Quinta-Feira, 27 de fevereiro de 2025

Postado às 10h30 | 30 Set 2018 | O Brasil precisa de pacificação política e social

Crédito da foto: Reprodução Para 2019, do que o Brasil precisa é de pacificação política e social

(*) João Paulo Jales dos Santos

Próximo domingo já é do dia votação. Chegou rápido. Dia desses ainda se estava na pré-campanha, aquela fase de costura de alianças, montagem de chapas, de desenhar a estratégia política-eleitoral. A tendência, conforme aponta as pesquisas, é o lulopetismo enfrentar o bolsonarismo no 2º turno. Lula e o PT são de fato os protagonistas eleitorais desde a primeira disputa presidencial, em 1989, com a retomada da redemocratização. Lula chegou perto da vitória contra Collor. Perdeu para FHC em 1994 e 1998 ainda no 1º turno.

Num momento social e econômico propício, no rastro do desgaste do governo FHC, elegeu-se em 2002. Sobreviveu ao mensalão, e foi reeleito em 2006, com percentual de votos muito parecido com o que obtera em 2002. Elegeu a desconhecida Dilma Rousseff em 2010. Deu uma ajudinha para a reeleição da presidente em 2014. E periga eleger Haddad agora, que saiu desgastadíssimo da Prefeitura de São Paulo perante a opinião pública paulistana.

Fatos são fatos. E o lulopetismo é o centro das sete disputas presidenciais, e será mais uma vez o foco deste pleito de 2018. Na urna, desde 1989, a decisão é: votar a favor ou contra o PT/Lula. E desde 2002, o petismo vem formando maioria a seu favor. E as pesquisas sinalizam que Fernando Haddad pode dar continuidade a essa maioria, e levar o petismo de volta ao poder, depois do farsante impeachment de Dilma Rousseff.

Há um fato curioso do perfil do eleitorado petista entre os anos de 1989 até a reeleição de Lula em 2006. Quando o perfil do eleitor do PT era basicamente formado pelos estratos sociais da classe média urbana, e não conseguia formar maioria eleitoral, o partido perdera as três primeiras eleições presidenciais. Quando Lula elegeu-se em 2002, conseguira tal êxito, porque o PT fora eleito com uma aliança entre a classe média e a classe trabalhadora. A partir de 2006, o PT vai progressivamente perdendo o apoio dos setores médios urbanizados, e seu eleitorado em maioria é formado pelos estratos socioeconômicos das classes baixas. O petismo vence em 2010, com uma dianteira eleitoral menor do que as registradas em 2002 e 2006. Vence em 2014, com uma estreita margem. E com a perda do apoio majoritário da classe média, o PT perde muito da sua influência na opinião pública, a favorabilidade social em torno do impeachment de Dilma, se explica de sobremaneira, por causa da influência de opinião que a classe média exerceu contra o PT. Mas estaria disposto o lulopetismo reconquistar o apoio do seu eleitorado médio urbano cativo até meados dos anos 2000? Os partidos de centro-esquerda das democracias liberais mais avançadas do mundo, chegam ao poder através de uma aliança entre as classes média e a trabalhadora. Com o incômodo em ver a ascensão social das classes baixas e os ganhos sociais obtidos pelos excluídos, a classe média brasileira, arraigada em valores ético-morais de um atraso colossal, viu nos governos do PT um inimigo a ser combatido. Junta-se a isso, a verborragia de muitos intelectuais petistas de fazer da classe média uma inimiga do petismo, está assim dada a receita ideal do afastamento dos setores médios do círculo de influência política do PT. Com Haddad, o PT tem uma chance de construir pontes com a classe média. Basta não errar na retórica de classes como fez até aqui, e acenar com propostas de governo que visem alcançar a classe média.

A divisão tucana em torno de que posição tomar no 2º turno é entendível. Numa profunda crise de identidade, o tucanato vê com alguma lógica um provável apoio a Bolsonaro de alguns dos setores mais à direita do partido. A ideia seria apoiar o extremista de direita agora, como já cogitado por membros do PSDB, sabendo que ele perderá, visando assim o enfraquecimento do bolsonarismo mais adiante, para os tucanos propagandearem aos reacionários que apoiaram Bolsonaro para combater a volta do PT.

A ideia de início até parece boa para os tucanos. O problema reside em duas questões: quem disse que é provável que o bolsonarismo perderá apoio com uma vitória do PT? E quem disse que o PSDB ganhará apoio na extrema direita, ocupando o lugar de Bolsonaro?

Para a primeira questão, Bolsonaro mesmo derrotado deverá seguir arregimentando sua tropa extremista com uma vitória do petismo, o próprio candidato do PSL disse em recente entrevista que não aceita resultado diferente da sua eleição.

Para a segunda questão, os tucanos, mostrando que não sabem mesmo fazer oposição, esquecem que a mesma lógica de fomentar a extrema direita em 2015 para obter ganhos neste 2018, saiu pela culatra, e o tucanato com isso, já está praticamente de fora do 2º turno.

A tendência é que caso se confirme em 7 de outubro Geraldo Alckmin fora da 2ª rodada, o establishment tucano pregue a chamada neutralidade, podendo liberar seus filiados a apoiarem quem achar melhor. Que não se estranhe em ver FHC pedindo votos a Haddad. O tucano de alta plumagem, tem um relacionamento decoroso com seu colega da USP, e se mostra simpático em ao menos pedir votos contra Bolsonaro, para que o extremismo não chegue ao Palácio do Planalto.

Lulopetismo vs. Bolsonarismo, é um amargo 2º turno para o Brasil. Neste momento de tamanha instabilidade política, de aguda crise social, econômica e financeira, o país precisava de uma candidatura no 2º turno que não se encontrasse tanto sob a zona de influência do PT quanto da extrema direita. Haddad pode vencer Bolsonaro com uma diferença de 10% ou até mais dos votos, principalmente se acenar a moderação centrista para obter votos dos eleitores dos candidatos de centro que estarão de fora do 2º turno.

Mas uma vitória de Haddad representará um começo de governo mergulhado em mobilizações da direita reacionária em não respeitar sua vitória. Se pela esquerda, ao invés de Haddad, fosse Ciro Gomes para o 2º turno, Bolsonaro perderia com uma diferença de 20% ou mais dos votos, dando ao eleito uma reserva de maioria eleitoral necessária para comandar o país a partir de 2019. O candidato do PDT é o mais preparado desta eleição e um dos mais qualificados candidatos dos últimos pleitos presidenciais.

Uma vitória de Ciro Gomes contra Bolsonaro, representaria em termos práticos, a relativa calma política que o futuro presidente necessitaria para governar o destroçado Brasil nos próximos quatro anos. Mas como Ciro praticamente está de fora da 2ª rodada, o Brasil tende a continuar caminhando de modo trôpego com o próximo presidente, caso o eleito nos primeiros meses de governo não decida por uma agenda minimamente reformadora e conciliatória, e não argumente em prol de uma pacificação política, nesse Brasil tão ideologizado que emergirá das urnas no 28 de outubro.  

(*) João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).         

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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