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Postado às 09h15 | 23 Dez 2019 | Ludimilla: “Temos para a universidade um caminho, uma alternativa”

Crédito da foto: Marcos Garcia/JORNAL DE FATO Professora Ludimilla Oliveira está no Cafezinho com César Santos

No último dia 5 de dezembro, a professora Ludimilla Carvalho Serafim Oliveira confirmou que colocará seu nome à disposição novamente na disputa pela reitoria da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), que acontecerá em 2020. A docente, que dirige atualmente o Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas, tentará pela segunda vez ser alçada ao comando da instituição. No pleito de 2016, ela não obteve êxito, tendo sido derrotada pelo então reitor e candidato à reeleição José Arimatea de Matos.

Mossoroense, Ludimilla é graduada em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), possui especialização em Direito Ambiental, Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Rede Prodema e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pelo da Universidade Federal do RN (UFRN). Considerada uma das principais intelectuais da cidade, é ainda membro da Academia Mossoroense de Letras (AMOL), da Academia de Ciências Sociais e Jurídicas de Mossoró (ACJUS), e do Instituto Histórico e Geográfico do RN (IHGRN).

Ludimilla Serafim é a entrevistada desta semana na seção “Cafezinho com César Santos”. Na conversa a seguir, a professora fala, entre outros pontos, sobre as expectativas para o futuro da Ufersa, defendendo uma nova alternativa de gestão para a universidade. Acompanhe.

A senhora, através das redes sociais, anunciou que o seu nome será colocado mais uma vez para consulta da comunidade acadêmica. Isso significa que a senhora é pré-candidata à reitora da Ufersa no pleito do próximo ano?

Sim. Eu coloquei meu nome à disposição da comunidade acadêmica e no momento que eu me coloquei, eu estou justamente dizendo que sou sim pré-candidata à reitoria da universidade.

 

A SENHORA foi candidata nas eleições passadas e se aproximou um pouco da gestão do professor José de Arimatea, houve inclusive até o interesse, talvez haja ainda, de o professor trazê-la para o seu grupo dentro da universidade. Existe um distanciamento que impede essa união, sob o ponto de vista eleitoral, da senhora com o grupo do atual reitor?

PRIMEIRO, vamos por partes, o que significa uma aproximação. Eu sou diretora de um centro acadêmico, a primeira diretora eleita do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da Ufersa. Logo após o processo de consulta em 2016, o estatuto da universidade mudou e a configuração da estruturação da universidade mudou também. Então, eu sou a primeira diretora eleita do Centro de Ciências Sociais, Aplicadas e Humanas. Após o processo, nós concluímos uma consulta, começa-se uma gestão, eu vou para o mandato eletivo, do qual faço parte desse nesses quatro anos. Eu estou eleita até 2021 como diretora do Centro de Ciências Sociais, então as tratativas com a gestão universitária, de um modo geral, elas são necessárias. Elas devem ser democráticas. Elas devem ser dialógicas, porque nós temos que tratar a universidade como ela merece, para entender e para trabalhar os interesses da universidade como um todo, então não há como ter distanciamento em uma configuração administrativa, porque nós temos que trabalhar acima de tudo para os interesses da universidade. Esse é um ponto.

E QUAL o outro?

UM OUTRO ponto é que no momento que eu me coloquei à disposição novamente como pré-candidata, lembrando que no momento não há campanha, é um momento de construção, então foi justamente para dizer o seguinte: que eu estaria me colocando, mas com uma configuração própria, o que seria uma configuração própria e não uma configuração de alinhamento? Nós temos para a universidade um caminho, uma proposta, uma alternativa e encerra-se assim o ciclo e se está começando outro, então daí a não iniciativa de aproximação, não só com um grupo, mas com nenhum grupo e sim como a formação de uma equipe, não vamos chamar grupo, mas chamar de uma equipe que pense a universidade com um novo ciclo, com um rol de propostas, pensando justamente nesse link de desenvolvimento.

 

NÓS temos na Ufersa o grupo do professor reitor José Arimatea, o ex-reitor Josivan Barbosa também pretende ir para uma candidatura outra vez. Onde é que a proposta da senhora conflita com esses grupos?

NA VERDADE, não há conflito de propostas, porque o meu partido é a Ufersa. Eu acredito que cada frente dessa pensa a Ufersa, da sua maneira. Nesse ponto não há conflitos, e sim uma intersecção, todo mundo pensando a Ufersa da sua forma, da sua maneira. Ainda não é momento ainda de nós colocarmos algumas dimensões do que concerne a campanha, mas seria uma alternativa mesmo, a proposição é que eu seja a primeira mulher reitora da Universidade Federal Rural do Semiárido. Um olhar de uma mossoroense, com certeza, já vai ser diferente. Sou de Mossoró. Nasci em Mossoró. Cresci escutando, inclusive, o resultado do vestibular de Agronomia, me emocionando com os mossoroenses. Já nasce aí o desejo de fazer uma proposta e de estar à frente da universidade, e esse desejo perpassa muitas coisas, inclusive alguns ideais ou até algumas ideias, porque eu sou de Mossoró, conheço a história de Mossoró, sei o que a Esam/Ufersa representa para Mossoró. O delineamento trabalha-se justamente nessa perspectiva.

O QUE a senhora pensa em relação à atual gestão, ao ponto de ela não atrair o seu apoio e sim o desejo de apresentar uma nova proposta para a instituição?

