Terça-Feira, 11 de fevereiro de 2025

Postado às 10h45 | 26 Dez 2019 | Coluna César Santos - 26 de dezembro

Crédito da foto: Reprodução Polarização ideológica divide o Brasil

ATMOSFERA RAREFEITA DA POLARIZAÇÃO IDEOLÓGICA

O ex-presidente Lula, de volta às ruas no apagar das luzes de 2019, provocou barulho e alterou a agenda política do Brasil. Em meio à intensa gritaria, onde o debate de ideias e/ou o simples entendimento tornam-se impossível, o que se extrai é que Lula chamou o presidente Jair Bolsonaro para dançar, e ele aceitou, porque sabe que a polarização entre os dois ajuda a fechar os portões da sucessão presidencial de 2022 para outra alternativa política.

Assim que saiu da cadeia de Curitiba, onde passou 580 dias pagando pena por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula atacou Bolsonaro e atiçou a militância, a ala mais radical, a fazer no Brasil o que a esquerda está fazendo no Chile. Se possível, provocar o caos e depositar na conta do governo do inimigo político.

Bolsonaro respondeu com teor igualmente tóxico. Palavras e ações que convidaram Lula a bailar no salão dos extremos. De olho no lance, os partidos de centro ficaram intactos, pouco ou nada produziram. De reação, apenas o levante de parte do PSL. O ex-partido do presidente ameaça dificultar relação do governo com o Congresso, numa possível aliança com o chamado “centrão”. Reconhecidamente, o Planalto é pouco competente na articulação política, o que pode ser um facilitador da ação de partidos menos radicais que tentam estabelecer faixa própria na política nacional.

Lula, pragmático, como sempre foi, tem um objetivo bem definido em mente: colocar o PT como protagonista na campanha eleitoral de 2022. Ele é consciente que a Lei da Ficha Limpa não o permitirá ser candidato, por isso, se mobiliza para redesenhar um “poste” capaz de vencer nas urnas. Daí, a importância das eleições municipais de 2020. Lula percorrerá o Brasil para ajudar o PT a eleger o maior número possível de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores e, por consequência, alimentar um nome à sucessão presidencial, que será escolhido por ele.

Bolsonaro vai fazer movimento parecido. Criou o próprio partido – Aliança pelo Brasil – que terá missão de alicerçar o seu caminho à reeleição. A pressa para oficializar e legalizar a legenda, a tempo de disputar as eleições municipais, faz parte da estratégia. O partido do presidente vai bater de frente com o PT em todos os cantos e recantos do país, numa espécie de preliminar do jogo de 2022.

Os dois políticos, Bolsonaro e Lula, apostam na velha fórmula de polarização radical, baseada no ódio e na repulsa ao outro, para estabelecer um duelo de duas torcidas. Por consequência, os partidos de centro ficam sem espaço para se apresentar ao povo com discurso equilibrado e racional.

É difícil um projeto novo encontrar espaço entre Bolsonaro e Lula para defender pautas de direita, como privatização e liberdade econômica, e algumas ideias de esquerda como as liberdades individuais e os direitos humanos. Defender maior liberdade na economia corre o risco de receber o rótulo “bolsominion”; apoiar maior distribuição de renda pode ser visto como “petralha”.

Pois bem.

A política do nós contra eles, invariavelmente sustentada pela mentira (“fake news”, para usar o termo da moda), só beneficia os extremos, dificultando, desse modo, a abertura para uma nova alternativa. Soma-se, aí, a falta de uma nova identidade para se apresentar aos brasileiros. Os nomes que surgiram até aqui não conseguiram empatia com o povo brasileiro. João Amoedo, Luciano Huck, Rodrigo Maia e João Dória – presidenciáveis do centro – parecem incapazes de atrair a atenção do País, que só têm olhos para Bolsonaro e Lula.

