DIZ-ME COM QUEM ANDAS...
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito, afirmando que não só combateria a corrupção, como não aceitaria, sob nenhuma hipótese, conviver com malfeitos e/ou malfeitores. O discurso ajudou para o sucesso nas urnas, porque encaixou com o momento mais crítico da vida pública do país, com a Lava Jato varrendo corruptos de toda ordem e um ex-presidente da República condenado e enjaulado por crimes de corrupção.
Esperava-se dele, Bolsonaro, que quando eleito, levasse o discurso a termo. Inclusive, o presidente sofreu todo tipo de ataque dos adversários, mas seu discurso contra a corrupção permaneceu protegido, porque a sua fala contra os corruptos era tão forte que nenhum brasileiro ousava desacreditar.
Com a faixa de presidente nos peitos, depois de cruzar a rampa do Palácio e sentar no trono do poder maior, Bolsonaro dobrou a língua. A voz contra a corrupção afinou no primeiro momento que exigiu dela o mesmo tom do período eleitoral. Quando o seu filho senador Flávio Bolsonaro (PSL) foi alcançado em situação, digamos, suspeita com o ex-assessor Queiroz, o presidente disse que era coisa de adversários para atingir um filho seu. Sequer se dispôs a sugerir a apuração dos fatos para defender, no caso da inocência, ou exigir os rigores da lei no caso de culpado. Era o mínimo que se esperava dele. Decepcionou.
No momento seguinte, entregou a liderança do seu governo no Senado a um político que frequenta o Palácio do Planalto desde sempre e que tem seu nome envolvido em rumorosos casos de corrupção. O senador Fernando Bezerra, do MDB de Pernambuco, que é a antítese do discurso da ética e honestidade na vida pública. A sua ficha não deixa restar dúvidas.
Nesta quinta-feira (19), a Polícia Federal amanheceu no gabinete de Bezerra, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para vasculhar as gavetas dentro da investigação sobre recebimento de propina de empreiteira na ordem de R$ 5,538 milhões.
Antes, por ordem do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que julga as causas da Lava Jato, o senador Fernando Bezerra já havia sofrido bloqueio de R$ 258 milhões em dinheiro ou bens. A decisão foi consequência de uma ação de improbidade administrativa movida pela força-tarefa da Lava Jato.
Mesmo assim, Bolsonaro deu um chega pra lá no seu discurso contra a corrupção, e continuou com Fernando Bezerra liderando o seu governo no Senado. Mais do que isso: na primeira visita ao Nordeste como presidente, Bolsonaro desembarcou acompanhado do senador encrencado.
É certo que, até aqui, não há qualquer ato sequer suspeito praticado por Bolsonaro nem há desconfiança nesse sentido; agora, manter relações políticas, próximas que se diga, com quem frequenta o noticiário da corrupção desde tempos passados, não é decente para um presidente que prometeu combater a corrupção custe o que custar.
Fernando Bezerra foi apoiador de Lula (PT), ministro da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e foi avalista de Fernando Bezerra Filho — o primogênito também alcançado pela batida da Polícia Federal — para o cargo de ministro das Minas e Energias no governo “tampão” de Michel Temer (MDB).
Mas, por que Bolsonaro aceita a companhia de um político com uma ficha corrida como essa? A resposta é dada pela atuação de Fernando Bezerra para obter no Senado os votos para aprovação de projetos e outros interesses do inquilino do Palácio, como a indicação do filho deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) para a embaixada em Washington (EUA).
Bolsonaro sabe que o custo político é alto, mas arrisca afrouxar o discurso contra a corrupção para acomodar seus interesses meramente individuais.
Prevalece, nesse momento, a sabedoria popular: “Diz-me com quem andas que te direi quem és."
FRASE
"Estou sendo informado que ele colocou o cargo à disposição."
ONYX LORENZONI – Ministro-chefe da Casa Civil, sobre o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra.
BATE E REBATE
Os guardas civis de Mossoró iniciaram greve acusando a gestão municipal de maltratar a categoria. Entre outras coisas, reclama que está parado o processo de regulamentação ao porte de arma funcional. Em nota, a Secretaria de Segurança do município rebate e afirma que a categoria é bem atendida. Cita, como exemplo, o investimento de R$ 2 milhões na Guarda Civil em 2019.
LADAINHA
O deputado Alberto Dickson (Pros) é denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPRN) pelos crimes de peculato, falsificação de documentos e associação criminosa. Ele teria desviado R$ 2,1 milhões quando era vereador em Natal. Dickson foi alcançado pela Operação Êpa. O deputado jura que é inocente e que sofre perseguição, repetindo ladainha de outros.
FALA SÉRIO!
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), saiu com essa gaiatice: “O fundo eleitoral é necessário para equilibrar as campanhas." Como assim, se o fundo fica concentrado nos grandes partidos? Em 2018, por exemplo, oito partidos levaram R$ 1,2 bilhão do fundo de R$ 1,7 bilhão. O que sobrou foi dividido por outras 27 siglas.
DESEQUILÍBRIO
O poderoso MDB recebeu sozinho de fundo eleitoral R$ 234.232 milhões. Já o nanico PMB ficou com apenas R$ 900 mil. Como é que equilibra campanha assim? O fundo nada mais faz do que aumentar o poderio dos dinossauros da política.
REGRA PARA ELES
Os partidos poderosos ficam com quase todo o volume do fundo eleitoral porque foram eles que fizeram as regras. Quase dois terços do dinheiro vão para partidos com maior número de cadeiras na Câmara (48%) e no Senado (15%). Cabe as outras siglas dividirem as sobras.
JUDICIALIZADO
Podemos e REDE Sustentabilidade vão judicializar o processo de votação na Câmara que afrouxou as regras de fiscalização das contas partidárias e traz de volta a “caixa preta" das eleições. O Fundo Eleitoral é o foco.
É NOTÍCIA
1 - Nesta data, em 2002, era inaugurado o Centro de Abastecimento “Prefeito Raimundo Soares", a antiga Cobal. Obra da terceira gestão da prefeita de Mossoró Rosalba Ciarlini (PP).
2 - Os padres Sátiro Cavalcanti e Charles Lamartine recepcionam convidados hoje para o espetáculo de lançamento da campanha de matrícula do Colégio Diocesano 2020. “Ser Diocesano é ir além”, com o Diocecena, no Teatro Dix-huit Rosado, às 19h30. Vamos lá.
3 - A programação oficial do Mossoró Terra da Liberdade será aberta hoje, às 19h, com o Congresso Técnico da Prova Ciclística Governador Dix-sept Rosado. A tradicional prova acontecerá amanhã.
4 - O Ministério da Saúde confirmou mais 500 novos casos de sarampo no país. A maioria em São Paulo, com 3.807 casos. No Nordeste são 19 casos em Pernambuco; quatro no Rio Grande do Norte, quatro no Maranhão, um na Bahia e outro em Sergipe.
5 - Decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) obriga as unidades privadas a adaptar suas aulas para pessoas com deficiência, oferecendo ensino em língua brasileira de sinais (libras) e braile, e não podem cobrar valores extras dos estudantes.
Tags:
César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.