Terça-Feira, 11 de fevereiro de 2025

Postado às 09h00 | 03 Jan 2020 | Coluna César Santos - 3 de janeiro de 2020

Crédito da foto: Ilustração O Brasil ainda necessita romper muitas correntes

UMA GRANDE NAÇÃO

Sob o título “Construindo uma grande Nação”, o jornalista Gaudêncio Torquato mergulha sua inteligência no túnel do tempo para mostrar o que se faz necessário ao Brasil em 2020:

“Ilustremos uma reflexão com três historinhas, a primeira muito conhecida.

– Condenado à morte por corromper a juventude, Sócrates, o filósofo, recusou a oferta para fugir de Atenas sob o argumento de que seu compromisso com a polis não lhe permitia transgredir as regras. Os gregos cultivavam o respeito à lei.

– Lúcio Júnior Bruto, fundador da República Romana, libertou seu povo da tirania de Tarquínio, derrubando a monarquia. Mais tarde, executou os próprios filhos por conspirarem contra o novo regime. Pregava o poeta Horácio: “Doce e digno é morrer pela Pátria”.

– Outro romano, rico e matreiro, conta Maquiavel no Livro III sobre os discursos de Tito Lívio, deu comida aos pobres por ocasião de uma epidemia de fome e, por esse ato, foi executado por seus concidadãos. O argumento: pretendia tornar-se um tirano. Os romanos prezavam mais a liberdade do que o bem-estar social.

Desses relatos, emerge a pergunta: qual dos três personagens se sairia melhor caso o enredo ocorresse dentro do cenário da política contemporânea? Sem dúvida, o terceiro. Com uma diferença: o matreiro político não seria executado por alimentar a plebe, mas glorificado, mesmo escondendo por trás da distribuição de alimentos seu projeto de poder.

Essa é a hipótese mais provável, pelo menos em nossas plagas de tradição patrimonialista.

A moldura oferece uma leitura de dois mundos. O primeiro é regrado por princípios e valores, dentre os quais se destacam o compromisso com o bem comum, a obediência às leis, a defesa da moral e da ética. Esse escopo combina com a paradisíaca ilha da Utopia, que o inglês Thomas Morus descreveu: “uma terra de paz e tranquilidade onde os habitantes não têm propriedade individual e absoluta.”

Esse Estado perfeito espelha a cidade divina em contraposição à cidade terrestre, esta afinada ao universo de Maquiavel, onde “os fins justificam os meios”. O florentino prega a noção de que o povo é dotado de razão, sendo capaz de decidir o seu destino. Sonha com a liberdade e, para conquistá-la, o príncipe deve usar os meios necessários. A lógica maquiavélica é: ideologias e valores morais devem ceder lugar aos instrumentos que podem garantir a hegemonia. Ou, na expressão de Weber, a ética da ação deve prevalecer sobre a ética da consciência.

O desenho ajuda a entender a quadra político-institucional que vivemos. Protagonistas da política, governantes, representantes e até juízes, lutam para fazer valer suas demandas. O resultado aparece na multiplicação de mazelas e velhos padrões da política.

Afinal, o que se faz necessário para que o Brasil, em 2020, comece a fortalecer seu conceito de Nação? Tentemos responder. O primeiro aspecto é: democratizar nossa democracia. Ou seja, dar vazão ao esforço para expandir a participação do povo no processo decisório, visando a aumentar a inclusão social, melhorar as condições do trabalho, proteger o meio ambiente, os direitos humanos e qualificar os serviços públicos, a partir das áreas da educação, saúde e segurança.

Urge incrementar nossa democracia participativa, convocando a sociedade para formação de um projeto nacional, evitando multiplicação de programas com foco em conveniências eleitoreiras. O Brasil clama por planos essenciais, integradores de necessidades sociais, culturais, geográficas e econômicas. No lugar de tijolos, paredes inteiriças.

E mais: a relação entre os Poderes há de ocorrer sob a égide da harmonia, respeito e autonomia, evitando tensões. Significa consolidar as funções do Parlamento, do Judiciário e do Executivo, dentro da norma constitucional, fazendo-os respeitar os espaços de cada um.