Seria bom que os brasileiros ouvissem as vozes moderadas, transmitidas pelos partidos menos radicais, pois permitiria o bom debate e a possibilidade de alternativas. No entanto, é pouco provável que o barulho produzido pelos batalhões de Bolsonaro e pelos radicais de Lula deixe escapar algum ruído que não seja emitido por suas arquibancadas. Bolsonaro e Lula são craques nesse jogo e contam com torcidas apaixonadas e igualmente inflamadas, sempre prontas para explodir.

Em 2020, a política brasileira continuará na atmosfera rarefeita da polarização ideológica

 

FRASE

"O Natal é o histórico e decisivo encontro de Deus com a Humanidade."

SÃO PAULO VI – Sobre o verdadeiro sentido do Natal.

 

SEGURANÇA

 A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, vai investir mais R$ 41.977 milhões em equipamentos e valorização das polícias civil e militar do Rio Grande do Norte. Os recursos são de emendas parlamentares de 2018, que estão sendo liberados agora. A Senasp já havia investido R$ 3,2 milhões em aquisição de veículos.

 

DINHEIRO DO POVO

 O presidente da Câmara Municipal de Natal, Paulinho Freire, devolveu R$ 5,5 milhões aos cofres públicos. Sobras orçamentárias. A Prefeitura da capital vai fazer uso em ações de cidadania. Para alguns, Paulinho está fazendo média porque quer compor chapa majoritária nas eleições de 2020. Mas, para a maioria, trata-se de respeito ao dinheiro do povo.

 

CAFEZINHO

 O pré-candidato a prefeito de Mossoró pelo PC do B, Gutemberg Dias, tomou o “Cafezinho com César Santos", quando admitiu reavaliar o projeto e ser candidato a vereador. Isso, porém, não afasta o seu partido da disputa majoritária. A entrevista será publicada na edição deste domingo (29).

 

RECUO

 A governadora Fátima Bezerra (PT) recuou de exigir que os municípios paguem, com receita do ICMS, a renúncia fiscal promovida pelo Proedi. Ao mandar para a Assembleia Legislativa o projeto de lei criando o programa, a governadora estabeleceu, pelo menos, o debate. As sessões extraordinárias serão realizadas amanhã e sexta-feira.

 

EM ALTA

 O ministro Sérgio Moro é eleito uma das 50 personalidades da década pelo jornal Financial Times, por sua atuação no combate à corrupção (Lava Jato). “Ele abalou o establishment político da América Latina", escreveu a publicação inglesa.

 

POIS DIGA...

 Pela primeira vez um governo brasileiro oferece indulto natalino a policiais condenados. Jair Bolsonaro, que havia prometido o indulto aos colegas de farda, diz que o seu decreto substitui “indulto salva-ladrões" de governos anteriores.

 

 É NOTÍCIA

1 - A servidora pública concursada Karina Silva dos Santos é a nova presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNE). Nomeação com o carimbo da meritocracia.

2 - Os servidores públicos estaduais passam o Natal com quatro folhas de salários atrasadas: novembro, dezembro e os décimos terceiro de 2018 e 2019. Soma-se aí que as categorias, com algumas exceções, não recebem reajuste salarial há nove anos. E vai piorar.

3 - Hoje, completa 42 anos da morte do ator, diretor, roteirista e cineasta britânico Charles Chaplin, o gênio da era do cinema mudo, que se notabilizou pelo uso da mímica e da comédia pastelão.

4 - No dezembro mais violento da história de Mossoró, que ainda não terminou, uma dona de casa e um adolescente foram mortos a tiros em menos de seis horas. Maria do Socorro Mendes, 43, e Guilherme da Silva, 17, foram abatidos sem testemunhas ou rastros.

5 - Hotéis e pousadas de Tibau não têm mais reservas para o Réveillon. Todos lotados, com preços nas nuvens. Para se ter ideia, numa pousada simples, a diária de casal chegou a R$ 500,00. O município-praia vai receber uma multidão na passagem do Ano-Novo.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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