Segunda-Feira, 10 de fevereiro de 2025

Postado às 07h15 | 02 Fev 2020 | ‘Estou preparado para assumir a gestão máxima da universidade’

Crédito da foto: Marcos Garcia/JORNAL DE FATO Professor doutr Rodrigo Codes no Cafezinho com César Santos

Dando sequência à série de entrevistas com os pré-candidatos à reitoria da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), o quadro “Cafezinho com César Santos” desta semana recebe o professor doutor Rodrigo Nogueira de Codes, atual pró-reitor de Graduação da universidade e nome que será apoiado pelo reitor José de Arimatea de Matos.

Rodrigo Codes ingressou na Ufersa em 2010 e, desde setembro de 2016, chefia uma das principais pró-reitorias da instituição. O professor possui dupla graduação: em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em Engenharia Generalista pela Ecole Centrale de Lyon da França. É ainda mestre em Engenharia e Ciência de Materiais pela UFC e doutor em Engenharia Mecânica e de Materiais na Ecole Normale Supérieure de Cachan, na França.

Na entrevista a seguir, Rodrigo Codes afirma estar preparado para assumir a gestão máxima da Ufersa, comenta o fim da paridade no processo de consulta à comunidade acadêmica, destaca que sua expectativa é ficar em primeiro lugar na lista tríplice que definirá os nomes que serão encaminhados ao presidente Jair Bolsonaro para escolha do próximo reitor e apresenta algumas das propostas que serão detalhadas durante a campanha que se aproxima. Acompanhe.

O senhor aceitou o convite do reitor José de Arimatea para se colocar como pré-candidato a reitor da Ufersa?

Sim. Estamos na gestão da Ufersa há quase três anos e meio, na condição de pró-reitor de Graduação, mas na gestão acadêmica já há quase sete anos, pois estive à frente por dois mandatos do Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas, que depois se tornou o Centro de Engenharias, que é o maior centro da nossa instituição em número de professores. Aceitei o convite, uma proposta de continuidade dentro do processo de consolidação da nossa Ufersa, que vai completar 15 anos, então dentro desse processo, com o objetivo central na busca de qualidade e da excelência acadêmica, nós nos colocamos à disposição da comunidade acadêmica para disputar a reitoria, para a gestão 2020/2024.

 

O REITOR José de Arimatea foi eleito com apoio do então reitor Josivan Barbosa, depois foi reeleito. No discurso de campanha, ele disse que era preciso dar continuidade ao projeto iniciado por Josivan, o primeiro reitor da Ufersa. O tempo passou. A questão do discurso, de dar continuidade à gestão, baseado nesse tempo, o senhor não acha que pode ser um discurso prejudicado?

EXISTE a questão da continuidade, mas ao mesmo tempo é uma nova gestão. Nós estamos num processo de avaliação dos pontos positivos ao longo da gestão, principalmente da segunda, que foi da qual eu fiz parte, mas ao mesmo tempo avaliamos os pontos que a gente pretende inovar e colocar como proposta de uma nova gestão pra nossa universidade. Nós partimos de princípios e fundamentos. O primeiro deles é na defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, inclusiva, plural e com inserção social, esse é um ponto fundamental. Segundo momento: em defesa da autonomia universitária. Acho que é importante a gente colocar a partir desses princípios. E nós pretendemos, evidentemente, realizar uma gestão com planejamento estratégico e com muita responsabilidade na gestão do orçamento das finanças. Nós tivemos um ano de 2019 em que em determinado momento houve um contingenciamento no custeio da universidade de 36%, então essa responsabilidade com a gestão dos recursos é muito importante. Nós queremos realizar realmente uma gestão com mais participação da comunidade acadêmica, uma gestão por demandas.

O SENHOR está há quase 10 anos na Ufersa, três anos e meio enquanto pró-reitor de Graduação. O senhor acredita que esse pouco tempo na gestão não é um empecilho na disputa pelo cargo de reitor?

EU ACREDITO que não. Nós temos uma formação sólida, estamos na Ufersa há quase dez anos, participamos da gestão máxima há três anos e cinco meses, aproximadamente, mas há quase sete anos contribuindo, participando da gestão acadêmica da universidade, então acredito que a minha formação, a minha trajetória dentro da universidade me leva a ter uma segurança, a crer que estou sim preparado para assumir a gestão máxima da universidade.