Impõe-se valorizar a meritocracia e atenuar a carga das indicações assentadas na vida partidária. Significa selecionar perfis adequados para as estruturas governativas. Aristóteles dá uma pista: “Quando diversos tocadores de flauta possuem mérito igual, não é aos mais nobres que as melhores flautas devem ser dadas, pois eles não as farão soar melhor; ao mais hábil é que deve ser dado o melhor instrumento”. Isso é mérito. É claro que demandas partidárias devem ser contempladas, mas com critério, respeitando-se o princípio: partidos que ganham devem participar da administração.

Por último, a lembrança de que uma grande democracia repousa sobre uma base de direitos e deveres, de ordem e harmonia, de ética e moral.”

 

FRASE

"Democracia repousa sobre uma base de direitos e deveres, de ordem e harmonia, de ética e moral."

GAUDÊNCIO TORQUATO – Jornalista, consultor político e professor titular da USP.

 

TÚNEL DO TEMPO

 Nesta data, em 1974, o Município de Mossoró adquiria o prédio do Colégio Diocesano, na Praça Vigário Antônio Joaquim. Iniciativa do prefeito Dix-huit Rosado, para possibilitar a construção da agência-sede do Banco do Brasil, na época gerenciado por Francisco Obery Rodrigues. O negócio teve a bênção do bispo dom Gentil Diniz Barreto e do monsenhor Américo Simonetti.

 

COLETÂNEA

 Saiu do prelo a primeira edição do livro “Espaço Jornalista Martins de Vasconcelos". Trata-se de uma coletânea de artigos de opinião publicados na página 2 do JORNAL DE FATO, sob a organização dos escritores Clauder Arcanjo, David Leite e Johann Freire. O livro tem o selo da editora Sarau das Letras. O conteúdo da coletânea está de altíssimo nível.

 

PIOR

 A deputada Natália Bonavides (PT) fechou o primeiro ano de mandato com um fiasco de atuação. A parlamentar ficou na 580ª posição com 309 pontos negativos no "Ranking dos Políticos". É a pior posição entre os parlamentares do RN. Entre os critérios analisados, Natália teve o pior rendimento na “qualidade legislativa" com menos 345 pontos.

 

MELHOR

 Já o senador Styvenson Valentim (Podemos), também estreante, teve o melhor desempenho na bancada potiguar, com 313 pontos positivos. No geral, o senador ficou na 64ª posição. Veja reportagem completa na página de política - 3.

 

CAIXA

 A Prefeitura de Mossoró renegociou a conta única do Município com a Caixa Econômica Federal (CEF), por um valor de R$ 11,2 milhões. Além disso, encurtou o caminho para a aprovação da operação de crédito de R$ 150 milhões, via Finisa.

 

SEGUE

 A prefeita Rosalba Ciarlini disse que o contrato de crédito com a Caixa Econômica será assinado neste mês de janeiro. Lembrou que os recursos já poderia ter sido disponibilizados, não fosse a ação da oposição que acionou a justiça contra o investimento de R$ 150 milhões.

 

 É NOTÍCIA

1 - A governadora Fátima Bezerra (PT) lança hoje a Operação Verão 2020, às 10h, no posto de Comando da Polícia Rodoviária Estadual (CPRE), localizado na Rota do Sol (RN-063), em Pium.

2 - A Mega da Virada teve arrecadação recorde de R$ 1 bilhão. O prêmio de R$ 304 milhões saiu para duas apostas de São Paulo (SP), uma de Criciúma (SC) e outra da cidade de Juscimeira (MT), de apenas 4 mil habitantes. Dezenas sorteadas: 03 - 35 - 38 - 40 - 57 – 58.

3 - A temporada das grandes festas em Tibau começa hoje com o “Verão das Antigas", no Clube Álibi. Show com a baiana Margareth Menezes, com a forrozeira Eliane, André Luvi e Municipal Santos.

4 - Sai ano e entra ano e a Caern continua castigando o consumidor. Nesses primeiros dias de 2020 a água faltou nas torneiras dos moradores dos bairros Liberdade, Alto do Sumaré, Dom Jaime Câmara, Planalto 13 de Maio e Ilha de Santa Luzia, em Mossoró.

5 - O portal de notícias No Ar, de Natal, encerrou as suas atividades nesta quinta-feira (2). Estava no ar havia sete anos, fazendo o bom jornalismo. O comunicado da diretoria foi feito para leitores e anunciantes, sem revelar maiores detalhes. Uma pena.

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Coluna César Santos
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Mossoró
Rio Grande do Norte

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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