16 anos depois, o PT, com a sua candidatura própria ao Governo, está reconstruindo a sua história no RN?
NAS eleições que se seguiram desde 2002 até 2014, o PT liderava um projeto nacional do qual faziam parte vários partidos. O PT apoiou e foi apoiado nas diversas eleições. Infelizmente, esse projeto, que retirou milhares de potiguares da linha de pobreza, que trouxe distribuição de renda, universidades, os IFRNs, foi traído pelos partidos "tradicionais" e o resultado todo o RN está vendo e sentindo na pele. Então, neste momento o que nós estamos fazendo é dizendo que, assim como o PT pegou um país quebrado em 2002 e fez em 13 anos o que as elites nunca fizeram em 500 anos de dominação política, nós podemos fazer com o nosso estado.
O FATO de enfrentar prováveis candidatos de sobrenomes tradicionais, como Alves e Faria, facilitará o discurso contra a política tradicional e as oligarquias ou o PT, que já foi unido a esses dois grupos familiares, terá dificuldade de convencer o eleitor?
MINHA pré-candidatura, pelo perfil de origem social que representa, vai quebrar paradigmas, assim como foi em 2014. Se vencermos a eleição, o Rio Grande do Norte terá a primeira governadora de origem popular, suspendendo um círculo que se arrasta há décadas. Isso é um primeiro ponto que deve ser considerado. Por outro lado, com relação às alianças que o PT fez, é preciso compreender que fazíamos um governo de coalizão, e as posições que os diretórios do PT daqui e de outros estados adotaram estavam em consonância com aquela conjuntura. Não pretendemos fazer campanha com o olho no retrovisor – e se o RN entender e acolher nossa proposta para o estado –, nós não vamos administrar pensando no passado ou na base dos ataques pessoais. Queremos fazer o debate de quem tem projetos para o estado. De quem já teve chance de fazer, como fez, o que fez e para quem fez, no RN e no Brasil.
O PC do B e o PHS anteciparam que querem apoiar a sua candidatura ao Governo do Estado, mas exigem a coligação proporcional para deputado estadual. Há resistência dentro do PT, uma vez que o partido tem nominata própria. Esse impasse ameaça a coligação majoritária?
A ALIANÇA entre PT, PC do B e PHS está consolidada. Essas dificuldades, que dizem respeito a cada partido, estão sendo discutidas e avaliadas. Isso é natural. Nós estamos em processo de discussão para adotar uma tática que contemple o PT, mas também os demais partidos aliados.
A DEPUTADA Zenaide Maia, do PHS, é uma das candidatas ao Senado no palanque do PT. Quem será candidato para a outra vaga?
NOSSA coligação terá nome para disputar a outra vaga para senador. E eu repito: estamos em processo de discussão com os outros partidos. O nome será definido coletivamente no conjunto dos que já entraram na coligação e dos demais que ainda vão integrar.
MOSSORÓ, o segundo maior colégio eleitoral do RN, pode oferecer o seu companheiro de chapa? E quem seria esse nome?
MOSSORÓ tem um peso no contexto da geopolítica do RN, nós estamos falando da segunda maior cidade do estado. E eu tenho um carinho enorme por Mossoró, uma cidade que tem me dado demonstrações repetidas de confiança e apoio, como foi na eleição de 2014, com aquela belíssima votação. Eu tenho uma gratidão muito grande pelo povo de Mossoró. Então, é claro que não está descartado. Seria uma honra ter um mossoroense ao meu lado. Mas, esse assunto de vice ainda será fruto de um debate e nós não temos uma definição. Evidente que, na condição de pré-candidata, vou dialogar com o meu partido e os aliados.
O PT teve papel importante na eleição de Robinson Faria em 2014 e foi sócio da primeira metade de sua administração (2015/2016), comandando a pasta da Educação e a liderança do Governo na Assembleia Legislativa. Por que o governo Robinson não deu certo?