 

O SENHOR citou a questão da autonomia. Hoje, o país tem um presidente que não faz muita questão de esconder que ele quer mudanças nas gestões das universidades, um pensamento diferente do que tinham gestores anteriores. Essa sua defesa de autonomia bate de frente com o que pensa o presidente Jair Bolsonaro?

DE JEITO nenhum. Na realidade, a questão da autonomia é algo que está descrito na Constituição e nós pensamos, por exemplo, a autonomia no sentido de realizar realmente uma gestão plural, porque a universidade ela é plural e deve ser plural. Nós pensamos que o debate dentro da universidade é muito importante e a consulta à comunidade acadêmica é o ponto alto, onde a gente tem uma grande oportunidade de ter um debate qualificado, de mostrar para a universidade propostas para o que nós queremos para a Ufersa nos próximos quatro anos.

O PROFESSOR Rodrigo Sérgio, que até bem pouco tempo respondia pela pró-reitoria de Extensão e Cultura e foi exonerado, é também pré-candidato à reitoria da Ufersa. Como o senhor vai enfrentar essa campanha, com possíveis candidatos que fizeram parte do próprio sistema que hoje administra a Ufersa?

A QUESTÃO da exoneração, isso já estava até previsto, uma vez que o reitor colocou o nosso nome à disposição, eu encaro isso na maior naturalidade. Temos que realmente discutir dentro do debate qualificado propostas para a universidade. Quando eu coloquei a questão de uma gestão que nós queremos realizar, por demandas, é uma gestão bastante participativa. Nós como avaliadores do Ministério da Educação também, a gente se baseia muito nas avaliações externas, na alta avaliação da universidade, então, a nossa proposta central é sempre em busca da qualidade e da excelência acadêmica. Os nossos cursos de graduação, por exemplo, falando na condição de pró-reitor de Graduação, eles são avaliados de três em três anos, e os cursos que não passam por avaliações pelo Enade passam por avaliações in loco, por avaliadores do MEC. Nesse sentido, a intenção é realizar essa gestão com a participação efetiva da comunidade, direcionar a elaboração de planos trienais, dentro da organização didático-pedagógica ou da questão dos nossos professores e técnicos, ou ainda também na dimensão da infraestrutura. E nesse sentido, cada grupo, cada departamento, cada colegiado de curso, elencar quais são as prioridades realmente para que a gente possa fortalecer todos os cursos, todas as áreas da universidade, e a gestão de posse disso tudo, nós teremos como realmente utilizar da melhor forma possível os nossos recursos para que a gente possa estabelecer prioridades e dessa forma fortalecer e melhorar os nossos índices.

 

O GOVERNO Federal editou a medida provisória 914, que estabelece regras para o processo de escolha dos futuros reitores. Houve uma reação imediata, inclusive da união dos reitores. Como o senhor analisa essa MP? O senhor acha que ela pode prejudicar o processo democrático de escolha dos reitores das instituições federais?

SÃO três pontos que a gente analisa. O primeiro ponto é que definitivamente a consulta ela será formal. O segundo ponto é que infelizmente, nós não teremos mais a paridade. A paridade foi uma conquista e nós tivemos uma consulta com paridade, que foi justamente a última, com a participação efetiva das três categorias, docentes, discentes e técnicos administrativos, esse é um ponto que, infelizmente, a consulta não será mais paritária. O terceiro ponto que a gente analisa é a questão dos diretores de centro e diretores de campus, que de acordo com a medida provisória, serão escolhidos e nomeados pelo reitor. A nossa opinião com relação a isso é que a escolha, se a gente conseguir realmente chegar até a gestão máxima, nós nos comprometemos com a comunidade que a escolha será feita mediante uma consulta, porque nós acreditamos na comunidade de cada centro, na legitimidade da escolha de um gestor de uma unidade pela comunidade acadêmica. Reforçando mais uma vez que o nosso principal objetivo é ficar em primeiro lugar da lista tríplice.

ESTANDO na lista tríplice, cabe ao presidente a escolha, definição de quem será o próximo reitor. Do ponto de vista político, como o senhor tem atuado visando essa possível nomeação?

