Quarta-Feira, 26 de fevereiro de 2025

Postado às 10h15 | 04 Nov 2018 | Vitória superlativa de Fátima

Crédito da foto: Reprodução Fátima Bezerra saiu vitoriosa das urnas nas eleições de outubro

(*) João Paulo Jales dos Santos

Superlativa não somente nos números, que se tornam mais importantes quando se olha a conjuntura deste pleito governamental, e a trajetória política da governadora eleita. A senadora venceu a disputa num estado de forte tradição oligárquica, numa coligação com apenas três partidos, sendo as agremiações de porte pequeno, e sendo Fátima, uma política de esquerda, num estado onde o campo esquerdista possui débil representação político-eleitoral.

É uma vitória e tanto, para uma política com a trajetória de Fátima.

Vinda das bases sindicais, foi eleita na década de 90 deputada estadual, tendo exercido seguidamente dois mandatos na Assembleia Legislativa. Em 1996 disputou à Prefeitura do Natal, perdendo para Wilma de Faria no 2º turno, por uma diferença de menos de 4% dos votos. Experimentou ainda seguidamente mais três disputas para à Prefeitura da capital, tendo perdido todas as vezes que se candidatou.

Se não obteve êxito nos pleitos majoritários, Fátima sagrou-se campeã de votos à Câmara Federal em 2002 e 2010, um fato formidável para uma candidata com base política praticamente restrita tão somente ao sindicalismo estadual. Em 2014, venceu para o Senado Federal, com quase 55% dos votos, derrotando a gigantesca estrutura político-partidária de Wilma de Faria.

Ao longo dos mandatos como deputada, contou com o apoio do PT na Presidência para chancelar suas emendas. Tendo o apoio do governo central, aliado a uma excelente articulação política com diferentes atores políticos e setores sociais do estado, Fátima construiu uma imagem de respeito, resultado disso foi sua avassaladora vitória no interior do estado.

Fátima simplesmente varreu de vermelho todas as quatro mesorregiões potiguar. Perdeu para Carlos Eduardo em apenas 13 municípios. À exceção de Natal e Parnamirim, Carlos venceu Fátima nos outros 11 municípios com margens levemente superior a 50% dos votos.

Com mais de 1 milhão de votos, Fátima se tornou a eleita mais votada de toda história do estado para o cargo governamental. Por pouco não ultrapassou a votação de Garibaldi para o Senado em 2010, político que até o momento obteve a maior quantidade de votos do RN. Mas Garibaldi teve mais de 1 milhão de votos em 2010, quando se podia votar em dois nomes para o Senado, o que explica sua retumbante votação. Já Fátima, tirou 1.022.910 votos sem a opção do eleitor poder depositar dois votos simultaneamente nas urnas para o cargo de governador (a).

A petista viu Carlos Eduardo vencer em Natal e Parnamirim muito por causa do clima antipetista que tomou de conta dessas duas cidades, e onde Carlos goza da boa imagem de gestor, depois de ter assumido a administração da máquina da Prefeitura logo após a desastrosa “administração” de Micarla de Sousa. Mesmo perdendo nas duas maiores cidades da grande Natal, Fátima venceu nos outros 12 municípios que englobam a região demográfica metropolitana da capital.

Da ponta Oeste à Leste do estado, avermelhou todo o mapa norte rio-grandense. Uma atenta observação, fará notar que Fátima pode ter tido, talvez, o melhor desempenho que uma candidatura já teve no vasto interior. Resultado fruto da parceria político-administrativa que firmou com várias Prefeituras enquanto fora deputada, bem como de um momento eleitoral que não mais se existia a velha rixa entre bacuraus e bicudos, abrindo espaço para uma candidatura que nunca esteve atrelada as arengas políticas viciosas do interior.

Conseguiu ainda o feito de derrotar o clã Rosado em seu feudo, Mossoró, mesmo Fátima praticamente não tendo botado os pés na cidade e contando com uma frágil estrutura de campanha. Fátima Bezerra, longe de ser uma figura carismática, derrotou numa só tacada Alves, Maias e Rosados. Conseguiu assim, o maior ápice na sua carreira política construída no início dos anos 90.

Fátima, uma política de esquerda, de forte viés progressista, venceu com quase 60% dos votos, derrotando os clãs que há décadas dominam a política estadual. Sua vitória nos 18 dos 20 maiores colégios eleitorais do estado, tendo obtido mais de 60% dos votos válidos em 16 dessas 18 cidades, juntamente com as largas margens de votação nas centenas de municípios que derrotou Carlos Eduardo, lhe dá massa crítica de apoio na opinião pública para iniciar o mandato com alto índice de aprovação popular.

À frente do governo, Fátima terá o maior desafio de toda sua carreira pública. Assumirá um Estado com sintomas de insolvência financeira. Sem o apoio da Presidência, terá que dá conta de pagar a folha do funcionalismo público em dia, bater de frente com as castas estatal para trazer para os cofres do erário as sobras orçamentárias do duodécimo dos Poderes Judiciário, custear os serviços de competência administrativa do Estado, captar recursos para investir em obras, ao passo que precisa equilibrar as finanças.

Se fizer o serviço bem feito, Fátima se credencia para daqui a 4 anos se reeleger com facilidade. Se der continuidade a ingerência administrativa que há 12 anos assola a máquina do erário estadual, Fátima enterrará de vez sua ascendente e relativa exitosa carreira política que construiu nesses quase 30 anos de vida pública. Com Fátima fica a responsabilidade de fazer uma gestão pública qualificada. A população ficará atenta a seu mandato, se sentir efeitos negativos ou positivos, em 2020, nas eleições municipais, o governo petista já irá obter resposta nas urnas de como a população avalia a gerência administrativa estadual.  

(*) João Paulo Jales dos Santos. Estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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