SEPARAR O PÚBLICO DO PRIVADO
O jornalista e consultor político Gaudêncio Torquato questiona a postura do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de enorme dificuldade de separar o público do privado, pegando como pano de fundo ainda o polêmico vídeo que o mandatário do país espalhou no terceiro dia de Carnaval, com repercussão negativa aqui e fora do País.
Gaudêncio Torquato, em análise precisa e certeira, sob o título "A liturgia do brejo", escreveu:
"Tem motivos o presidente da República para se indignar com uma cena escatológica, dessas que assustam o interlocutor que a ela teve acesso?
Sim, a indignação é uma reação natural a quaisquer atitudes ou cenas que fogem ao senso comum e que, pelo inusitado dos fatos nelas descritos, entram no dicionário das aberrações.
Tem motivos o mandatário número um do país para passar adiante a cena que tanto o indignou, massificando a imagem junto a mais de 3,4 milhões de seus seguidores em uma rede social?
Não.
Jair Bolsonaro espalhou junto ao contingente que o segue em uma das redes sociais o vídeo em que um homem dança sobre um ponto de ônibus após introduzir um dedo no próprio ânus, seguido de outra cena em que um deles abre a calça e urina na cabeça do outro. Sob o argumento de “expor a verdade” à população, o presidente acentua:
“É isto que tem virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro”.
A atitude do capitão reformado gera inconvenientes. Permite a milhares de seguidores, entre os quais jovens, acesso a um vídeo que não teria sido visto por eles. Que impacto a imagem causaria a esse público?
Usar o Twitter como meio oficial de transmissão de informações, diretrizes e interpretação pessoal sobre o cotidiano constitui uma decisão incompatível com a posição de um dirigente de nação.
O poder, como se sabe, é exercido por um conjunto apreciável de mandatários e participantes das estruturas do Legislativo, do Executivo e do Judiciário. Todos integram a esfera governativa, mas o comandante do Poder Executivo é quem detém o cargo de maior proeminência. Guia-se por uma liturgia, um exercício que o obriga a cumprir ritos, cerimônias e atos variados, não podendo a eles escapar sob pena de gerar desvios na rota que lhe é imposta.
O presidente da República tem que obedecer a essa liturgia, evitando comportamentos comuns dos cidadãos. Mesmo situações identificadas com o caráter do mandatário — por exemplo, sair às ruas, fazer feira, ir a jogos de futebol — hão de ser intensamente controladas para evitar transtornos que possam desfigurar a liturgia do poder.
A ele impõe-se separar a seara privada do território público. Não pode fazer com que sua visão peculiar do cotidiano seja transformada em política pública. Esse é o entrelaçamento que o presidente Jair não tem sabido distinguir. Se queria fazer uma denúncia, ao veicular o vídeo da “golden shower”, poderia ter pedido providências aos órgãos de policiamento, inclusive com a identificação dos autores da “façanha”.
Ao não traçar uma fronteira entre os campos público e privado, o presidente ingressa num cipoal de críticas. Tomar a parte pelo todo dribla a análise. Pois o Carnaval deste ano foi o mais cheio de gente nas ruas dos últimos tempos, a par de resultados que se mostram: 20 milhões de empregos temporários e R$ 7 bilhões nas contas do comércio e dos serviços.
Com seu gesto Bolsonaro acirra ânimos ainda nervosos do pleito passado, contribuindo para o tiroteio entre exércitos favoráveis e contrários. O Brasil pós-carnaval, é pena, sobe ao palanque."
O titular apenas acrescenta: eles, os políticos, nunca descem do palanque. Em detrimento do Brasil e dos brasileiros.
FRASE
"O Brasil pós-carnaval, é pena, sobe ao palanque."
GAUDÊNCIO TORQUATO – Jornalista, professor e consultor político, sobre a postura do presidente Jair Bolsonaro.
MATERNO
Há cinco anos, nascia Caio Victor, o primeiro bebê do Hospital da Mulher de Mossoró - "Parteira Maria Correia". O filho da estudante Alany Amorim marcava o início do funcionamento da unidade materno infantil, inaugurado três dias antes pela então governadora Rosalba Ciarlini. A maternidade foi fechada no segundo ano do governo Robinson Faria (PSD), em 2016.
EMERGÊNCIA
A governadora Fátima Bezerra (PT) assinou novo decreto de situação de emergência pela seca em 148 municípios potiguares. O decreto será publicado na edição do Diário Oficial do Estado desta terça-feira, 12. A emergência facilita o trâmite dos processos que envolvem obras e serviços que minimizem os impactos causados pela estiagem. Um cheque em branco, para ser preciso.
E AGORA?
A governadora Fátima Bezerra (PT) não vai colocar as suas digitais no projeto que institui o décimo terceiro salário e abono de férias, inclusive retroativos, para os deputados. Não sancionará o polêmico projeto aprovado pelos parlamentares. Caberá à Assembleia Legislativa homologar a lei, ou legislar em causa própria, o que fere o princípio constitucional.
VALE LEMBRAR
Os deputados Coronel Azevedo, do PSL, Alysson Bezerra e Kelps Lima, do Solidariedade, abrirão mão do benefício. E anunciaram que doarão os recursos do 13º e do 1/3 de férias para entidades filantrópicas.
NOMEADOS
A governadora Fátima Bezerra (PT) assinou a nomeação de 498 aprovados no último concurso público da Saúde. São anestesistas, médicos, neurocirurgiões, intensivistas, clínicos-gerais, entre outros que vão substituir profissionais temporários que atuavam na rede estadual.
CONCURSO
A Prefeitura de Parnamirim abriu concurso público para preenchimento de 810 vagas, com salários que vão de R$ 998,00 a R$ 5 mil. Contempla várias áreas de níveis médio e superior. Inscrição aberta no site da Comperve.
É NOTÍCIA
1 - Um dia antes de deixar o poder, o presidente José Sarney assinou 45 concessões de emissoras de rádio, todas para políticos aliados espalhados pelo Brasil. Nesta data, em 1990.
2 - O bispo dom Mariano Manzana receberá jornalistas para falar sobre a Campanha da Fraternidade 2019, que coloca políticas públicas em debate. A entrevista coletiva acontecerá nesta quinta-feira, 14, no Colégio Santa Elisabete, Bom Jardim, às 8h.
3 - Depois da trégua, o fim de semana em Mossoró foi de muita violência. Morte de jovem, de mulher, de pai e filho, um menino de apenas 2 anos. Já são 32 assassinatos em 2019. Terrível.
4 - O publicitário Arturo Arruda inaugurou nesta segunda-feira, 11, a nova sede da ArtC, a agência de publicidade mais premiada do RN e uma das maiores do Nordeste. Em Natal.
5 - Uma assessora do senador Flávio Bolsonaro (PSL) repassou ao marido 60% da verba eleitoral. A descoberta é mais uma dor de cabeça para o núcleo político-familiar do presidente Bolsonaro.
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César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.