A ATUAL gestão está para toda a universidade, é a gestão que nós temos. Em todo e qualquer processo de gestão, não só nessa gestão, mas em qualquer ciclo de gestão, existem coisas que deram certo, que estão dando, e que consequentemente devem continuar, mesmo que com um novo ciclo, mas que quando você fecha tudo isso, você tem que pensar exatamente numa outra perspectiva, é um outro cenário. A gestão está encerrando esse processo num novo cenário. Então, é uma oportunidade que está sendo dada a qualquer um dos que se quiserem se colocar no pleito e fazer suas propostas. Não se precisa nesse momento concordar ou discordar, um ciclo está sendo continuado, então a partir daquilo de concreto que nós temos, uma avaliação do planejamento vai permitir exatamente a proposição de novas coisas ou a continuidade de algumas coisas, mas como nós, mais uma vez deixando claro, ainda não estamos no processo de campanha, nós estamos justamente numa fase em que, inclusive hoje, a universidade está decidindo o caminho da consulta universitária.

 

O QUE vem dando certo e o que não está adequado, na opinião da senhora?

AINDA é muito cedo para dizer o que está certo, o que pode continuar, aquilo que pode ser melhorado. Não é questão de não caminhar junto, acredito que toda e qualquer alternativa caminha junto porque quem fica no processo, vai trabalhar para todas as pessoas. Nós não podemos pensar a universidade de maneira distinta, com grupos distintos. Nós temos que pensar que todo e qualquer grupo, qualquer equipe que se coloque vai colocar uma alternativa, é nessa perspectiva que nós estamos pensando, até porque o nosso viés é pensar universidade de maneira democrática, o caminho mesmo é de fazer diálogo, de pensar a universidade, está na hora de pensar a universidade e não pensar as pessoas. Quando você pensa pessoas, você deixa pensar a universidade e nós temos que pensar a universidade. No momento que eu me coloco (como pré-candidata) é muito mais pelo amor que eu tenho a minha cidade. Eu sou uma mossoroense que tenho orgulho de ser de Mossoró, orgulho da nossa história.

O CONSELHO Universitário está discutindo mudanças na forma de consulta para reitor?

HOJE, o Conselho Universitário está discutindo a forma como vai modular a consulta. Não existe, de certa forma, tantas mudanças assim. Existe uma normativa em que regulamenta de um modo geral a escolha tanto dos diretores de centro como dos diretores de campi, como dos reitores das universidades de um modo geral, mas a partir dessa normativa maior, uma normativa infraconstitucional, ou seja, o regulamento dentro da instituição modula a forma como a consulta vai ser feita.

 

O PRESIDENTE Jair Bolsonaro não é muito afeito a respeitar a ordem da consulta das instituições. Ele já fez isso agora recentemente com a escolha do procurador-geral da República, em que o primeiro colocado da lista não foi o nomeado pelo presidente, e nas universidades, principalmente, ele tem mostrado que vai interferir sim. Essa postura preocupa, num momento do processo de escolha, escolha democrática que a que a comunidade acadêmica pode fazer?

SENDO bem clara e objetiva: não é para preocupar, porque a prerrogativa de nomeação sempre foi do presidente da República. Depende muito de quem está à frente da situação. Para cada caso de nomeação, nós temos um caso a ser analisado. O modo como se faz a consulta de acordo com aquela normativa, já por passar pelo Conselho Universitário, já passa por um crivo de regulamentação, então vai ser regulamentado no campo institucional, segue a lista e a prerrogativa está nas mãos realmente do presidente da República, é uma prerrogativa constitucional, que está nas mãos dele, então depende muito de cada presidente da República. É até difícil falar nessa interferência, é um paradoxo quando se coloca interferência de respeito à lista, porque quando você coloca interferência no respeito à ordem da lista, você está dizendo que há uma ilegalidade e, de certa forma é muito claro que a prerrogativa está lá, sempre as nomeações foram assim.

SEMPRE houve interferência externa no processo de escolha, na época da Esam e mais recentemente já como universidade federal. Essa interferência externa, inclusive de partidos, de grupos partidários, não é prejudicial para a vida da comunidade acadêmica?

OLHE, a universidade tem sua autonomia defendida, didática, pedagógica, administrativamente no artigo 207 da Constituição Federal, então isso já deixa muito claro que a única coisa que a universidade não tem é um partido. A universidade tem um partido, qual: formar cidadãos, trabalhar pela cidadania, promover crescimento, desenvolvimento, então qualquer coisa fora disso está no âmbito que não é constitucional. Falar disso é balizar ou até prever condições ou fatores, que a gente vai ter que analisar em cada tempo, em cada conjuntura, e aí aqui eu não tenho interesse em colocar no processo.

 

O PROCESSO de escolha é um processo político. Dentro desse prisma, como a senhora imagina construir a sua chapa dentro do cenário da Ufersa, quais grupos podem se encaixar dentro da proposta que a senhora vai oferecer à comunidade?

ISSO é algo que vai acontecer naturalmente, porque se há um lugar que um processo desse acontece com tranquilidade, é na universidade, pelo crivo de intelectualidade das pessoas que lá estão, pelo nível de escolha. A partir das alternativas que se têm, as pessoas vão se acomodando, é assim que a gente espera, com diálogo, dentro de uma linha democrática. A gente acredita que o processo tem que ser democrático, em que as pessoas têm que ter oportunidade de escolher e de se colocar dentro do perfil, não de pessoa, mas do perfil de proposta, do olhar para a universidade. A gente acredita que isso vai acontecer de maneira muito natural a partir das alternativas que ali vão se colocar.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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