Quinta-Feira, 13 de fevereiro de 2025

Postado às 03h30 | 28 Jul 2019 | Precisamos falar sobre Alzheimer

Crédito da foto: Ilustração Alzheimer é uma doença neurodegenerativa

(*) Rodrigo Rizek Schultz

Começa mais ou menos assim: a mesma pergunta é feita várias vezes; há também uma dificuldade em acompanhar conversas e articular; sair de carro se transforma em pesadelo porque achar o caminho não é natural. Esses sinais evidenciam o primeiro e mais característico sintoma da Doença de Alzheimer, a perda de memória recente. O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca a diminuição das funções cognitivas. Em poucas palavras, as células cerebrais morrem, prejudicando a função mental. A progressão da doença acarreta em problemas mais graves, como o esquecimento de fatos mais antigos, a desorientação no espaço e irritabilidade.

Falar sobre a Doença de Alzheimer (DA) é uma questão de saúde pública. No mundo, estima-se que 50 milhões de pessoas sofram de demência – grupo de distúrbios cerebrais que causam a perda de habilidades intelectuais e sociais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a DA é responsável por até 70% dos casos de demência1. Aqui no Brasil, o cenário é particularmente desafiador. O número de indivíduos vivendo com demência deve triplicar até 2050, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde2. E o número de pacientes diagnosticados com Alzheimer deve crescer em proporção semelhante.

Ainda não há cura para a Doença de Alzheimer, o objetivo do tratamento se limita a frear os sintomas. E, com a iminência do cenário descrito anteriormente, autoridades de saúde se veem diante de uma empreitada. Trata-se de uma enfermidade de evolução progressiva e inexorável. Viabilizar soluções que melhorem a qualidade de vida de pacientes e cuidadores é essencial.

Nesse sentido, alguns passos já foram dados. Por exemplo, a ampliação do acesso aos tratamentos via Sistema Público de Saúde, contribuindo para minimizar a progressão da doença e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Há exatamente um ano, o Ministério da Saúde disponibiliza o medicamento Rivastigmina adesivo transdérmico para tratamento da Doença de Alzheimer, previsto no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT)3. O medicamento age inibindo uma enzima responsável por degradar a acetilcolina, um neurotransmissor essencial nos processos cognitivos, principalmente a memória4.

Ao administrá-lo, temos uma oferta maior de acetilcolina no organismo5. A versão oral da Rivastigmina já era oferecida no SUS, mas sua ingestão pode causar alguns desconfortos gastrointestinais, como náusea, vômito e diarreia1. A vantagem do adesivo é que a medicação é liberada gradualmente através da pele, reduzindo a possibilidade de efeitos colaterais por não passar diretamente pelo trato digestivo4.

Existem outras frentes que ainda precisam ser trabalhadas em termos de políticas públicas. A complexidade da Doença de Alzheimer demanda a atuação de equipes de diversas áreas e uma abordagem integral que facilite a interação médico-cuidador-paciente. O médico atuando sozinho, aliás, é incapaz de resolver muitas das questões relacionadas à enfermidade. As ações multidisciplinares podem interferir positivamente no tratamento, com melhoras significativas de problemas comuns como a depressão.

A Doença de Alzheimer pode não ter cura, mas, se diagnosticada no início, o tratamento adequado ajuda a impedir a progressão e amenizar os sintomas, proporcionando melhor qualidade de vida ao paciente e reduzindo o sofrimento dos cuidadores e da família. O avanço da ciência abre um caminho promissor e traz esperança para toda sociedade6.

(*) Rodrigo Rizek Schultz é neurologista e Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz)

Tags:

Alzheimer
doença
saúde
artigo

voltar

AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

COTAÇÃO