EM 2014, o RN acompanhou o acordão liderado pelo deputado Henrique Eduardo para sufocar e esmagar o PT. Naquele momento, tínhamos o PSD, que fazia parte da aliança nacional, e fomos às ruas com um programa apresentado pelo então candidato a governador. Vitoriosos, e coerentes com a nossa responsabilidade, fomos dar a nossa contribuição ao Governo. Mas, infelizmente, veio o golpe e a traição. O governador nos traiu e frustrou não só a nós do PT, mas a maioria da população do RN, quando não cumpriu as promessas de campanha. Mas, isso é página virada. Como disse antes, não vou ficar olhando para o retrovisor. Queremos falar dos projetos que temos para o nosso estado e das nossas propostas para tirá-lo do caos em que ele se encontra.
O TSE decidiu que 30% do Fundo Eleitoral deve ser destinado para candidaturas femininas e, também, 30% do guia eleitoral do rádio e televisão. Qual o peso que essa conquista da bancada feminina no Congresso terá nas eleições deste ano?
ESSE foi um passo muito importante para avançar na luta pela igualdade de gênero, especialmente com vistas a esse grande desafio que é ampliar a participação das mulheres na política. Não é aceitável essa sub-representação das mulheres na política. Quantas governadoras nós temos? Dos 513 representantes na Câmara Federal, somos 51; dos 81 no Senado, somos 12. Isso é inconcebível. Por isso, reafirmamos e esperamos que essa decisão seja aplicada, uma vez que já temos partidos judicializando a questão para rever essa decisão. É um absurdo isso. A Procuradoria das Mulheres no Senado está atenta. Nós todas estamos atentas.
O ELEITOR vai exigir o debate sobre corrupção na campanha eleitoral deste ano, por tudo que está acontecendo na política do país. A senhora tem a tranquilidade de ser ficha limpa, mas o seu partido é do bloco de frente dos escândalos Mensalão e Lava Jato. Isso provoca desconforto para a sua campanha debater o delicado tema?
QUERO começar dizendo da tranquilidade que eu tenho de em todos estes anos pautar minha trajetória político-parlamentar com honradez, seriedade e transparência. Quanto ao PT, não negamos os erros, mas a população é testemunha de que os acertos foram muito maiores. Nossos governos foram reconhecidos nacional e internacionalmente pelo legado, um dos governos mais ousados do ponto de vista de inclusão social. O PT está sendo perseguido, aliás, muito mais pelos acertos do que pelos erros. Alguém acha que o golpe foi somente para tirar Dilma? Alguém acha que a interdição da candidatura de Lula não foi porque ele é o preferido da população? O caminho que encontraram foi uma prisão injusta e arbitrária. Tudo isso está cada dia mais claro e a população já separa muito bem o joio do trigo, tanto que quer Lula presidente.
O PT lança neste domingo a pré-candidatura de Lula, mesmo o ex-presidente cumprindo pena em regime fechado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Essa estratégia político-eleitoral não caminha divorciada do apelo pela ética na política?
NÃO podemos desconhecer a contribuição dada pelos governos do PT por dotar o país dos instrumentos de combate à corrupção e à impunidade. Claro que isso não nos impede, repito, de fazer uma autocrítica. O PT cometeu seus erros e está pagando o preço, inclusive, por não ter atentado para a necessidade urgente de uma reforma política que modificasse o sistema político-eleitoral que aí está. No meio disso tudo tem a questão da seletividade da Justiça, perseguição ao PT. O maior exemplo é a prisão arbitrária do presidente Lula, que foi alicerçada de uma imensa fragilidade técnica e do ponto de vista legal.
LULA foi alcançado pela Lei da Ficha Limpa. Fernando Haddad é o plano B definido?
HADDAD é um quadro valoroso, um dos melhores ministros da Educação que este país já teve, mas nós não temos plano B. O povo está dizendo que quer Lula candidato e ele será o nosso candidato.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.