PARA nós, o mais importante é no primeiro momento chegar ao primeiro lugar da lista tríplice. No segundo momento, o reitor Arimatea até já colocou a proposta de reunir a bancada parlamentar e solicitar que a escolha da comunidade acadêmica seja respeitada, independente de quem seja. Analisando todas as últimas nomeações, nós tivemos um determinado momento realmente em que houve, salvo engano, seis instituições em que o primeiro colocado da lista não foi nomeado, mas nos últimos meses em todas as últimas nomeações felizmente o primeiro da lista, ele tem sido nomeado. Então, a gente espera também que no nosso processo, o primeiro da lista seja nomeado.

 

A UFERSA, que ainda é jovem sob o ponto de vista de universidade federal, foi criada em 2005, são 15 anos, muito embora a sua história seja muito mais intensa, a partir da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM). Houve, de fato, uma expansão significativa em infraestrutura, criação de campus, mas em detrimento disso, na questão da pesquisa, ela ficou a desejar, os investimentos foram bem menores do que os investimentos em infraestrutura. O senhor defende uma mudança de rumo da universidade, sob esse ponto de vista de investimentos?

COM relação à pesquisa, nós tivemos nessa última gestão vários editais temáticos que foram propostos na Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação no sentido de fortalecer a pesquisa. Por exemplo, nós tivemos editais para publicação de artigos científicos, que por vezes eles custam muito caro, então os pesquisadores tiveram esse incentivo. Tivemos um incentivo também de qualificação e capacitação de docentes, seja no exterior e também em outras partes do país, que foi muito importante para impulsionar as nossas pesquisas. Tivemos um edital muito importante mais recentemente, que diz respeito à manutenção de equipamentos de laboratórios. Então, acredito que nós avançamos muito sim na pesquisa. A nossa pós-graduação em fitotecnia atingiu o conceito seis na Capes, que é um conceito de excelência internacional. Temos docentes visitantes do exterior. Temos estudantes que estão indo ao exterior. Queremos uma direção para fortalecer a pesquisa e a inovação. Um dos pontos que até vou colocar aqui é que o reitor vai buscar esses investimentos também junto ao Ministério da Educação, no sentido de a Ufersa ter um espaço que chamamos de um hub de inovação.

O QUE seria o hub de inovação?

É UM espaço em que a gente coloca, juntos, as startups, as propostas de criação de empresas dentro da inovação tecnológica, mas também médias e grandes empresas, investidores. Então, a universidade, ela deve sim proporcionar esses espaços e aí eu vou mais além, para a questão do empreendedorismo. Nós tivemos um grande aumento no número de empresas juniores. A gente vê o brilho nos olhos dos discentes da possibilidade de participar dessas ações, onde já estão sendo desenvolvidos muitos projetos e a nossa intenção realmente é de fortalecer o empreendedorismo dentro da universidade. Acredito que para a formação discente, além da pesquisa, do ensino, a questão do empreendedorismo é muito importante. Vou tocar no ponto também que é a internacionalização, a nossa proposta é de expandir a internacionalização. Metade da minha formação acadêmica foi no exterior, na França, Noruega também como estágio, então eu acredito sim que a internacionalização é muito importante, e a gente precisa fortalecer. Nessa gestão foi criada, por exemplo, o Celis, que é o Centro de Línguas do Semiárido, que é uma ação que precisa ser fortalecida para que os nossos estudantes possam sim ir ao exterior, porque vale ressaltar que ano passado, a Ufersa passou a fazer parte do Times Higher Education, o que significa que, com muito orgulho, nós somos hoje um dos melhores lugares do mundo para se estudar, isso tem que ser enfatizado. Os números, os avanços são importantes para que a gente venha cada vez mais a incrementar, aumentar os nossos índices de qualidade e nos fortalecer no cenário nacional e, também, internacional.

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AUTOR

César Santos é jornalista desde 1982. Nasceu em Janduís (RN), em 1964. Trabalhou nas rádios AM Difusora e Libertadora (repórter esportivo e de economia), jornais O Mossoroense (editor de política no final dos anos 1980) e Gazeta do Oeste (editor-chefe e diretor de redação entre os anos 1991 e 2000) e Jornal de Fato (apartir dos anos 2000), além de comentarista da Rádio FM Santa Clara - 105,1 (de 2003 a 2011). É fundador e diretor presidente da Santos Editora de Jornais Ltda., do Jornal de Fato, Revista Contexto e do portal www.defato.com.

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