(*) João Paulo Jales dos Santos
Os números das pesquisas Ibope, Datafolha e CNT/MDA, divulgadas no decorrer da semana, possuem números próximos, com o ex-presidente Lula liderando com preferência de cerca de 2/5 do eleitorado. O ex-presidente apresenta consistência numérica para levar a disputa no 1º turno. No entanto, ainda se está no início da campanha, com tempo para mudanças nos números eleitorais, e sabe-se que Lula provavelmente não será candidato, sendo substituído por Haddad nos últimos dias de campanha do 1º turno, e oficialmente sendo o candidato do PT no 2º turno, caso o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da educação passe para a 2ª rodada da campanha.
Se candidato fosse, a tendência era Lula conquistar um 3º mandato presidencial. Prendendo-o, a elite pensava que havia ceifado as chances de o líder chegar à Presidência. Erraram feio. Acabaram produzindo um efeito contrário daquilo que pretendiam.
Haddad ainda possui desconhecimento de numerosa parcela do eleitorado, terá como cabo eleitoral a maior liderança política do país, há potencial para crescimento. Mesmo aqueles eleitores de Lula que dizem que não votariam em Haddad, podem ao longo da campanha optarem por votar nele. Haddad carregará a herança da bonança dos tempos do lulopetismo, sendo uma espécie de cavaleiro a representar a mensagem do líder aprisionado.
O Datafolha mostrou que Lula tem capacidade de influência considerável de alterar os votos de eleitores de Marina, Ciro e até Geraldo Alckmin, somando-se a isso aos votos de Lula, e da preferência de 1/4 de simpatia que o PT tem perante à opinião pública, número evidenciado pelo Datafolha, há campo viável para Haddad passar para a 2ª rodada presidencial.
No entanto, o comedimento se faz necessário. Haddad tem contra si uma campanha curta e o dificultoso cálculo que operacionalizará o PT para sensibilizar os eleitores lulopetistas, que aflorados sentimentalmente estão ao ver sua liderança encarcerada e impedido de concorrer, a depositar a confiança nas urnas no ex-prefeito.
Campanha oficialmente iniciada, é aguardar o transcorrer de como os candidatos abordarão os temas urgentes para que o país consiga sair da atual situação de deterioração social e econômica. A população está agonizada com o desemprego, com o aperto nas contas domésticas e com a perda de acesso a uma gama de serviços.
Com esse cenário, a economia é questão latente e central a ser debatida. Com uma reforma trabalhista que prometia a criação de milhões de empregos que não chegaram, com a inflação ainda operando em relativa alta para as parcelas da população com menor renda, o liberalismo sem freios do governo Temer resultou em descalabro econômico para os estratos sociais mais baixos, onde está situada a maioria da população. Geraldo Alckmin é melhor calibrar sua munição de defesa, o tucano será emparedado pelos adversários a responder pelos erros do governo Temer, já que o PSDB foi ator decisivo para catapultar Michel Temer à Presidência.
Não há dúvidas que uma reforma previdenciária seja necessária, apesar do Brasil ser um país emergente, sua população envelhece rapidamente, impactando a previdência com aposentadorias e benefícios assistenciais. Mas uma reforma da previdência deve ocorrer com sensibilidade social e com interesses voltados à população, e não com interesses voltados a lógica do mercado. Outro importante tema a ser discutido, a política de aumento do salário mínimo, perderá validade de sua atual regra no próximo ano, acompanhar a proposta dos candidatos em torno dessa questão, afinal de contas, a política salarial de aumento do mínimo é de grande valia para a metade da população que o tem como indicador de renda.
Num Estado em que um 1/3 do PIB corresponde a impostos, nível que nenhuma nação emergente possui, o Estado brasileiro opera numa taxação elevada, com resultados desastrosos na provisão de serviços aos seus cidadãos. Países de renda média, como os sul-americanos Chile e Uruguai, e com carga tributária em suas riquezas nacionais com índices menores do que o Brasil, apresentam melhores resultados em IDH e renda per capita maior do que as exibidas pelo Brasil.
O problema da má qualidade dos serviços do Estado brasileiro passa pela baixa qualidade da sua burocracia tanto institucional quanto do quadro de servidores, e por uma falta de gestão eficiente que garanta que os recursos orçamentários alocados gerem qualidade de vida para a população. Uma pena que esse problema pertinente e largamente conhecido, tenha passado longe de uma discussão séria nas últimas eleições, e que sua resolutividade efetiva nas máquinas administrativas federal, estaduais e municipais, tenha se tornado uma espécie de utopia.
(*) João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.