Quinta-Feira, 20 de fevereiro de 2025

Postado às 10h45 | 26 Jun 2019 | Época: Odebrecht omitiu pagamentos de propina em delação

Crédito da foto: Reprodução Empreiteira Odebrecht

Registros Odebrecht mostram pagamentos de propina que foram emitidos pela empreiteira em delação na Lava Jato.

Foram descobertos repasses que não constavam nos depoimentos de executivos que fizeram colaboração com a justiça brasileira, americana e suíça

Uma nova investigação global liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), revela que a operação de compra de contratos da Odebrecht era ainda maior do que a empresa havia assumido e envolveu figuras proeminentes e projetos massivos de obras públicas não mencionados nos processos criminais ou outros inquéritos oficiais até agora.

Essas descobertas foram feitas a partir de uma nova lista de registros vazados de uma divisão da Odebrecht, o Setor de Operações Estruturadas, criado principalmente para gerenciar os subornos da empresa. Os registros foram obtidos pelo site equatoriano La Posta e compartilhados com o consórcio de jornalistas e 17 parceiros de mídia das Américas. No Brasil, jornalistas de ÉPOCA e do site Poder 360 participaram da investigação.

As reportagens começaram a ser publicadas hoje.

Os registros do departamento de propina revelam pagamentos secretos em toda a América Latina, que se estendem muito além do que foi publicamente relatado pela Odebrecht, incluindo:

- US$ 39 milhões em pagamentos secretos da empresa feitos em conexão com a gigante usina a carvão de Punta Catalina, na República Dominicana;

- 17 pagamentos totalizando cerca de US$ 3 milhões relacionados a um gasoduto peruano;

- e-mails discutindo pagamentos secretos que um banco da Odebrecht fez a empresas -fantasmas relacionados à construção de um sistema de metrô de US$ 2 bilhões em Quito, capital equatoriana;

- pagamentos relacionados a uma dúzia de outros projetos de infraestrutura em países da região, incluindo cerca de US$ 18 milhões ligados ao sistema de metrô na Cidade do Panamá e mais de US$ 34 milhões ligados à Linha 5 do sistema de metrô em Caracas, Venezuela.

Os arquivos contêm 13 mil documentos que haviam sido armazenados por essa divisão em uma plataforma secreta de comunicações. Esses arquivos foram obtidos separadamente pela agência de notícias equatoriana Mil Hojas, que se juntou ao projeto.

Por mais de quatro meses, o consórcio de jornalistas trabalhou em parceria com mais de 50 jornalistas em 10 países para investigar os livros contábeis da divisão de propina da Odebrecht.

Ao todo, a Odebrecht pagou mais de US$ 788 milhões em propinas entre 2001 e 2016, resultando em US$ 3,3 bilhões em benefícios ilícitos, de acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Os documentos mostram o período em que Marcelo Odebrecht dirigiu a empresa, exatamente o mesmo em que o esquema criminoso foi montado.

Fundada em 1944 por Norberto Odebrecht, descendente de imigrantes alemães do século XIX, em Salvador, a Odebrecht tornou-se a maior construtora da América Latina, e governos de toda a região confiaram nela para realizar importantes obras públicas, de infraestrutura, desde barragens a rodovias até usinas elétricas.

Sua liderança se manteve na família Odebrecht, com sua presidência passando de Norberto para seu filho, Emilio, em 1991, e seu neto, Marcelo, em 2009.

Sob a liderança de Marcelo, conhecido na América Latina como O Príncipe, as receitas anuais da empresa dispararam, de US$ 17,5 bilhões em 2008 para US$ 45,8 bilhões em 2014.

Concorrendo com êxito para projetos de grande sucesso –incluindo o gasoduto de US$ 7 bilhões no Peru, a usina a carvão dominicano de US$ 2 bilhões e o sistema de metrô de US$ 2 bilhões em Quito — a Odebrecht solidificou seu status de empreiteira dominante na América Latina e tornou-se uma das maiores empreiteiras do mundo.

Embora já estivesse em boa parte do continente antes da chegada do PT ao poder, em 2002, a Odebrecht se beneficiou de laços estreitos com o ex-presidente Lula, cuja administração recorreu à empresa para realizar projetos de infraestrutura que faziam parte de sua ambiciosa agenda de desenvolvimento e combate à pobreza.

Mas o rápido crescimento da empresa sob Marcelo Odebrecht também foi impulsionado por outro fator: a corrupção em massa.

A escala da operação de suborno da Odebrecht tornou-se tal que, em 2006, a empresa criou o Setor de Operações Estruturadas, para gerir os pagamentos ilegais.

Fonte: Revista Época

Tags:

Época
Lava Jato
Odebrecht
propina
delação

voltar

AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

COTAÇÃO